A Galp Energia já foi avisada de que uma carga de Gás Natural Liquefeito da Nigéria prevista para o final de outubro será afetada, não sendo ainda claro se a entrega falhará ou se chegará atrasada. Já para novembro, não existe indicação, indicou o presidente executivo Andy Brown esta segunda-feira numa conferência com analistas após os resultados do terceiro trimestre.
Resultados da Galp saltam 86% para os 608 milhões de euros até setembro
A Galp está a comprar gás em fontes alternativas a “preços razoáveis”. De acordo com informação dada aos analistas, a empresa já conseguiu comprar a maior parte dos volumes que necessita para substituir o GNL nigeriano, recorrendo ao gás de gasoduto (em vez de GNL) cujo preço está mais baixo na Europa, um reflexo do elevado nível de armazenamento na generalidade dos países. Para além do GNL que chega de barco ao terminal de Sines, Portugal é abastecido pelo gasoduto que vem da Argélia e atravessa Espanha.
O presidente executivo da Galp admite que, neste momento, o impacto poderá ser inferior ao previsto na apresentação dos resultados, o qual apontava para perdas de 40 a 50 milhões de euros que resultariam da necessidade de comprar gás mais caro em mercado para fornecer os clientes que teriam sido abastecidos com o GNL nigeriano.
O contrato da Nigéria abastece o mercado regulado de gás e a central da Tapada do Outeiro que vende energia ao sistema elétrico a um preço fixo, que este ano foi muito inferior ao registado no mercado grossista. O contrato de aquisição de energia entre esta central e o sistema elétrico termina em 2014.
Andy Brown desvalorizou também o impacto financeiro para a Galp da decisão do Governo de mudar a lei para permitir o regresso aos clientes domésticos e pequenos negócios à tarifa regulada de gás natural. “Foi inesperado”, afirmou porque não estava em linha com as regras portuguesas e europeias e o CEO da Galp repete críticas que já fez a esta decisão.
“Não achamos apropriado que o Governo nos obrigue a vender gás a mais clientes a um preço que não temos”. Mas o impacto financeiro em 2022 não é significativo, porque o número de clientes a regressar à tarifa regulada é baixo. Já para 2023, dependerá do cumprimento das entregas por parte da Nigéria, mas também do processo de revisão de preços que está em curso e cujo impacto pode atingir os clientes da tarifa regulada de gás, como aliás o gestor há tinha avisado.
Galp avisa quem regressa ao mercado regulado que preços do gás também podem subir
O presidente executivo da Galp admitiu que este ano, a Galp teve quase todos os trimestres “uma má notícia” para transmitir aos investidores devido às falhas nas entregas de gás por parte da Nigéria. “E não é fácil para um presidente executivo”, reconhece, referindo ainda as mudanças introduzidas na gestão deste negócio por uma menor rigidez nos preços propostos aos clientes. E acredita que no próximo ano “vamos ter um caminho mais fácil” e “ganhar dinheiro no gás em vez de perder”, mas infelizmente “não vou estar cá para ver”, numa referência à sua saída no final do ano da presidência da Galp.
De saída, Andy Brown diz que a Galp se transformou , mas ainda tem passar a mensagem aos portugueses
E as primeiras palavras ainda antes das perguntas foram dedicadas à sua saída no final do mandado após dois anos à frente da Galp. Sem explicar os motivos para não fazer um novo mandato, o gestor recorda que foi convidado terminar o mandato de Carlos Gomes da Silva, tendo para tal interrompido a reforma — após uma carreira de 35 anos na Shell — e abandonado cargos não executivos que tinha em outras empresas.
Nestes dois anos, Andy Brown considera que a empresa fez uma transformação. Transformação na operação e no portefóleo — com a expansão das renováveis, a entrada no hidrogénio e nas baterias e a reconversão de Matosinhos, mas também em componentes menos visíveis a nível da organização interna e da profissionalização da gestão. A empresa recrutou quadros a nível internacional mudou as diretorias para a tornas mais responsáveis e dinâmicas.
A Galp, disse, “tem pessoas extraordinárias e ativos de primeira classe”, mas ainda há muito caminho a percorrer. É preciso “passar a nossa mensagem de transição às pessoas em Portugal” que ainda olham para a Galp como uma empresa de gás e petróleo. “Queremos estar do lado certo da história, mas ainda é uma história que estamos a contar”.
Recusando tecer considerações sobre o seu sucessor indicou que deve ser alguém capaz de prosseguir a viagem, garantindo ainda que com a sua saída “não há mudança de estratégia”.