Foi finalmente anunciada a proposta da Comissão Europeia para o Euro 7, a norma que vai regular as emissões poluentes dos automóveis, furgões comerciais e veículos pesados, camiões e autocarros, à venda nos países da União. Esta proposta tem ainda de ser ratificada, o que promete ser um mero pró-forma que permitirá ao Euro 7, agendado para 2025, substituir o Euro 6, introduzido em 2014, tendo o Euro 1 surgido em 1992.

Ao anúncio da nova norma antipoluição seguiram-se críticas por parte de alguns fabricantes, enquanto outros elogiaram, estes últimos alinhando pela posição defendida pelas organizações ambientais. Os críticos apontaram o incremento dos custos de produção dos veículos como a consequência mais nefasta do Euro 7, o que aumentará o preço final para os clientes. Mas a Comissão recorda que quatro anos depois da entrada em vigor do Euro 6, em 2018, ainda morreram 300.000 pessoas nos países da União (a 27) por doenças provocadas pela má qualidade do ar, especialmente nas grandes cidades, 70.000 das quais devido às acções nocivas dos óxidos de azoto (NOx) e das partículas. E os veículos são, efectivamente, o principal poluidor nas cidades e arredores.

Os sistemas destinados a aspirar o pó dos travões já existem, mas são sofisticados e caros

Gasolina igual a gasóleo e carros a camiões

No novo Euro 7 salta à vista a componente democrática, que é como quem diz, a igualdade finalmente concedida aos motores a gasolina e a gasóleo. Se até aqui, com o Euro 6, os diesel podiam emitir 80 mg/km de NOx, enquanto os motores a gasolina estavam limitados a 60 mg/km, com o Euro 7 é tudo corrido a 60 mg, o que implica uma redução de 25% para os motores a gasóleo.

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Os testes de emissões em condições reais de utilização vão aproximar as medições de homologação da realidade

E já que estava com a mão na massa, Bruxelas foi mais longe e nivelou os furgões e camiões pelos automóveis, impondo os mesmos limites para todos. A única diferença reside no facto de os automóveis serem obrigados a respeitar o Euro 7 em Julho de 2025, ao passo que os comerciais e veículos pesados vão ser obrigados a respeitar a mesma norma dois anos depois, em Julho de 2027.

Dobro da vida útil e testes mais exigentes

Com o Euro 7, os veículos a homologar têm de incrementar a sua fiabilidade consideravelmente, isto porque passam a estar obrigados a funcionar correctamente e a respeitar os limites de emissões durante 10 anos e 200.000 km, em vez dos 5 anos e 100.000 km impostos pelo Euro 6. Isto requer sistemas mais robustos e dispendiosos, a nível dos filtros de partículas, catalisadores tradicionais e catalisadores selectivos com AdBlue, o que fará disparar o preço dos veículos.

O desgaste dos pneus produz microplásticos, absorvidos pelas plantas e pelos animais, que os humanos acabarão por ingerir. Estudos avançam que comemos, em média, o equivalente a um cartão de crédito por dia

Paralelamente, os testes de homologação passam a ser realizados sob temperaturas mais exigentes, nomeadamente a 45ºC em vez de 35ºC. Mais importante será o facto de ser incrementado o recurso aos dados recolhidos pelos veículos em condições reais de utilização, sem ser exclusivamente durante os testes de homologação realizados em bancos de ensaio sobre rolos.

Igualmente importante é a obrigatoriedade do teste de determinação dos poluentes passar a incluir deslocações curtas, em que o veículo quase não tem a possibilidade de atingir a sua temperatura ideal de funcionamento. Isto obriga a considerar as emissões durante o ciclo de aquecimento, que é de longe a fase mais poluente de qualquer motor. Satisfazer esta exigência requer formas mais eficazes para aquecer os catalisadores, provocando mais um incremento no preço dos veículos.

Abriu a caça às partículas dos travões e dos pneus

Esta é uma das principais novidades introduzidas pelo Euro 7: as partículas lançadas para o ar pelos travões e pelos pneus vão passar a ser consideradas pelo seu efeito nefasto. Os travões essencialmente transformam energia cinética em calor por efeito da fricção e, no processo, causam desgaste sobretudo no material das pastilhas de travão, que se transformam num pó extremamente fino, responsável por graves doenças pulmonares.

Os pneus, que como todos sabemos não duram para sempre, desgastam-se à medida que rolam. Os pisos mais abrasivos incrementam este desgaste, tal como acontece com as travagens e as solicitações em curva. O resultado é a produção de microplásticos que ficam para trás para, com ajuda da chuva e do vento, irem parar aos cursos de água e depois ao mar onde servem de alimentos aos peixes que depois vamos ingerir. E os estudos afirmam que cada ser humano ingere entre 74.000 e 114.000 microplásticos por ano, à média de até 5 gramas por dia, o que equivale a um cartão de crédito. A necessidade de equipar os veículos com sistemas para aspirar as partículas dos travões e dos pneus também vai contribuir para o aumento do preço final dos automóveis.

Eléctricos vão ter baterias que duram mais

Os eléctricos também são contemplados nas novidades introduzidas pelo Euro 7. Tal como os veículos equipados com motores de combustão, também os modelos equipados exclusivamente com motores eléctricos são abrangidos pela necessidade de aspirar e armazenar as poeiras produzidas pelo desgaste dos travões, apesar de os veículos eléctricos serem muito menos exigentes por recorrerem à regeneração de energia na desaceleração e travagem. O mesmo acontecendo com os pneus e os microplásticos que geram.

Mas nem tudo são más notícias para os eléctricos que, a partir de 2025, vão usufruir das mesmas directrizes dirigidas aos modelos de combustão. A começar por terem de montar baterias com uma vida útil superior, sem perder demasiada capacidade. Os dados específicos ainda não são conhecidos, mas o objectivo da Comissão Europeia é prolongar a vida das baterias em condições de capacidade próximas do ideal, de forma a que os utilizadores deste tipo de veículos não se vejam obrigados a trocar de acumulador. Isto não só é bom para a carteira de quem compra o carro, como para o ambiente, uma vez que não obriga à mineração de mais matérias-primas destinadas a produzir uma nova bateria de substituição.