Os pedidos para apoio ao pagamento de rendas, medicamentos ou faturas de luz e gás aumentaram neste último semestre de 2022 em Vila Real, devido ao agravamento do custo de vida, segundo a câmara e a Cáritas.
Cristina Melo, 46 anos, é uma das beneficiárias do programa de apoio ao arrendamento concedido pelo município.
“É uma ajuda de 95 euros, que faz muita diferença para um salário de 730 euros“, afirmou, especificando que a renda de casa é de cerca de 300 euros.
Cristina Melo contou que a sua situação económica ficou ainda mais difícil devido ao aumento generalizado dos preços e das despesas. Para ajudar, para além do trabalho como administrativa, trabalha ainda em part-time ao fim de semana.
Tem uma filha, já licenciada, mas a quem ainda dá uma ajuda, e tem também a mãe a viver consigo.
“Não sobra dinheiro. É ir às compras, marcas branca e trazer o essencial e nada mais. É mesmo tentar gerir para que ele (dinheiro) chegue até ao fim do mês”, referiu.
A vereadora do pelouro da Ação Social, Mara Minhava, disse que quem tem recorrido à câmara são famílias “de classe média baixa que, de repente, deixaram de conseguir fazer face às despesas”.
Pessoas empregadas, mas que por causa da inflação, do aumento dos preços e da perda do poder de compra estão a ter dificuldade em fazer face às despesas.
De acordo com a vereadora, o município está a ajudar atualmente 120 famílias com esta medida de apoio ao arrendamento e, segundo anunciou, o programa vai ser reforçado em mais cerca de “10% a 20%” em 2023.
Mara Minhava afirmou que também vai ser reforçado o financiamento do Fundo de Emergência Social Municipal, que permite um apoio financeiro excecional e temporário a agregados familiares carenciados, em emergência social grave, designadamente no âmbito da habitação, carência alimentar, dos cuidados de saúde e do apoio à educação das crianças e jovens.
“É para situações emergentes, que as pessoas não estão a contar. Por exemplo, uma criança que parte os óculos e os pais não conseguem pagar”, exemplificou.
Estas duas medidas são, segundo a responsável, as que estão a ter mais procura.
“A situação está a agravar-se”, afirmou Carlos Martins da Cáritas Diocesana de Vila Real, que especificou que os pedidos de ajuda estão a aumentar e, ao mesmo tempo, há também uma maior dificuldade por parte dos doadores.
O responsável disse que se nota um aumento das solicitações no último semestre de 2022, o que considera ser uma consequência do aumento generalizado dos preços e do agravamento da situação socioeconómica do país.
Este ano, 95 famílias já recorreram aos apoios pontuais e urgentes da instituição, para pagamento de faturas de água, luz, gás, medicação ou rendas.
“Os maiores pedidos neste momento são para medicação”, afirmou Carlos Martins.
De acordo com o responsável, desde o início do ano chegaram à instituição 30 pedidos de ajuda para o pagamento de uma renda, tendo a Cáritas conseguido dar resposta a 14. A maior parte dos pedidos (19) foram feitos já neste último semestre de 2022.
A Cáritas atribui ainda vales para aquisição de bens essenciais a 71 agregados familiares.
Carlos Martins destacou ainda o aumento dos pedidos de apoio por parte de famílias de estrangeiros, migrantes e refugiados.
No primeiro semestre, a instituição atendeu 93 famílias de outras nacionalidades e, no segundo semestre, já foram atendidas 131 famílias, maioritariamente provenientes do Brasil (109), mas também Angola, Argélia, Cabo Verde, Marrocos, Nigéria, Ucrânia e Venezuela.
Os estrangeiros pedem ajuda para o pagamento de, por exemplo, faturas, medicação, bens alimentares e ainda roupas quentes para o inverno (cobertores, lençóis).