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Quando o Papa Bento XVI aterrou em Lisboa, no dia 11 de maio de 2010, a Igreja Católica a nível global estava profundamente mergulhada na crise dos abusos sexuais de menores. Entre 2009 e 2010, os escândalos que tinham vindo a público na Irlanda obrigaram Bento XVI a escrever a sua célebre carta pastoral aos católicos irlandeses, um documento duríssimo no qual lançou as bases para uma política de tolerância zero para lidar com o problema.

No voo entre Roma e Lisboa, a crise dos abusos foi um dos principais temas da habitual conferência de imprensa a bordo. “A maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja”, admitiu Bento XVI naquela ocasião, com palavras que seriam recordadas várias vezes nos anos seguintes para contar a história de como a Igreja aprendeu a lidar com o problema dos abusos de menores. “A Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender por um lado o perdão, mas também a necessidade de justiça. O perdão não substitui a justiça.”

[Leia aqui o perfil completo de Joseph Ratzinger]

Bento XVI. O teólogo rebelde que transformou a Igreja

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A viagem de Bento XVI, que passou por Lisboa, Fátima e Porto, era essencialmente dedicada aos pastorinhos de Fátima, uma vez que se completavam naquela altura dez anos desde que Francisco e Jacinta tinham sido beatificados.

Ainda assim, a visita de quatro dias incluiu encontros com o Presidente da República, Cavaco Silva, uma enorme missa no Terreiro do Paço, em Lisboa, um encontro cultural no CCB, uma série de celebrações no Santuário de Fátima e ainda uma outra grande missa na Avenida dos Aliados, no Porto.

Logo à chegada a Lisboa, no dia 11 de maio, Bento XVI fez um breve discurso no aeroporto da capital portuguesa para saudar o país pelo centenário da Implantação da República, que se assinalou em 2010. “A viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas Concordatas de 1940 e 2004  formalizariam, em contextos culturais e perspetivas eclesiais bem demarcados por rápida mudança”, disse Bento XVI já em solo português.

No segundo dia da visita, reuniu-se com artistas, cientistas e figuras da cultura no CCB, em Lisboa. No discurso, saudou Manoel de Oliveira, citou Camões e pediu um diálogo mais eloquente entre a Igreja e o mundo cultural.

Já em Fátima, Bento XVI presidiu à procissão das velas e à missa do dia 13 de maio, mas também se reuniu com as organizações de ação social da Igreja em Portugal, a quem pediu que se evitasse a tentação do “lucro fácil e fascinante”, que acarreta o risco de esvaziar os projetos sociais de “motivação da fé e da esperança cristã”.

Antes de ser eleito Papa, o cardeal Joseph Ratzinger já tinha passado uma outra vez por Fátima: em outubro de 1996, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger esteve no Santuário de Fátima a presidir às celebrações da peregrinação internacional daquele mês.