Que a escolha de um automóvel é eminentemente emocional, poucos discutem. Já se é possível ou não estabelecer uma relação entre o calibre do modelo adquirido e o tamanho do pénis do condutor é outra conversa. Uma conversa que agora tem novo motivo para dar que falar, pois investigadores do Departamento de Psicologia da University College London (UCL), no Reino Unido, concluíram que os automóveis desportivos – modelos baixos, esguios e potentes – podem servir para “aliviar”, por parte do proprietário, um pénis pequeno. Ter uns centímetros abaixo do que seria considerado “normal”, ou simplesmente a existência do complexo peniano, pode levar os homens a compensar aquilo que julgam ser uma fraca dotação com o desejo de comprar um carro indiscutivelmente potente e virado para a performance (não a sexual). Esta foi a principal conclusão a que chegaram os investigadores britânicos, com base nas respostas fornecidas por uma amostra de 200 homens, entre os 18 e os 74 anos de idade.
Não é de agora que a relação entre o carro que se conduz e o comprimento fálico dá azo a relações pejorativas, sobretudo no universo masculino e entre pares. Mas esta relação (de longa data) ganha agora uma sustentação científica que tem a particularidade de ter sido obtida levando os homens ao engano. Literalmente. “Fizemos os participantes do sexo masculino acreditarem que tinham um pénis relativamente pequeno ou grande, dando-lhes falsas informações sobre o tamanho médio de outros homens”, resumem os investigadores Joseph T. Devlin, John S. Hogan e Chuck Thompson, liderados pelo psicólogo experimental Daniel C. Richardson.
A manipulação não engana: está tudo na cabeça
A pesquisa passou depois por tentar perceber se havia uma relação psicológica entre a percepção (certa ou errada) de ter um pénis pequeno e o desejo de comprar um desportivo e outros bens de luxo. A amostra foi dividida em dois grupos, tendo um recebido a indicação de que, em média, o pénis mede 18 cm. Ao outro grupo foi passada uma outra medida: 10 cm. De referir que estas informações foram transmitidas aos inquiridos no meio de uma série de outros factos, para que os intervenientes no estudo não se apercebessem de qual era o objecto da pesquisa. E, justamente por isso, foi-lhes depois pedido para expressar a vontade de ter e a intensidade desse desejo, em relação a uma série de itens onerosos que desfilavam sob o seu olhar em fotografias, onde se incluíam imagens de superdesportivos.
Escrevem os autores do estudo que “os que ficaram a achar que tinham um pénis abaixo da média” se mostraram desejosos de adquirir um carro rápido e potente (91%). Mas, porque a ideia era esclarecer até que ponto faz ou não sentido o cliché de que quem conduz um desportivo veloz pode ser genitalmente pouco abonado, os pesquisadores procuraram apurar se continuava a existir uma ligação entre uma fraca auto-estima e a vontade de possuir outros artigos caros, sem quatro rodas e um ronco abafado do motor. E concluíram que não, “não se encontrou qualquer conexão”.
O que se encontrou, isso sim, foi uma relação etária: quanto mais velho é o homem que tem ou julga ter um falo de tamanho pouco generoso, maior é o desejo de ter um superdesportivo luxuoso. Acima dos 29 anos de idade, o efeito que o tamanho do pénis tem na apetência para carros desportivos vai-se reflectindo de forma mais evidente, defendem os autores do estudo intitulado “Small Penises and Fast Cars: Evidence for a Psychological Link” (“Pequenos Pénis e Carros Velozes: Evidências de uma Ligação Psicológica”).
Em contrapartida, o grupo que apreendeu a ideia de que o pénis mede 10 cm mostrou-se menos desejoso de possuir um desportivo, com a pesquisa a associar o tamanho do órgão ao nível de autoconfiança. Isto é, a ideia de que se tem um pénis pequeno baixa a auto-estima e eleva a vontade de compensar essa “inadequação genital” com um desportivo. Mas, quando a ideia que passa pela cabeça dos homens é a de que são bem-dotados, a auto-estima aumenta e baixa a vontade de possuir um automóvel que reforce a sua atractividade, segundo a pesquisa da UCL.
A piada tem um fundo de verdade
Os autores do estudo não hesitam em reconhecer que a ligação que procuraram estabelecer, “entre conduzir um desportivo rápido e potente e ter um pénis pequeno”, é algo que há muito desperta a atenção dos académicos. Porém, realçam que a manipulação experimental que realizaram permitiu, “pela primeira vez”, demonstrar que essa ligação “está fundamentada numa verdade psicológica”.
O trabalho está disponível para revisão e, segundo os próprios autores, levanta uma série de outras questões que merecem ser aprofundadas, podendo eventualmente esclarecer se há “algo específico na psique masculina” que explica a associação entre o carro e o tamanho do pénis. “A indústria automóvel de luxo pode não estar disposta a reconhecer esta ligação, mas os resultados a que chegámos fazem alguma luz sobre o tema”, lê-se na conclusão, que é enfática a associar a procura de automóveis caros e que dão nas vistas a eventuais “sentimentos de inadequação genital”, percepção que será “partilhada por muitos dos seus clientes”.
Ferrari ou Twingo?
A conclusão dos investigadores apanhará alguns de surpresa. Para espanto de outros, pode oferecer uma perspectiva diferente a respeito de declarações de personalidades como a cantora colombiana Shakira ou a jovem ambientalista Greta Thunberg. Esta fez correr muita tinta quando ousou relacionar a colecção de 33 carros de luxo do ex-kickboxer britânico-americano Andrew Tate, onde se incluem modelos da Bugatti, Ferrari, Rolls-Royce, Porsche, BMW, Aston Martin e Mercedes, com uma “p*la pequena”. A sueca respondia assim, no final de Dezembro, a uma provocação nas redes sociais, em que o influencer se dispunha a enviar-lhe uma lista com as emissões dos carros que possui – parte deles entretanto apreendida na Roménia, onde Tate foi há dias detido por suspeita de tráfico humano:
yes, please do enlighten me. email me at smalldickenergy@getalife.com https://t.co/V8geeVvEvg
— Greta Thunberg (@GretaThunberg) December 28, 2022
Mais recente é a controvérsia gerada pela nova música de Shakira, cuja letra (sobretudo os trocadilhos) pouca margem deixa para dúvidas de que a canção é uma farpa apontada à relação do ex-marido, Gerard Piqué, com Clara Chia, a nova namorada do antigo futebolista espanhol. “Trocaste um Ferrari por um Twingo”, canta Shakira, o que pode ser interpretado como um downsizing. Ou não: à luz deste estudo, o antigo jogador do Barcelona até se pode sentir elogiado…
Se está a pensar comprar ou trocar de carro, talvez lhe interesse saber quanto é que, na realidade, mede em média um pénis erecto. São 13 cm que podem mexer com o orçamento da família.