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O voto de confiança durou pouco. O Presidente Vladimir Putin deu ao líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, uma oportunidade para mostrar o valor das suas tropas – reforçadas com ex-prisioneiros – na “operação especial militar” na Ucrânia. Os esforços “falharam” e o líder russo procura agora afastar-se da companhia militar privada.
Esta é a avaliação que o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) faz sobre a relação entre o Presidente russo e a companhia fundada por Prigozhin, que tem unidades a combater no território ucraniano desde o início da guerra.
No mais recente relatório sobre a evolução do conflito, o think tank norte-americano sugere que Putin “decidiu afastar-se da dependência em Prigozhin e nas suas forças irregulares”. Em alternativa fez uma aposta nas capacidades de Valery Gerasimov, chefe do Estado-maior das Forças Armadas russas, recentemente nomeado comandante das operações na Ucrânia; de Sergei Shoigu, ministro da Defesa; e das forças russas “convencionais”.
“Prigozhin parecia ter decidido que estava realmente em ascensão e que podia desafiar Gerasimov e mesmo Shoigu por um [papel] mais proeminente nos assuntos militares. Estas esperanças parecem ter sido ilusões.”
O ISW aponta que, em dezembro, o Presidente russo começou uma tentativa para voltar a centralizar o esforço de guerra sob a alçada do Ministério da Defesa russo. Um primeiro passo foi a nomeação, já em janeiro, de Gerasimov como novo comandante da operação militar na Ucrânia. Para trás ficava Sergei Surovikin – conhecido como “general Armagedão” – depois de apenas três meses no cargo, uma despromoção que fez Prigozhin perder um aliado e que comprometia a capacidade do grupo Wagner obter equipamento através do canais militares tradicionais.
Rússia substitui comandante da operação na Ucrânia ao fim de apenas três meses
Um segundo passo no reforço do Ministério da Defesa foram as “grandes mudanças” anunciadas pelo Kremlin nas Forças Armadas, planeadas entre 2023 e 2026. Tanto a nomeação de Gerasimov como estas reformas marcam “uma mudança significativa nos esforços para reconstituir o [papel] dos militares convencionais”. O impacto? A “marginalização” do grupo Wagner e também da fação siloviki (pequeno grupo de líderes e empresários russos com “bases de poder significativas” e ligações a companhias militares).
O líder russo mostrou também uma tentativa para reconstruir a “autoridade e reputação” do Ministério da Defesa russo. Este setor foi muito criticado pela fação siloviki, de que Prigozhin faz parte, devido aos fracassos militares na Ucrânia. A mudança de Putin “tornou-se mais evidente” quando numa entrevista recente não deu crédito a Prigozhin e ao grupo Wagner pelo captura de Soledar.
No início de janeiro, em declarações ao canal Rossiya-1, Putin garantiu que na cidade de Soledar tudo estava a correr “conforme planeado pelo Ministério da Defesa e Estado-Maior”. “Espero que os nossos combatentes nos agradem mais vezes com os resultados de seu trabalho de combate”, acrescentou. Não fez, porém, qualquer menção ao grupo Wagner, cujas unidades disseram ter assumido sozinhas o controlo de Soledar. O próprio Ministério da Defesa não reconheceu originalmente a participação da companhia militar na batalha pela cidade, acabando por reconhecer “vagamente” o seu envolvimento.
A man that looks like Putin says there are positive trends in the "special military operation" after spending 10 months taking a town with 10,000 population, razing it to the ground. pic.twitter.com/8BGgwcS0X3
— WarTranslated (Dmitri) (@wartranslated) January 15, 2023
O ISW considera que Putin poder ter-se sentido ameaçado pela ascensão e auto-afirmação de Prigozhin. O líder do grupo Wagner ganhou destaque nos últimos meses, surgindo em vários vídeos a recrutar soldados diretamente nas prisões russas, a condecorar as suas tropas ou a comparecer nos funerais dos que morreram em combate e até a marcar presença perto da linha de frente da guerra, nas minas de sal da cidade de Bakhmut.
O líder russo voltou-se para Prigozhin após os “esforços imprudentes” para capturar as cidades de Severodonetsk e Lysychansk, que tiveram elevados custos. Foi a guerra que trouxe maior relevo a Prigozhin – apontado como um possível sucessor na presidência – e o líder russo parece agora estar disposto a dar um passo atrás.
O ISW considera que, enquanto Prigozhin terá “imaginado” que os seus esforços na Ucrânia iriam continuar a contribuir para o seu poder militar e político na Rússia, Putin sempre terá planeado “voltar a pô-lo no seu lugar. A aparente queda das boas graças de Putin é reflexo “das limitações reais do seu poder”.