As autoridades do Chipre estão a investigar a possibilidade de os sismos na Turquia e Síria terem provocado a morte de baleias que estão a dar à costa no norte do país desde quinta-feira. De acordo com a Reuters, quatro baleias foram encontradas em praias cipriotas na quinta-feira, três das quais foram retiradas para alto-mar e uma morreu. No dia seguinte, seis baleias foram detetadas já sem vida no areal.

Yiannis Ioannou, investigador da vida marinha, disse ao canal de televisão Sigma TV que “estes animais têm um sistema de ecolocalização que é afetado pelos ruídos no mar“, que podem ser provocados por “exercícios militares, furações no leito marinho ou naturalmente o terramoto na região”, cita a Reuters. A teoria ganha corpo porque a espécie destes animais, a baleia-bicuda-de-cuvier, não é comum na costa cipriota. Podem ter-se desorientado naquela direção e acabado por morrer.

Será um fenómeno semelhante ao que parece justificar o “aumento incomum” de golfinhos-comuns-de-bico-curto que acabavam encalhados, já mortos nas praias na costa ocidental da Turquia, voltadas para o Mar Negro, nos primeiros dias de conflito armado na Ucrânia. À época, os especialistas colocaram várias explicações em cima da mesa. Uma das mais defendidas é a interferência dos ruídos bélicos na ecolocalização dos animais, que têm um efeito semelhante ao das ondas sísmicas.

A ecolocalização é um sentido que animais como as baleias e os golfinhos utilizam para navegar e que funciona de modo semelhante ao sonar de um barco. O ar inspirado à superfície através do orifício presente no topo da cabeça (o espiráculo) acumula-se em sacos nasais e depois é pressionado ao longo dos canais, fazendo vibrar os tecidos.

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Essas vibrações são expulsas para a água através do melão, uma protuberância feita de tecido adiposo e fluidos, na cabeça dos golfinhos, que direciona as ondas sonoras numa frequência tão elevada que se torna inaudível para os humanos — os ultrassons. Quando eles atingem um objeto e são redirecionados, os golfinhos captam as ondas sonoras através da mandíbula e do ouvido. Quanto mais tempo as ondas sonoras demorarem a regressar aos animais, mais longe estão os objetos atingidos por elas.

Mas a interferências de determinados ruídos, incluindo os efeitos dos terramotos que se registaram naquela região, podem causar desorientação e mal-estar generalizado nos animais. João Correia, biólogo marinho e fundador da Flying Sharks, explicou ao Observador no ano passado que essa perturbação “tem um impacto no sistema imunitário e motiva ataques por agentes patogénicos que, de outra forma, eram inócuos para o organismo dos animais”.