No dia em que se assinalam três anos dos primeiros casos de Covid-19 em território nacional, a deputada Marta Temido, aproveitando a experiência de ter sido Ministra da Saúde durante o período de pandemia, usou da palavra na comissão de revisão constitucional para dar a sua opinião sobre a atuação das autoridades de saúde e sobre os confinamentos.

“Quis o destino, ou a ironia da vida, que estivéssemos a discutir estas propostas na data em que se registam três anos desde os primeiros casos de Covid”, assinalou Marta Temido no inicio da curta intervenção. A deputada socialista secundou uma intervenção de Alexandra Leitão sobre as alterações ao artigo 27º, que define os direitos à liberdade e à segurança.

Para Marta Temido, é importante que exista a possibilidade de “garantirmos que não estamos só a abranger pelos poderes de separação, de confinamento ou internamento, a pessoa que é portadora de uma doença mas também sobre a qual existe um fundado receio”. Ou seja: “A necessidade de garantir a quarentena“.

A ex-ministra, que é a vice-presidente da comissão de revisão constitucional na Assembleia da República, assegura que esta “não é uma invenção portuguesa, é uma necessidade que se suscita e que convinha acautelar para futuro. Outros países europeus também fizeram as suas reflexões”, acrescentou Marta Temido.

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Já sobre se os confinamentos devem ser decretados por uma autoridade judicial, Marta Temido lembra que “a dificuldade prática que se coloca é a que surgiu nos dias de pandemia em que se registaram mais de 30 mil casos” e que, por isso, “sujeitar à intervenção prévia de uma autoridade judicial é uma dificuldade”.

O PS e o PSD têm propostas semelhantes nesta matéria, mas o PS prevê que o confinamento seja alvo de “recurso urgente à autoridade judicial”, enquanto o PSD propõe que seja “decretado ou confirmado por autoridade judicial”. Estas são alterações apresentadas depois de alguns reparos do Tribunal Constitucional aos confinamentos no âmbito da Covid-19.

Marta Temido comentou também as propostas de alteração ao artigo 19º, para falar sobre a atuação dos governos regionais na definição de medidas de confinamento ou de suspensão de direitos. A socialista destacou que “a autoridade de saúde nacional é quem representa o país em pontos de contacto internacionais sobre saúde pública internacional” e que “em matéria de saúde pública há uma hierarquia nacional“.

A ex-ministra da saúde terminou com um apelo à “responsabilidade” de “encontrar uma solução que recolha os ensinamentos da Covid-19 mas também a necessidade de responder a novas pandemias”.