É “muito cedo, mesmo muito cedo” para Marta Temido pensar sobre candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, considerou a ex-ministra da Saúde numa entrevista esta quinta-feira à SIC. Mas, questionada sobre se a liderança da autarquia lisboeta estava no seu horizonte, Marta Temido afirmou: “Não sou candidata a nada” porque esse cargo “exige um pensamento de estratégia pessoal que não é da minha natureza”.

A ex-governante, que abandonou o Ministério da Saúde no fim de agosto, recordou que as responsabilidades que assumiu no Partido Socialista (PS) são “de direção da presidência de uma concelhia” e que está concentrada numa interrogação: “No futuro, que alternativa queremos para Lisboa?”.

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“Que respostas temos para as grandes preocupações de quem vive neste concelho: a habitação, essa chaga; a mobilidade, essa dificuldade?”, exemplificou a antecessora de Manuel Pizarro: “Essas é que são as preocupações que vale a pena ter”.

Quanto a um eventual cargo de liderança na Câmara Municipal de Lisboa, Marta Temido insiste que “essa é uma circunstância que pode acontecer” como consequência do cargo que ocupa, “mas o propósito não é esse”: “Este caminho é um caminho mais do que suficiente para as minhas operações”.

Sobre a relação com António Costa quando ainda era ministra da Saúde, Marta Temido afirma que sempre se sentiu apoiada pelo primeiro-ministro. Mas, questionada sobre se mantém um contacto regular com ele, responde: ” Não tenho esse atrevimento. Mas continuo a ter um grande respeito pelo primeiro-ministro. E uma grande admiração pelo primeiro-ministro”.

Na mesma entrevista, a ministra levantou o véu sobre alguns dos momentos mais marcantes — e polémicos — do seu mandato, que terminou com a “gota de água” da morte de uma grávida, que entendeu que teria irremediavelmente “posto em causa” a confiança dos portugueses na ministra. E aproveitou para pedir desculpa aos profissionais de saúde e aos colegas que tratou “de determinada forma”, entre o cansaço e o seu feitio “intempestivo” — por isso, revelou, guarda “um amargo de boca”.

Meses depois da saída, Temido quis também esclarecer a relação difícil com os privados e até apontou culpas ao aproveitamento político que diz ter gerado essa perceção — depois do adeus ao ministério, Temido deixa rasgados elogios aos privados e várias críticas à falta de “coesão” do próprio SNS.

“Os operadores privados e do setor social, é absolutamente justo dizê-lo, foram essenciais para a resposta à pandemia”, atirou, desmentindo categoricamente — “não é verdade” — que quisesse prescindir do apoio dos privados, com quem disse ter mantido contacto próximo. “Há muita coisa que acontece e é explorada porque interessa politicamente ser explorada. Mas isso… é da vida e é desta vida”.

Admitindo que na primeira vaga não pediu ajuda aos privados — “não foi necessário” — garantiu que depois essa articulação aconteceu e até chegou a ser mais profícua do que com o SNS: “Não só o setor privado mas o setor social foram absolutamente essenciais, mas às vezes mais solidários com o SNS do que as próprias entidades do SNS”, que por vezes “empurravam doentes entre si”. Daí, defendeu a ministra, a necessidade da direção executiva do SNS, “também pela razão de se perceber que o grupo SNS não era tão coeso quanto se poderia pensar ou se gostaria de pensar”.

Coisa diferente é o nome escolhido, em concreto, para essa direção executiva — questionada sobre a má relação que supostamente teria com Fernando Araújo, Temido não o desmentiu e preferiu contornar a pergunta, dizendo ver com “total despreendimento” essa escolha e ter “muita expectativa” sobre uma melhor organização do SNS, que não depende dos seus “protagonistas”.