São cada vez mais os detalhes conhecidos sobre os momentos que conduziram ao violento acidente de comboio que fez pelo menos 57 mortos na Grécia. Desta vez, está a gerar polémica a gravação da conversa em que o chefe da estação de comboios de Larissa, entretanto detido e considerado o principal responsável pelo acidente, dá ordem a um maquinista para continuar a avançar.
“Continue pela saída do semáforo vermelho até ao semáforo para Neon Poron”, ouve-se na comunicação entre o chefe da estação e um dos maquinistas envolvidos no acidente, revela a CNN.
O maquinista pergunta se pode mesmo avançar: “Vasilis, posso continuar?” e, em resposta, ouve um “vá, vá”.
Depois, continua a CNN, o chefe dá ordem ao maquinista para que se mantenha na mesma linha. O condutor pergunta se deve “dar a volta”, mas recebe resposta negativa: “Não, não, porque o 1564 está nesse caminho”.
O chefe da estação de comboios, de 59 anos, é suspeito dos crimes de homicídio por negligência, ofensa à integridade física por negligência e perturbação da segurança do transporte.
Pela soma dessas acusações pode chegar a ser condenado a prisão perpétua, pelo acidente que, no último balanço avançado pela BBC, já fez 57 mortos e serviu de gatilho para a indignação da população grega pela falta de segurança no setor ferroviário.
O funcionário, detido na quarta-feira, admitiu a sua responsabilidade, num acidente que o governo já tinha garantido ter-se devido a um “erro humano”. O comboio, que transportava 342 passageiros e 10 tripulantes, foi encaminhado para uma linha onde seguia, em sentido contrário, um comboio de mercadorias, o que levou a um violento choque.
Esta sexta-feira de manhã a estação de Larissa foi alvo de buscas pela polícia no âmbito da investigação às causas da colisão.
“Faz parte da investigação. A polícia apreendeu (…) todos os documentos que podem ajudar na investigação”, disse o porta-voz da polícia sobre o acidente de terça-feira.
Uma fonte judicial também explicou à Agência France Presse (AFP) que a investigação pretende “iniciar processos criminais, se necessário, contra membros da administração” da empresa Hellenic Train, a companhia de caminhos de ferro gregos, propriedade da empresa pública italiana Ferrovie Dello Stato Italiane (FS).
Confirmou igualmente que foram apreendidos “arquivos de áudio, documentos e outras evidências que podem ajudar a esclarecer o caso e atribuir responsabilidades criminais”.
O governo fez o seu “mea culpa” na quinta-feira sobre as falhas “crónicas” da rede ferroviária que levaram à tragédia, uma das mais graves ocorridas até hoje na Grécia.
Número de mortes do acidente ferroviário na Grécia sobe para 57
A justiça quer entender como é que um comboio que transportava 342 passageiros e 10 trabalhadores ferroviários pode ter sido autorizado a seguir pela mesma via única de um comboio de mercadorias, colidindo de frente.
De facto, os comboios circularam vários quilómetros na mesma via, que liga Atenas a Thessaloniki (norte), as duas maiores cidades gregas, antes de chocarem de frente na terça-feira, pouco antes da meia-noite. As autoridades admitem que o número de vítimas mortais pode vir a aumentar.
O acidente de terça-feira provocou mais de uma centena de feridos, 48 dos quais ainda se encontram hospitalizados, a maioria na cidade de Larissa, no centro do país.
O ministro dos Transportes grego, Costas Karamanlis, demitiu-se após o acidente e o seu substituto foi encarregado de abrir um inquérito independente para apurar as causas.