Os partidos da oposição aproveitaram a entrevista desta quinta-feira do Presidente da República para apontar o dedo ao Governo, sobretudo no que diz respeito à TAP. Paulo Rangel, do PSD, destacou o “enfraquecimento” do ministro das Finanças, Fernando Medina, enquanto Luís Filipe Soares, do BE, acusou o PS de querer “matar” a comissão de inquérito à TAP. A Iniciativa Liberal, pela voz de Rui Rocha, lamentou que “cada dia deste Governo” seja “um dia pior para Portugal”. O PCP acusou Marcelo de ter contribuído para a atual maioria absoluta.
Paulo Rangel, que reagiu à entrevista a partir da Madeira, onde participa nas primeiras jornadas interparlamentares, menorizou as críticas feitas pelo Presidente ao PSD. Durante a entrevista, Marcelo Rebelo de Sousa falou sobre possíveis alternativas ao atual Governo, recordando que o PSD “não tem mais do dobro” dos outros partidos da direita nas sondagens. “Isso é uma alternativa fraca”, sentenciou.
“O PSD está a reconstruir a alternativa e isso não é motivo de preocupação. Importante para os portugueses é que têm um Presidente da República a dizer que a maioria é requentada. É uma crítica fortíssima ao Governo e da qual o primeiro-ministro tem que tirar consequências”, atirou nas declarações aos jornalistas.
Antes, enumerou tudo aquilo que considerou ser dedos apontados por Belém ao Executivo de Costa: “Estou a pensar na TAP, nos atrasos do PRR, estou a pensar na Saúde e nas críticas que fez à solução da Direção Executiva do SNS”. Deste modo, prosseguiu recorrendo aos termos usados pelo próprio Presidente na entrevista. “Esta análise realista mostra que estamos verdadeiramente perante uma maioria esgotada. As palavras com que o Presidente da República abriu a entrevista dizem tudo sobre a situação do país: uma maioria requentada, uma maioria cansada. Isto resume por inteiro a entrevista”, reforçou.
A TAP foi outro tema referido por Rangel. Para o social-democrata, Marcelo “chamou a tenção para o enfraquecimento político do ministro das Finanças e disse que ainda havia consequências a tirar — e que ainda é preciso ver quais serão”. E continuou: “Marcelo disse que o Ministro das Finanças é o mais importante a seguir ao primeiro-ministro e que este [Fernando Medina] está enfraquecido”.
Marcelo “fez uma entrevista onde faz uma analise interessante e equilibrada do país”, diz PS
Para o PS, a entrevista de Marcelo representa uma “análise interessante e equilibrada do país”. Isto porque, diz Porfírio Silva, o Presidente da República “demonstra compreender que o país tem enfrentado desafios impostos eternamente importantes — a pandemia, a guerra — e tem noção que há um clima de incerteza em relação ao que vai acontecendo todos os dias, que é um fator importante na governação”.
Aos jornalistas, o deputado socialista recordou o facto de, “em vários momentos, Marcelo Rebelo de Sousa ter salientado a necessidade de construir convergências que sejam capazes de ajudar a resolver os problemas do país”.
“O PR fez uma analise bastante equilibrada de vários problemas que temos em cima da mesa, que o país precisa de resolver”, continuou, sublinhando o compromisso do Governo. “Esperamos ser possível continuar a dar uma resposta a esta avaliação: continuar a encher o copo, que o copo esteja cada vez mais cheio e que haja cada vez mais água para os portugueses nestas circunstâncias.”
Pegando na mesma analogia, Porfírio Silva declarou que o Executivo de Costa tem “sempre a perspetiva aquilo que falta fazer”. E assumiu: “Há sempre coisas que falta fazer, para melhorar. A capacidade para ouvirmos as referências às coisas que correm melhor e a capacidade de reagir às dificuldades são um estimulo . Vivemos uma situação desafiante, não é fácil, mas sabemos que é preciso enfrentar os problemas e resolvê-los”.
No início da declaração, Porfírio Silva deixou ainda uma palavra sobre os sete anos de Marcelo em Belém. “O Presidente da República tem sido um fator de coesão nacional e cooperação institucional e isso é algo que nos apraz registar”, declarou.
Governo “quer matar” comissão de inquérito à TAP. BE espera que essa “não seja a posição do Presidente também”
O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Luís Filipe Soares, deu voz à preocupação do partido relativamente à posição de Marcelo sobre a TAP.
“Para o BE, há decisões políticas por explicar também de Fernando Medina, há consequências a retirar e uma comissão de inquérito que está a começar agora”. E deixou um alerta: “Tentar matar a comissão de inquérito é a tentativa do Governo, que aparenta ter medo dela, esperemos que não seja a posição do Presidente da República também”.
Para o bloquista, se Marcelo considera que o Governo perdeu o primeiro ano da legislatura, o Presidente não deve permitir que se continue nesse registo e deve exigir que “se mantenha em cima da mesa o essencial”. E detalhou que medidas devem ser essas: “É valorizar salários, rendimentos das famílias, responder à crise da habitação, melhorar serviços públicos”. “Sobre essa matéria, repto ao Governo, houve um conjunto de palavra vazias para a urgência dos dias que correm”, rematou.
Marcelo “fala da maioria absoluta do PS como se não tivesse tido um papel decisivo na sua fabricação”, acusa PCP
Alma Rivera não poupou críticas à entrevista do PCP, considerando que o Presidente da República fala como se “não tivesse alinhado com o PS na sua estratégia para obter maioria absoluta, como se não tivesse tido um papel decisivo na sua fabricação”.
“O Presidente da República fala como se não tivesse e não fosse parte das suas funções cumprir e fazer cumprir parte da Constituição e intervir para resolver os problemas nacionais”, acusou ainda a deputada comunista.
Para IL, Marcelo colocou Governo a “prazo”: “Cada dia deste Governo é um dia pior para Portugal”
O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, considera que o Presidente da República deixou o Governo numa posição fragilizada com as críticas feitas na entrevista. Aos jornalistas, voltou a frisar a ncessidade de se encontrarem alternativas governativas.
“Marcelo prevê já que vai haver muitas dificuldades de pôr o PRR na economia”, declarou o líder liberal, considerando que o Chefe de Estado fez “um conjunto de avaliações muito negativas” ao Executivo de António Costa. “Mais uma vez, Marcelo põe o governo a prazo. A única divergência [da IL com o que foi dito na entrevista] é que consideramos que este governo já não é de todo recuperável”, sublinhou.
Aos jornalistas, Rui Rocha disse aunda que “a posição da IL é aquela que foi traduzida oportunamente numa moção de censura”. Assim, voltou a dizer que “cada dia deste Governo, é um dia pior para Portugal”. “É preciso encontrar alternativas para Portugal”, concluiu.
Chega dá “razão” a Marcelo sobre falta de alternativa e culpa PSD e IL
André Ventura retira várias leituras da entrevista do chefe de Estado, mas destaca duas ideias: “Marcelo Rebelo de Sousa descolou do Governo” e alertou que a ideia de “falta de alternativa” levantada pelo Presidente da República é “certeira”, mas limpa as mãos de culpas e volta a lançar o desafio ao PSD.
“Marcelo Rebelo de Sousa descolou do Governo e está-se a posicionar-se fora daquele que foi o círculo de proximidade com o governo de António Costa”, sublinhou o presidente do Chega, que descreve a entrevista como “equilibrada”, de um “chefe de Estado” e de um “Marcelo Rebelo de Sousa a olhar para o futuro”.
Relativamente à “falta de alternativa” que Marcelo apontou, Ventura diz ser “certeira”. “Marcelo Rebelo de Sousa diz que aritmeticamente já há uma alternativa e não há porque há dois partidos que aparentemente não se entendem: IL e Chega”, explicou, dando “razão” ao Presidente da República.
Ainda assim, o líder do Chega defendeu a posição ao partido num ataque a PSD e IL: “Nenhum outro partido tem feito o que nós temos feito a dizer que é preciso criar uma alternativa. O Presidente da República disse ontem o que fiz há um mês: instei os dois líderes à direita para [necessidade de] dar uma alternativa ao Presidente.”
“Se a IL mantiver este registo de absoluta intransigência, só há uma solução: PSD e Chega juntos conseguirem formar uma maioria absoluta, podendo deixar a IL de fora”, realçou o líder do Chega, esclarecendo que, dessa forma, “não será preciso IL nem partidos que não estão no Parlamento”.
E continuou com um alerta: “Se PSD quiser entrar no jogo e tentar tirar votos ao Chega, o que está a fazer é criar uma guerra à direita e PS manter votos ao centro.”