O Presidente brasileiro, Lula da Silva disse esta quinta-feira que respeitará o Paraguai nas negociações que começarão este ano para redefinir algumas das cláusulas do tratado pelo qual os dois países construíram a hidrelétrica de Itaipu há 50 anos.

“Tenho certeza que chegaremos a um tratado que levará em conta a realidade dos dois países e muito em conta o respeito que o Brasil tem que ter por um aliado, nosso amado Paraguai”, afirmou o chefe de Estado brasileiro na reunião de posse do novo diretor brasileiro da Itaipu, deputado Enio Verri.

Na cerimónia, realizada na sede da hidroelétrica, estiveram presentes o Presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, assim como os ministros dos Negócios Estrangeiros de ambos os países.

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“Da parte do Brasil estamos mais maduros, mais conscientes, e faremos um novo tratado mais benéfico para a manutenção do desenvolvimento do Brasil e do Paraguai, e para a manutenção da boa convivência entre os dois países”, assegurou Luiz Inácio Lula da Silva.

O líder progressista insistiu que o Brasil tem que levar em conta os direitos do Paraguai nas negociações e, “como um irmão mais velho”, fazer a economia dos países vizinhos crescer junto com a brasileira.

“Tenho a noção de que não é possível que não levemos em conta os direitos [paraguaios]”, disse Lula da Silva, lembrando que em seus primeiros mandatos foi criticado por ter feito concessões para Itaipu construir uma nova linha de transmissão de energia elétrica até Assunção e ofereceu outros benefícios ao Paraguai.

“Um país do tamanho do Brasil, que faz fronteira com quase todos os países da América do Sul, tem que dividir seu crescimento económico com seus parceiros. Não dá para imaginar um país rico cercado de países pobres por todos os lados”, avaliou o Presidente brasileiro.

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“Como irmão mais velho, o Brasil tem a responsabilidade de fazer com que outros países cresçam junto connosco para viver em um continente de paz e tranquilidade, e nunca mais repetir um gesto ignorante de uma guerra entre irmãos, entre nações, como já aconteceu entre o Brasil e Paraguai”, acrescentou ao relembrar a guerra da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai contra o Paraguai).

Lula da Silva mencionou as negociações no momento em que, após os 50 anos da assinatura do Tratado de Itaipu, que permitiu a construção da barragem e da hidroelétrica binacional, os dois países terminaram de pagar a dívida milionária das obras e preparam para renegociar o acordo.

Os dois países têm que renegociar o Anexo C do Tratado de Itaipu, segundo o qual Brasil e Paraguai têm direito a 50% da energia gerada, mas estabelece que se uma das partes não utilizar toda a sua parte, terá que vender a excedente para o outro parceiro a preços preferenciais.

O Paraguai exige há anos a modificação desse anexo porque alega que vende seu excedente de energia para o Brasil a um preço muito inferior ao mercado e que poderia exportá-lo para outros países a preços mais competitivos.

Lula da Silva destacou a importância política de Itaipu para os dois países e admitiu que atualmente não seria possível construí-la devido a restrições ambientais e porque na época não havia consciência dos efeitos da obra sobre as mudanças climáticas.

“O tratado entre os dois países é um acordo civilizatório. Provamos que é possível fazer acordos binacionais e definir regras que beneficiem os dois países”, concluiu.