O presidente do grupo Jerónimo Martins, empresa dona da cadeia Pingo Doce, acusa o Governo de ter feito um “teatro” com as inspeções da ASAE nos hipermercados. Governantes como, em particular, o ministro da Economia e o seu secretário de Estado, foram “verdadeiramente, intelectualmente desonestos, em toda a linha“, acusa Pedro Soares dos Santos, admitindo que é possível chegar a bons consensos que atenuem a pressão sobre as cidadãos – mas, para isso, o Governo tem de se “tornar honesto“.

Em entrevista ao jornal Público, publicada este sábado (mas realizada antes da apresentação das novas medidas pelo Governo, na sexta-feira), Pedro Soares dos Santos deixou a garantia de que o seu grupo vai “sempre refletir os preços o melhor que puder”. O que “não faz sentido absolutamente nenhum”, para o gestor, seria fixar preços. O que acontece se os preços forem fixados e a inflação baixar? “Não faz absolutamente sentido nenhum”.

O Governo, se quer baixar a inflação, [deve] é incentivar os consumidores, através do seu IRS e dos impostos, e fazer alguma coisa pela agricultura portuguesa — o presidente da CAP [Confederação dos Agricultores de Portugal] já foi muito explícito sobre o que é preciso, que é realmente investir no apoio à produção. Tal e qual como Espanha, como França, como todos os outros países da Europa fazem. Apostam muito na produção agro-industrial e é aí que está a base de todo este processo”, diz Pedro Soares dos Santos.

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Tudo o resto, afirma o empresário, é “teatro”, nomeadamente as inspeções que foram feitas pela ASAE, “levando as televisões atrás”. “A única coisa que eles quiseram fazer foi denegrir a imagem do setor – e não têm a mínima autoridade moral para o fazer“, afirma Pedro Soares dos Santos, acrescentando que os governantes “foram, verdadeiramente, desonestos intelectualmente, em toda a linha”. O gestor respondia a uma pergunta sobre o ministro da Economia, o secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços e o inspetor-geral da ASAE.

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Pedro Soares dos Santos faz, também, um retrato da situação económica que, na sua leitura, já está a ser marcada por uma redução do consumo. Isso “já está a acontecer desde o quarto trimestre do ano passado”, diz o gestor, acrescentando que “vemos isso e que cada vez as pessoas têm mais dificuldades, que cada vez mais recorrem às promoções e à marca própria [da distribuição, por distinção das marcas de fabricantes] — porque é mais barato”.

“Vemos que as pessoas começam a hesitar muito em frente às prateleiras”, nota Pedro Soares dos Santos, afirmando que os tickets [valor médio de cada compra] são mais baixos”. “As pessoas já estão a contrair as compras – a par da situação dos empréstimos bancários, da subida das taxas de juro, há muito menos rendimento disponível“, afirma.

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