Foi o interlocutor entre a TAP e o Governo no processo que levou à saída de Alexandra Reis. E, sabe-se agora, também fez parte da equipa que, a 26 de dezembro do ano passado, redigiu um documento com os esclarecimentos que os ministros das Infraestruturas e das Finanças pediram à TAP, na sequência do acordo com Alexandra Reis. Hugo Mendes, secretário de Estado das Infraestruturas de Pedro Nuno Santos que se demitiu durante este processo, volta a estar no centro das atenções. Ao mesmo tempo que o seu Ministério esperava pelos esclarecimentos da TAP, o próprio secretário de Estado enviava sugestões de alteração. 

A novidade foi avançada esta terça-feira pela Iniciativa Liberal na audição da CEO da TAP, e confirmada pela própria Christine Ourmières-Widener. Com base na documentação recebida pela comissão parlamentar de inquérito (CPI), o deputado da IL, Bernardo Blanco, confrontou a CEO com o facto de no dia 26 de dezembro, os ministros Pedro Nuno Santos e Fernando Medina terem emitido um despacho a pedir esclarecimentos à TAP. E com o que se passou a seguir.

“O ministro das Finanças e o ministro das Infraestruturas e da Habitação emitiram hoje um despacho a solicitar ao Conselho de Administração da Transportes Aéreos Portugueses, S.A., informação sobre o enquadramento jurídico do acordo celebrado no âmbito da cessação de funções como vogal da respetiva Comissão Executiva, de Alexandra Margarida Vieira Reis, incluindo sobre o apuramento do montante indemnizatório atribuído”, lia-se na nota enviada às redações às 15h40 do dia 26.

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De acordo com os documentos, a TAP foi informada pela hora de almoço e “à tarde começou o processo de responder a esse despacho”. O rascunho do documento que seria enviado começou logo a ser preparado. Bernardo Blanco revelou, depois, que existe uma nota de calendário marcada para as 18h45 chamada “despacho discussion” (discussão do despacho). Essa nota terá servido para marcar uma “call” na qual terão participado a CEO da TAP, o seu advogado da altura, o presidente do conselho de administração, Manuel Beja, e o secretário de Estado Hugo Mendes. “Para decidirem como vão responder” ao pedido de esclarecimentos. Nessa tarde e noite esses responsáveis foram editando um documento “e enviando várias alterações, incluindo sugestões do próprio secretário de Estado”. O texto final da resposta é enviado quase à meia-noite ao Governo.

A CEO da TAP confirmou que Hugo Mendes participou neste processo. “O secretário de Estado conhecia bem o processo, e talvez tenha sido essa a razão para estar envolvido. Estes factos ocorreram há um ano e acho que precisávamos de conhecer todos os factos para assegurar que a resposta era consistente com a realidade. Para mim, tendo de responder a um documento tão importante, não fiquei surpreendida por ver o secretário de Estado, que esteve envolvido no processo, estar também envolvido” nos esclarecimentos, defendeu Ourmières-Widener.

Confrontada por Bernardo Blanco sobre o facto de então o despacho dos dois ministros ter sido um “número público”, uma vez que o ministro poderia ter sabido dos factos pelo seu secretário de Estado, a CEO da TAP respondeu apenas que “a única coisa que sei é que trabalhámos juntos para redigir esta resposta”.

Essa resposta foi tornada pública às 19h45 do dia seguinte, 27 de dezembro. E levou à demissão quase imediata de Alexandra Reis. Foi aí que a TAP revelou, por exemplo, que Alexandra Reis começou por pedir quase 1,5 milhões de euros, numa altura em que a TAP estava ao abrigo do plano de reestruturação que determinou cortes salariais e de pessoal.

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Também esta terça-feira, na mesma audição, ficou a saber-se pela CEO da TAP que foi Hugo Mendes, numa reunião a 1 de fevereiro, que indicou o valor máximo que podia ser pago a Alexandra Reis, os 500 mil euros que a administradora recebeu.

A gestora desvalorizou ainda o que disse na sua defesa sobre as ordens dadas por Hugo Mendes para não falar com outros membros do Governo, explicando que o então secretário de Estado só queria estar a par de todos os assuntos tratados com outros membros do Executivo.

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Hugo Mendes ficou, na audição de terça-feira, no olho do furacão ainda por ter pressionado a CEO da TAP a alterar um voo do Presidente da República, dizendo que “não podemos correr o risco de perder o apoio político do Presidente da República”, que tem sido apoiante em relação à TAP “mas se o seu humor muda tudo está perdido. Uma frase sua contra a TAP/o Governo e o resto do país fica contra nós. Não estou a exagerar. É o nosso maior aliado mas pode tornar-se no nosso maior pesadelo”. O voo não foi alterado. Christine Ourmières-Widener indicou que o pedido não tinha vindo a Presidência, informação que esta quarta-feira Marcelo Rebelo de Sousa confirmou.

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