Um pedido da Presidência da República, para mudar um voo de Marcelo Rebelo de Sousa de Moçambique, teria tido o “não” de Christine Ourmières-Widener que, no entanto, preferiu questionar o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, sobre o que fazer.

A questão foi endereçada esta terça-feira, 4 de março, pela Iniciativa Liberal, na audição na comissão de inquérito à TAP, na qual a CEO da TAP está a ser ouvida.

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A comitiva do Presidente a Maputo estava prevista voltar de Maputo a 21 de março de 2022, mas Marcelo Rebelo de Sousa precisava de ficar mais dois dias. Só teria voo de regresso a 24 de março. Por isso foi questionado à CEO da TAP se haveria alguma possibilidade da TAP, “pontualmente”, mudar a ligação para o dia 23 de março, uma vez que Marcelo teria compromissos em Portugal a 24.

Christine Ourmières-Widener decidiu antes de responder questionar Hugo Mendes. “Gostava de ter a sua orientação sobre isto, mas honestamente a minha reação espontânea é dizer ‘não’”, escreveu na mensagem a CEO da TAP ao então secretário de Estado das Infraestruturas.

Ao que o secretário de Estado respondeu que a sua reação era dizer “sim”, porque “não podemos correr o risco de perder o apoio político do Presidente da República”, que tem sido apoiante em relação à TAP “mas se o seu humor muda tudo está perdido. Uma frase sua contra a TAP/o Governo e o resto do país fica contra nós. Não estou a exagerar. É o nosso maior aliado mas pode tornar-se no nosso maior pesadelo”.

Mail tap presidente viagem

Mails trocados entre Christine Ourmières-Widener e Hugo Mendes sobre viagem de Marcelo

Na resposta a Hugo Mendes, a CEO expressou preocupação sobre este pedido tornar-se público, “e podemos ter a certeza que será”, o que “não será bom para ninguém”.

A CEO revelou, na comissão de inquérito, que o voo não foi mudado porque não era um pedido direto da presidência. “O Presidente encontrou outra solução. Ele nunca pediria para mudar um voo porque teria impacto noutras pessoas. Fiquei muito contente com o resultado”, afirmou.

Os mails sobre o assunto, a que o Observador teve acesso, mostram que o primeiro pedido à TAP foi endereçado pela agência de viagens Top Atlântico para a assistente do chairman da TAP, Manuel Beja, que encaminhou para a direção de redes da TAP que remeteu a questão para a CEO. E daí a troca de emails com o então secretário de Estado.