Carlos III está decidido a fazer uma cerimónia de coroação bem diferente da que foi desenhada para a sua mãe e isso ficou claro logo no comunicado do Palácio de Buckingham que anunciou a data do evento. “A coroação vai refletir o papel do monarca hoje e olhar em direção ao futuro, mantendo-se enraizada em tradições e pompa de longa data”, segundo se pode ler no site da casa real. As mudanças também afetam o dress code e os aristocratas terão sido aconselhados a abdicar dos seus faustosos mantos e coroas.
Esta cerimónia acontece quase 70 anos depois da anterior e vai procurar refletir o contexto que se vive atualmente. As mudanças mostram, não só a sensibilidade do Rei pela atitude do público em relação à família real, mas também em relação à atual crise no custo de vida e, por isso, serão evitados excessos, noticiou o Telegraph. São já várias as novidades que se sabem e trazem algo de novo e pessoal para a cerimónia de 2023. Como por exemplo os pajens que vão acompanhar os Reis dentro da abadia, ou o percurso e carruagens do cortejo pelas ruas de Londres que antecede e sucede a coroação.
O que usará a família real
Quanto à rainha consorte, já sabemos que encomendou o seu vestido para a coroação ao amigo e designer de moda há muito ligado à família real, Bruce Oldfield. E também sabemos que será coroada com a coroa da rainha Mary. Mas as informações ficam por aqui e aguardamos para vermos como será o look de Camilla neste dia tão importante.
Contudo, será seguro afirmar que é sobre a princesa de Gales que paira a maior expectativa. Ícone de moda incontestado, Kate tornou-se mestre no difícil malabarismo que equilibrar moda, joias, tradição e surpresa nos seus looks. Nada se sabe sobre o que a princesa irá usar no dia 6 de maio, mas no final de março, a revista People avançou que poderia não usar uma tiara, optando por um look discreto, contudo o assunto estaria ainda a ser discutido.
Não esqueçamos ainda Sophie, a nova duquesa de Edimburgo e podemos ainda acrescentar-se à lista de mulheres elegantes da realeza nesta cerimónia algumas das convidadas já confirmadas, como por exemplo a princesa Mary da Dinamarca, Charlene do Mónaco ou a princesa Victoria da Suécia. Sobre todas elas recai a curiosidade de saber que roupas, acessórios e joias levarão na sua mala de viagem para este evento tão relevante.
As histórias do guarda-joias da rainha: os diamantes são eternos e as pedras vieram de todo o mundo
Em 1953 as convidadas da coroação proporcionaram um verdadeiro desfile de joias, mais precisamente, de tiaras. A casa Garrard, nomeada joalheira oficial da coroa pela Rainha Victoria em 1843 e assim permaneceu até 2007, terá sido inundada com pedidos de limpeza de joias. “Ninguém tinha usado a sua joalharia ou tiaras durante a guerra”, pode ler-se no site da marca. “As pessoas estavam a fazer fila para terem as suas tiaras, que eram como palas em diamantes, alfinetes de peito e colares limpos.” O testemunho é de Lady Anne Glenconner, que foi uma das seis damas de honor e filhas de “peers” que escoltaram a Rainha na sua coroação, em 1953. É também a autora do livro de memórias Lady in Waiting. My Extraordinary Life in the Shadow of the Crown, em 2019.
O que muda para a aristocracia
Os membros da Câmara dos Lordes (peers), as figuras da aristocracia com lugar no parlamento britânico, foram aconselhados a usar os mantos que usam na cerimónia de abertura do ano parlamentar ou mesmo “traje formal convencional”. Os “peers” que quiserem usar um manto e não tiverem o seu próprio, podem até pedir emprestado ao Parlamento, segundo explica o Telegraph.
O facto de se poder usar um manto parece ainda uma indumentário sumptuosa, mas há que ter em conta que, segundo a tradição, o traje recomendado para os “peers” numa cerimónia de coroação são um manto próprio para a ocasião e uma coroa (mais precisamente, uma coroa que em inglês se designa “coronet”).
Importa explicar que os “peerages” do Reino Unido pertencem a um sistema legal que é constituído pela hierarquia de títulos de nobreza hereditários e vitalícios e formam parte do sistema de honras britânico. O título mais elevado é o de duque, seguem-se os títulos de marquês, conde (earl), visconde e barão, por ordem de relevância.
Mantos e coroas com história
Estes trajes cerimoniais foram criados no final do século XV, mas dois séculos mais tarde foram uniformizados. Tanto o manto como a coroa não são meramente decorativos, eles indicam a posição de quem o usa na hierarquia de “peerages” britânica, assim como das suas mulheres, através da quantidade de pelo sobre os ombros dos mantos e da ornamentação das coroas. Por exemplo, um duque usa quatro filas de pelo de arminho sobre os ombros com uma cauda de , enquanto um marquês usa três filas e meia e um barão apenas duas. No que toca à decoração das coroas (que só são usadas nesta ocasião), as dos duques têm oito folhas de morangueiro douradas, a coroa de um marquês terá quatro folhas de morangueiro douradas alternadas com quatro esferas prateadas e a coroa de um barão tem (apenas) seis esferas prateadas, explica a Debrett’s, uma autoridade no que a etiqueta da aristocracia britânica diz respeito.
Os mantos tradicionais de coroação têm comprimento até ao chão, são em veludo carmesim e delineados e forrados com arminho branco. As coroas consistem em tiaras em prata dourada com arminho branco na base que assenta na cabeça, forro em veludo carmesim de Génova e uma borla dourada. Na coroação de Isabel II houve convidados que aproveitaram o efeito almofadado do forro da coroa para colocar “bebidas fortes e sandes escondidas para os ajudar a aguentar o dia”, segundo revelou o documentário “The Coronation”, produzido pela BBC em 2018. A cerimónia de coroação da Rainha durou três horas, mas a de Carlos III terá apenas uma hora. Assim como os oito mil convidados que encheram a Abadia de Westminster em 1953, contrastam com uma lista de dois mil esperados para o próximo dia 6 de maio.
Estes trajes são muito especiais e têm de ser feitos por quem realmente percebe do assunto. É o caso da Ede & Ravenscroft, o mais antigo alfaiate londrino que, desde a sua fundação em 1689, já terá feito mantos para 12 coroações britânicas, segundo conta a Tatler, incluindo os mantos reais. Mas uma vez que estas sumptuosas peças só são usadas cada vez que um novo monarca é coroado, elas acabam por ficar fechadas em baús e passam de geração em geração.
Foi o que aconteceu na família da jornalista Sophia Money-Coutts, que já foi diretora de conteúdos da revista Tatler, mas agora é freelancer e partilhou num artigo do jornal Telegraph que, em criança, descobriu os mantos que os bisavós, o 7º barão Latymer e Lady Latymer, usaram na coroação de Isabel II. “Encontrei-os uma vez, debaixo de uma cama num quarto de hóspedes e assumi que eram cortinados; coisas vermelhas grandes e poeirentas, com sanefas peludas e cheiro a bolas de naftalina.“ Atualmente os mantos estão divididos entre um museu em Greenwich e um palácio na Polónia.