As alterações climáticas podem levar à extinção, nas próximas décadas, dos mexilhões de água doce da Península Ibérica, segundo um estudo coordenado pela Universidade do Minho (UMinho) e divulgado publicamente.

Em comunicado, a UMinho refere que o alerta é deixado num artigo científico coordenado por Janine P. da Silva e Ronaldo Sousa, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências daquela academia, e de Ana Filipa Filipe, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia.

A investigação revela que espécies de bivalves nativas e com distribuição geográfica restrita enfrentam um risco acrescido, dada a drástica diminuição de condições climáticas necessárias à sua sobrevivência prevista para as próximas décadas.

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“Algumas destas espécies são endémicas da Península Ibérica e o seu desaparecimento empobrece a biodiversidade global“, avançam os investigadores.

Por outro lado, acrescentam, mesmo as espécies com distribuições mais alargadas deverão experienciar declínios significativos, com extinções locais em diversas regiões, que podem torná-las ameaçadas e reduzir a sua variabilidade genética.

O comunicado explica que certas espécies de peixes nativos servem como hospedeiras daqueles bivalves no estádio inicial do seu ciclo de vida, um processo “essencial” à colonização de novas áreas. Diz ainda que as barreiras à dispersão destes animais para habitats adequados no futuro são também motivo de preocupação.

“Os rios ibéricos encontram-se altamente fragmentados, nomeadamente por barragens e outros obstáculos, que impedem a livre movimentação dos peixes ao longo da rede hídrica e, consequentemente, dos bivalves”, alertam os cientistas.

Janine Silva alerta que declínios populacionais como os previstos por este estudo podem ter “efeitos em cascata em todo o ecossistema e até na saúde humana”. Segundo a investigadora, ações de conservação concretas para estas espécies são escassas.

Além disso, vinca, a atual rede de áreas protegidas da Península Ibérica não é adequada para proteger a generalidade dos ecossistemas de água doce, logo é insuficiente para reverter as tendências de declínio.

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“Acima de tudo, este estudo alerta para a necessidade urgente de investimento na proteção legal e no restauro dos habitats dos bivalves de água doce, mas também dos seus peixes hospedeiros”, concluem os autores. O estudo contou ainda com investigadores das universidades do Porto, de Lisboa, de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Navarra (Espanha) e do Instituto Politécnico de Bragança.