Se dúvidas ainda existissem, as dezenas de pessoas que esperavam por João Almeida no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, mostravam numa imagem aquilo que mil palavras teriam dificuldade em esperar. Não foi uma vitória, como ainda chegou a ser sonhado na terceira semana da Volta a Itália, mas tornou-se um dos maiores resultados de sempre do ciclismo nacional. Mais do que isso, tornou-se um dos melhores momentos de uma modalidade com muita história no país e que volta a cruzar uma fase de franco crescimento com o que tantas vezes falta para potenciar ainda mais esse momento: o aparecimento de referências. Foi essa a outra vitória do corredor caldense no final deste Giro onde cumpriu todos os objetivos que tinha em mente.

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Objetivo 1: ganhar uma etapa numa grande volta, neste caso do Giro, o que aconteceu numa subida mítica do Monte Bondone onde o português mostrou como evoluiu a nível de colocação no grupo, apoio da equipa e capacidade de também agir sem ser forçado a andar em reação. Objetivo 2: ficar com a camisola branca da juventude, naquele que era o último ano em que podia entrar nessa classificação, e “vingar” o que se tinha passado no ano passado, quando liderava com mais de dez minutos de vantagem sobre Juan Pedro López, a revelação da Trek no Giro de 2022 e teve de abandonar a prova após contrair Covid-19. Objetivo 3 (mas o mais relevante de todos): terminar pela primeira vez na história uma grande volta no pódio, sendo o primeiro português a fazê-lo e sucedendo 44 anos a Joaquim Agostinho com o terceiro lugar numa grande volta.

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“É um momento importante para o ciclismo português. Foi um objetivo concretizado, trabalhei muito com os meus colegas para alcançá-lo. Que seja o início de vários pódios. A minha preparação agora tinha este objetivo. Desde 2020 que Portugal tem tido os olhos postos no ciclismo. Infelizmente nem tudo tem sido positivo, mas espero ter trazido felicidade para os portugueses e vou trabalhar para dar mais sorrisos. Tudo tem mudado, os portugueses têm estado ao rubro a apoiar. Sinto muito apoio e isso faz a diferença. Se ligarmos a televisão vemos imensas bandeiras na estrada”, comentou o português depois da 21.ª etapa em Roma, que marcou também a despedida de Mark Cavendish com uma vitória na última chegada da prova.

“A Volta a França seria o próximo objetivo. Gostava de realizá-la no próximo ano mas mais tarde darei notícias. Agora quero festejar com os meus colegas. Vuelta? O objetivo é discutir a prova, estar na frente com os melhores e, se possível, fazer o pódio”, apontou ainda o português, que foi muito elogiado pela UAE Team Emirates após o terceiro lugar na Volta a Itália apenas atrás de Primoz Roglic e Geraint Thomas. “Aqui está um grande. Portugal e o mundo do ciclismo têm de estar orgulhosos de ti, amigo. Que continues a levar esse teu Bota Lume por todos os cantos do mundo. Todo o meu carinho e respeito”, escreveu nas redes sociais Joxean Fernández Matxin, diretor desportivo da equipa que ganhou três etapas no Giro após os triunfos antes do Monte Bondone de Pascal Ackermann ao sprint e de Brandon McNulty numa fuga.

Era tudo isso que voltaria a ser falado na manhã desta segunda-feira, na chegada de João Almeida a Lisboa depois do sucesso em Itália (e com essa particularidade de muitos dos adeptos presentes apontarem já para os novos nomes que irão surgir em destaque em breve como António Morgado). Camisolas rosas, cartazes, flores, até uma mítica recordação do equipamento com que Joaquim Agostinho ganhou em Alpe d’Huez naquele que é um dos momentos mais memoráveis do ciclismo nacional. De tudo um pouco para rasgar ainda mais um sorriso como aquele que se viu várias vezes no Giro. “Estou bastante feliz com o que aconteceu, muito feliz. É um objetivo concretizado, sabia que podia conseguir. Lutei muito para isto e agora é seguir em frente. O que faltou para Roglic e Thomas? Mais um bocadinho de pernas…”, disse à chegada.

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“O segredo para o sucesso é trabalhar muito e estar focado no ciclismo. O que falta para chegar a uma vitória? Tempo, dar tempo ao tempo. Já evoluí bastante nestes últimos dias. É um orgulho muito grande ter tanta gente nas estradas a apoiar-me e estou muito contente por isso”, começou por dizer depois já na mesma sala de conferências por onde tinha passado em 2020 com Rúben Guerreiro, após um Giro em que esteve com a camisola rosa durante duas semanas e em que o compatriota ganhou uma etapa em Roccaraso. Três anos depois, muito mudou e agora chegou a mais objetivos de uma carreira onde ambiciona ainda mais depois de antes ter feito um quarto e um sexto lugares no Giro e uma quinta posição na Vuelta.

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“Foi um grande Giro, devo destacar a vitória na etapa, foi muito importante. No futuro vou focar-me no meu caminho, na minha evolução. Os resultados vão aparecer por si próprios. O meu foco é evoluir e ficar mais forte. Acho que a regularidade é uma das minhas vantagens em relação aos adversários, talvez venha da genética e do trabalho árduo. Às vezes as pessoas não têm ideia do quão difícil é ser profissional a 100%. Qualquer profissional tem de pesar a comida, regular as horas de sono. Em competição… Comemos uma quantidade absurda de comida e tudo conta. É uma corrida de 21 dias, acho que isso mostra a fadiga que acumulamos fisicamente e psicologicamente, é preciso recuperar todos os dias”, prosseguiu João Almeida.

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“No dia em que ganhei a etapa pensei que havia a possibilidade de trazer a rosa mas nas etapas seguintes percebi que os adversários estavam muito fortes. Lutei até ao último centímetro e fiquei muito feliz com o resultado. Acho que foi um Giro muito especial, tivemos condições muito duras. Estive doente, metade do pelotão esteve doente, tive uma queda mas acho que não mudava nada. Fiz tudo o que conseguia e acho que o resultado mostra isso. As relações no ciclismo têm vindo a ficar mais curtas, numa corrida de 80 horas a diferença foi de um minuto. Os detalhes fazem a diferença. Joaquim Agostinho? É um orgulho, sempre ouvi falar dele desde que sou jovem e é um orgulho ter o meu nome junto do dele. Obviamente que ele já fez muito mais do que eu mas há motivação para fazer mais ainda”, referiu, antes de visar os próximos objetivos.

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“Este ano preciso de me focar no resto da temporada, ainda não discuti o calendário do próximo ano mas gostava de fazer a Volta a França, já tinha falado disso com a equipa. Primeiro vou ter um período de descanso e depois vamos ver como corre esse processo. Gostava de estar a lutar na Vuelta, discutir a corrida. Se puder fazer pódio ainda melhor mas não é assim tão fácil. Também gostava de estar presente nos Mundiais e também devo fazer a Volta à Polónia, mas não é fixo. Giro de 2023? Acho que seria muito próximo da Volta a França, acho que seria difícil entrar nas duas. Trabalhar para o Pogacar ou dividir a liderança? Depende. Claramente que ele está um nível ou dois acima de mim, seria um orgulho trabalhar para ele, mas há situações de corrida em que é favorável ter dois líderes”, concluiu português, que ainda antes do Giro falara nessa possibilidade no programa”Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador.

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