O presidente norte-americano, Joe Biden, e o líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes chegaram, no domingo, a um acordo de princípio para aumentar o limite da dívida dos EUA durante os próximos dois anos e, dessa forma, evitar um cenário inédito de incumprimento da maior economia do mundo — que poderia ter “consequências catastróficas”, como avisara a secretária do Tesouro, Janet Yellen.
Apesar do acordo entre a Casa Branca e a cúpula do Partido Republicano na Câmara Baixa do Congresso, falta ainda a aprovação formal. A votação do acordo começa esta quarta-feira à tarde, adianta o Washington Post, e o mais provável é que a lei seja aprovada, apesar das inúmeras críticas vindas, ao longo dos últimos dias, dos extremos do sistema político dos EUA — tanto da ala mais à direita do Partido Republicado como da ala mais progressista do Partido Democrata.
Apesar de provável, a imprensa americana não dá como certa a aprovação da lei na Câmara dos Representantes. Os democratas estão em minoria e o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, que negociou a lei com o presidente Joe Biden, está a enfrentar a oposição do Freedom Caucus, um grupo de republicanos mais conservadores, que está a tentar angariar votos para chumbar a lei.
Depois da votação na câmara baixa do Congresso, o acordo, a ser aprovado, subirá ao Senado, onde terá de ser aprovado e enviado para promulgação de Joe Biden, que tem até dia 5 de junho, segunda-feira, para o fazer, antes de o país entrar em default. Também no Senado se esperam dificuldades, uma vez que uma regra regimental obriga a que a lei seja aprovada por 60 dos 100 senadores (sendo que o Partido Democrata tem apenas 51).
Se tiver luz verde, o acordo suspenderá o limite de dívida de 31,4 triliões de dólares, que está prestes a ser atingido. Numa conversa que durou cerca de hora e meia, o presidente Biden acedeu à exigência de McCarthy, e dos republicanos, para cortar dez mil milhões de dólares num investimento de larga escala (de 80 mil milhões de dólares) para reforçar a Internal Revenue Service, que é a agência federal responsável pela cobrança de impostos) e que os republicanos temiam que seria usado para contratar um contingente de novos agentes para auditar os americanos, diz a CNN; este é um dos pontos que gera mais contestação na ala mais à esquerda do Partido Democrata, que tinha a expectativa de combater os esquemas fiscais que servem, muitas vezes, para fugir ao pagamento de impostos.
Covid e vacinas
O Partido Republicano garante também a subida dos gastos previstos no sector militar (um aumento para os 886 biliões no próximo ano) e a manutenção das verbas para os cuidados de saúde dos veteranos de guerra, duas das suas maiores bandeiras. Os republicanos conseguiram ainda que parte das verbas destinadas ao combate à Covid-19 fosse direcionada para a defesa, explica o New York Times. Ainda assim, os democratas exigiram que se mantivesse ativo o projeto NextGen, que visa desenvolver a próxima geração de vacinas e tratamentos contra o coronavírus.
Por seu lado, os democratas garantem que se mantém o perdão de parte da dívida dos antigos estudantes universitários, embora, para as pessoas que tenham agora altos rendimentos e portanto não tenham direito ao perdão parcial da dívida, se mantenha agendado para setembro o início do reembolso.
Outra vitória dos democratas nas negociações está relacionada com o clima. Os republicanos queriam revogar os subsídios à energia limpa mas todos os apoios serão mantidos. Na área social, o Partido Democrata rejeitou a intenção dos republicanos de aplicar cortes significativos nos programas de assistência social e até conseguiu estender o acesso para pessoas sem abrigo e jovens que estiveram em orfanatos. Ainda assim, os republicanos conseguiram estender até aos 55 anos os requisitos exigidos para o acesso aos vales de alimentação (até agora, as limitações de acesso só se aplicavam até aos 49 anos)