O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse haver uma “determinação inabalável” entre o governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para não voltarem a pegar em armas.
“Podemos afirmar com segurança que o encerramento desta base demonstra determinação inabalável do meu governo e da Renamo em não mais voltar às hostilidades militares e consolidar a paz duradora em Moçambique”, referiu, durante a cerimónia de encerramento da última base do braço armado do principal partido da oposição em Vunduzi, um posto administrativo do distrito da Gorongosa, na província central de Sofala.
A base fecha 30 anos e oito meses depois do fim da guerra civil moçambicana. A cerimónia representa o final do processo de desmobilização de 5.221 guerrilheiros que permaneciam nas bases em zonas remotas e que começaram a entregar as armas em 2019.
“Daqui deste pódio quero também felicitar a Renamo”, pelo “empenho” e “conclusão bem sucedida” desta fase de consolidação da paz em Moçambique. Minutos antes, Momade também se tinha comprometido com a paz, mas alertando a Frelimo para o facto de as irregularidades no recenseamento eleitoral deste ano poderem ameaçar o processo.
O líder da Renamo também se queixou de continuar a haver discriminação dos membros da Renamo e até assassinatos por resolver. No seu discurso, Filipe Nyusi anunciou a criação de um “mecanismo para gerir reclamações”, para as transformar em “soluções”, através de um grupo de trabalho para o efeito.
“É um processo [de paz] que não vai parar”, assegurou.
Nyusi evocou e homenageou Afonso Dhlakama, o histórico líder da Renamo que morreu vítima de doença em 2018 e com o qual passou a falar diretamente em 2017, após anos de mediações falhadas entre os dois lados. O diálogo levou ao Acordo de Paz de 2019, no âmbito do qual se realizou a cerimónia desta quinta-feira.
O encerramento da última base da Renamo é “um aspeto fundamental”, mas não o único da consolidação da paz em Moçambique no seguimento do acordo de 2019, realçou
“Nos próximos dias outro passo será dado”, com novos encontros, disse, sem detalhes, referindo que “a palavra que agora fica é reconciliação, reconciliação a sério”. Nyusi fez um apelo para que “os beneficiários do DDR”, sigla do processo de desmobilização, desarmamento e reintegração, “sejam recebidos de braços abertos”.
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E também se dirigiu a eles: “Não sejam instrumentalizados” com a ideia de que “ninguém vos quer”, acrescentou, deixando no ar a ideia de que há forças interessadas em bloquear o processo de paz, sem as nomear.
“Não vamos permitir”, realçou.
Caso haja discriminação de desmobilizados, cenário a que Ossufo Momade aludiu, Filipe Nyusi pediu “espaço para descobrir os verdadeiros culpados, sejam de que partido forem”. Sobre outra queixa do líder da Renamo, a demora em começar a pagar pensões a quem entregou as armas, o Presidente moçambicano confessou que faltavam verbas.
“Demorou também porque não havia dinheiro, não posso mentir. Para pagar pensões, desconta-se do salário”, mas no caso dos antigos guerrilheiros da Renamo isso não aconteceu, refere.
Por isso, foi preciso “trabalhar, correr” atrás de doadores e parceiros, até ao anúncio do decreto que no início do ano fixou as pensões para reintegração dos ex-combatentes. Novos eventos estão a ser programados para as próximas semanas, tanto na zona centro do país como em Maputo, para assinalar o avanço do processo de paz em Moçambique.
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