Candidatos não faltavam, no final só podia sobrar um. E o eleito até foi aquele que entrou a meio da corrida como possibilidade para o cargo. No final do mês de janeiro, após vários nomes que foram sendo colocados na rota da Federação da Polónia, Fernando Santos foi apresentado oficialmente como o novo selecionador polaco. Superou as dúvidas que ficaram em relação a um português pela forma como Paulo Sousa deixara o cargo para assumir o Flamengo, fez imperar as conquistas pela Seleção face às eliminações no Euro-2020 e no Mundial-2022, trouxe uma nova esperança a uma equipa que ficou muito aquém no Qatar. Seis meses depois, é sobretudo criticado por um resultado para o qual o próprio não consegue encontrar explicações.

O penúltimo selecionador estava na lista, o último selecionador foi o escolhido: Fernando Santos vai assumir comando da Polónia

O início do antigo selecionador nacional na Polónia não foi propriamente fácil, até pela forma como algumas regras que trouxe para as concentrações da equipa tiveram impacto negativo junto da imprensa na sequência de uma entrevista do guarda-redes Skorupski que motivou uma maior controlo naquilo que eram todos os contactos com os jornalistas.

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A par disso, Fernando Santos limitou o tempo dos jogadores com as famílias durante as concentrações (sendo que teria de ser no hotel), proibiu os telefones nas refeições que teriam de ser feitas em conjunto na mesma mesa e passou a dar a equipa apenas na chegada ao estádio uma hora e meia antes da partida – tudo normais que sempre teve em Portugal mas que foram descritas como um sistema com traços de “regime militar” e que não teria caído bem junto do núcleo duro dos polacos.

“A partir de hoje sou polaco, sou um de vocês.” Fernando Santos já foi apresentado como novo selecionador da Polónia

Depois, os primeiros encontros não foram propriamente os melhores. A Polónia perdeu na Rep. Checa por 3-1 num jogo onde sofreu dois golos nos cinco minutos iniciais e ganhou quatro dias depois à Albânia por 1-0, somando os primeiros três pontos na qualificação para o Campeonato da Europa de 2024 que se irá realizar na Alemanha, com uma proximidade grande ao país que levará ainda mais adeptos à fase final.

O “regime militar” foi colocado à prova e demorou 130 segundos a cair: Fernando Santos perde na estreia com a Polónia

Agora, no regresso, o cenário também não foi muito diferente, neste caso por uma opinião que deu muito que falar no país. Fernando Santos considerou o jogo particular com a Alemanha como algo “desnecessário”, com a explicação que haveria poucos dias depois um encontro a contar para a qualificação numa fase final da temporada em que o desgaste nas principais unidades era evidente. Jacek Bak, antigo capitão da Polónia, não gostou das considerações (nem das explicações) e juntou-se às vozes críticas contra o treinador português.

Um português de Erasmus na Polónia faz sempre a festa com pouco estudo

“São palavras fracas e desnecessárias. É inaceitável para mim. Tenho muito respeito pelas conquistas do atual selecionador, mas se algum treinador achar que tal teste é desnecessário, é melhor ficar em casa. Não há jogos mais ou menos importantes na seleção, ainda para mais se estivermos a falar de um confronto tão prestigioso como frente à Alemanha. São oportunidades que não acontecem com frequência, seja para adeptos ou para os jogadores. Fernando Santos deu um tiro no próprio pé. Cada jogo com as cores nacionais é uma honra. É um pouco como acontece nos treinos: não consigo imaginar um treinador ir para os treinos e dizer aos jogadores para trabalharem sem entusiasmo”, comentou o ex-jogador polaco à TVP Sport.

O resultado da partida “calou” os críticos, com uma vitória por 1-0 com um golo de Kiwior na primeira parte (31′). No entanto, 72 horas depois, o jogo que “realmente” contava acabou por não correr da mesma forma: a Polónia entrou melhor, saiu para o intervalo a ganhar por 2-0 com golos de Milik e Lewandowski, consentiu o 2-1 no arranque do segundo tempo e acabou por permitir mesmo a reviravolta nos últimos 15 minutos, o que deixou a equipa no quarto lugar do grupo E de qualificação para o Europeu atrás da Rep. Checa, da Albânia e da Moldávia. No final, Fernando Santos admitiu que não encontrava explicações.

“Não consigo explicar, simplesmente desaparecemos deste jogo… Não vejo outra explicação que não seja simplesmente a falta de concentração e de uma abordagem correta. Ao intervalo, sublinhámos que tínhamos de estar concentrados e que tínhamos de ter sempre a posse de bola. Na primeira parte, jogámos de forma agressiva. Os rivais não criaram qualquer perigo. No intervalo, avisei os jogadores que tínhamos de manter o mesmo nível em termos de agressividade e de criação de situações. No entanto, desaparecemos do jogo”, comentou o técnico português após o final do encontro, mantendo a incredulidade com o sucedido.

“Jogos como este acontecem mas não consigo explicar, principalmente depois do trabalho que fizemos no primeiro tempo. Não havia nenhuma indicação de que a situação poderia mudar daquela maneira. Não vejo outra explicação a não ser simplesmente a falta de concentração e de uma abordagem correta. Não sofremos golos nos dois jogos anteriores, por isso, em termos defensivos, não é de pôr em causa as minhas convocatórias. Todos são responsáveis por este resultado. Talvez eu devesse ter sido mais agressivo durante o intervalo e deveríamos ter defendido o resultado. Isto nunca me aconteceu, embora tenhamos visto coisas semelhantes no confronto com a Rep. Checa. A única coisa que podemos fazer é pedir desculpa, mas é difícil entender. Temos de levar o adversário a sério até ao fim. Temos de aprender com isto”, concluiu.