Foi detetado o chamado “fundo cósmico” de ondas gravitacionais, uma espécie de ruído de fundo que pode permitir compreender melhor o “Big Bang”, o momento que a Ciência descreve como a origem do universo. O anúncio foi feito esta quinta-feira pelos investigadores em astronomia que há anos tentam confirmar este fenómeno.
“É uma notícia gigante“, afirmou Stephen Taylor, presidente do North American Nanohertz Observatory for Gravitational Waves (mais conhecido por Nanograv). O astrofísico, ligado à universidade de Vanderbilt, nos EUA (na cidade de Nashville, Tennessee), explicou que estes sons serão produzidos pela lenta colisão de buracos negros espalhados pelo universo.
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Esta é, segundo os investigadores envolvidos, a confirmação de algo que Albert Einstein teorizou há mais de um século. “Estamos extraordinariamente entusiasmados pelo facto de, após décadas de investigação feita por centenas de astrónomos e físicos em todo o mundo, estarmos pela primeira vez a ver as evidências de ondas gravitacionais no universo distante”, complementou Michael Keith, investigador ligado ao Jodrell Bank Centre for Astrophysics e que integrou a equipa europeia que contribuiu com informação sobre este fenómeno.
Apesar de a investigação ter detetado este “fundo cósmico”, os cientistas sublinham que a hipótese de serem produzidos pela colisão de buracos negros é apenas isso – uma hipótese, embora seja a hipótese vista como “mais plausível”. Porém, os investigadores reconhecem que não podem ser descartadas explicações alternativas para este fenómeno que a ciência agora confirmou.
Ouça aqui “A História do Dia” em que Carlos Fiolhais antecipou o anúncio que foi feito esta madrugada.
Cientistas confirmam ter encontrado o “fundo cósmico” de ondas gravitacionais
Um cosmologista citado pelo jornal The Guardian, Andrew Pontzen, da University College London, elogia a descoberta. “Não é todos os dias que conseguimos ter uma visão do universo sob um prisma totalmente novo mas, depois de 15 anos de trabalho paciente, o Nanograv parece estar a proporcionar-nos isso mesmo”, afirma o especialista, acrescentando que “é muito entusiasmante ver estas evidências preliminares da existência destas ondas, que no futuro irão ensinar-nos muito sobre os buracos negros super-massivos, que têm uma dimensão de centenas de milhões de vezes superior à do Sol”.
Apesar de os detalhes terem sido publicados na madrugada desta quinta-feira, a descoberta foi formalmente anunciada numa conferência de imprensa esta tarde com a presença dos cientistas Stephen Taylor, Thankful Cromartie, Michael Lam, Luke Kelley e Maura McLaughlin, em representação de vasta equipa que desenvolveu o projeto. A gravação dessa conferência de imprensa pode ser vista aqui.