A maioria dos portugueses acredita que a imagem da Igreja Católica piorou no último ano, sobretudo devido ao modo como os responsáveis da instituição geriram a crise dos abusos sexuais de menores. A conclusão é de uma sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica (CESOP), divulgada esta sexta-feira em simultâneo pelo jornal Público, pela RTP e pela Antena 1.
De acordo com a sondagem, olhando para a globalidade dos inquiridos, 68% dizem que a imagem da Igreja piorou no último ano, 26% dizem que ficou na mesma e 5% dizem que melhorou. Entre os inquiridos que se dizem católicos, o cenário é semelhante: 67% dizem que a imagem da Igreja piorou, 26% dizem que ficou na mesma e 6% dizem que melhorou.
O aspeto central parece ter sido o modo como a Igreja Católica lidou com a crise dos abusos sexuais de menores: enquanto 72% dos inquiridos dizem que a Igreja fez “bem” ou “muito bem” em criar uma comissão independente para estudar os abusos de menores praticados pelo clero, 42% avaliam “mal” ou “muito mal” o modo como a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lidou com os resultados apurados pela comissão. Só 13% dos inquiridos avaliam “bem” ou “muito bem” a reação da Igreja.
Em novembro de 2021, a CEP anunciou a criação de uma comissão independente, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, para estudar a realidade dos abusos sexuais de menores na Igreja Católica em Portugal desde a década de 1950 até à atualidade. A equipa realizou o trabalho durante o ano de 2022 e apresentou o relatório final em fevereiro de 2023. Os resultados, construídos a partir de 512 testemunhos na primeira pessoa, permitiram concluir que pelo menos 4.815 crianças sofreram abusos no contexto da Igreja no período em estudo. A comissão independente produziu também, em paralelo, uma lista de nomes de sacerdotes identificados pelas testemunhas como alegados abusadores, que foi entregue aos bispos portugueses.
Em reação, o presidente da CEP, D. José Ornelas, deu uma conferência de imprensa em Fátima na qual apontou limitações à investigação dos padres suspeitos e salientou que os bispos tinham apenas uma lista de nomes, com a qual era impossível realizar investigações efetivas. A intervenção de Ornelas, que acabou por ter o efeito de lançar dúvidas sobre os testemunhos das vítimas, foi alvo de múltiplas críticas no espaço público — e o próprio bispo teve de vir a público fazer um mea culpa. Dentro da própria Igreja, a conferência de imprensa de D. José Ornelas foi mal vista. Ao Observador, o bispo auxiliar de Lisboa D. Américo Aguiar descreveu a intervenção como “uma tarde péssima, com danos colaterais na mútua confiança” entre vítimas e a Igreja.
De acordo com a sondagem agora divulgada, o trabalho da comissão independente não foi unanimemente avaliado de forma positiva. Pelo contrário: 36% dos inquiridos dizem não avaliar “nem bem nem mal” o trabalho da equipa de Pedro Strecht, enquanto 30% avaliam “bem” e 11% avaliam “muito bem”. Em sentido contrário, 7% avaliam “mal” e 2% avaliam “muito mal”.
JMJ: inquiridos consideram que impacto será positivo
Outro dos temas da sondagem do CESOP foi a Jornada Mundial da Juventude — o grande evento da Igreja Católica que se realiza em Lisboa na primeira semana de agosto com a presença do Papa Francisco e de cerca de um milhão de jovens católicos de todo o mundo.
De acordo com a sondagem, a grande maioria dos portugueses considera que a JMJ vai ter mais efeitos positivos do que negativos no país: 79%, contra 18% que consideram que o impacto será “mais negativo do que positivo”.
Por outro lado, quase metade dos inquiridos (48%) dizem que o apoio público dado à JMJ devia ter sido menor, enquanto 6% consideram que devia ter sido maior e 42% dizem concordar com os apoios concedidos pelo Estado.
De acordo com a ficha técnica do estudo, a sondagem foi realizada entre os dias 6 e 15 de julho deste ano. Foram inquiridas 1.006 pessoas por telefone, escolhidas aleatoriamente segundo uma distribuição representativa da população portuguesa. A ficha técnica completa pode ser consultada aqui.