As pessoas trans são “filhas de Deus”, disse o Papa Francisco disse numa entrevista à publicação religiosa espanhola Vida Nueva, realizada antes da Jornada Mundial da Juventude, mas só revelada esta sexta-feira.

As declarações surgem um dia depois de o pontífice se dirigir a 500 mil pessoas em Lisboa insistindo que a Igreja “tem lugar para todos”.

“Atiram-me à cara que nas audiências gerais recebo as [pessoas] trans”, revelou o líder da Igreja Católica no vídeo que acompanha a entrevista. Segundo Francisco, é uma monja francesa, Genviève, que pertence à fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, fundadas por Charles de Foucauld, que costuma levar as mulheres trans até ao pontífice.

“A primeira vez [que vieram], as raparigas saíram a chorar. Deram-me a mão e diziam: “Dei a mão ao Papa e deu-me um beijo””, relatou, logo acrescentando: “São filhas de Deus! Que as continua a amar tal como são”.

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Esta não é a primeira vez que o Papa Francisco se pronuncia sobre a comunidade trans. Em 2015, Francisco recebeu um cidadão trans espanhol no Vaticano. “Deus quer bem a todos os seus filhos, sejam como forem, e tu és filho de Deus por isso a Igreja aceita-te como és”, terá dito o pontífice quando telefonou ao espanhol de 48 anos para que com ele se encontrasse no Vaticano.

Uma bandeira erguida e uma missa interrompida

A Jornada Mundial da Juventude, que acontece de 1 a 6 de agosto, em Lisboa, tem sido marcada por dois episódios de manifestações contra a comunidade LGBTQ. No primeiro dia, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, uma pessoa que erguia uma bandeira que representa a comunidade trans foi confrontada por peregrinos que alegavam que a bandeira não poderia ser erguida naquele local. Um vídeo com imagens da discussão foi amplamente partilhado na rede social X (antigo Twitter). A organização da JMJ acabaria por, horas depois, sair em defesa da pessoa que ergueu a bandeira trans.

No dia seguinte, um grupo de católicos ultraconservadores invadiu uma eucaristia destinada à comunidade LGBTQIA+ numa igreja da Ameixoeira, em Lisboa. A PSP foi chamada ao local e interveio para retirar as 12 pessoas que invadiram o espaço, começando a entoar o que chamaram de “oração reparadora” contra os “pecados mortais” que resultam de “uma ideologia LGBT que, hoje, existe no seio da Igreja Católica”, reportou a Visão. O grupo foi identificado e incorreu no crime de “impedimento, perturbação ou ultraje a ato de culto”.