O PCP foi o único partido que quebrou o consenso relativamente à visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Ucrânia. Apesar de ainda não ter havido uma votação formal sobre o assunto, o partido já transmitiu ao Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que não considera a viagem “politicamente útil”.
Ao Observador, os comunistas explicaram, numa nota escrita, que foram consultados — tal como os restantes partidos e deputados únicos — sobre a visita do Presidente à Ucrânia, uma vez que o Parlamento tem de se pronunciar e dar o seu assentimento para as deslocações do chefe de Estado ao estrangeiro.
E foi então, explica a nota, que o PCP “teve a oportunidade de expressar” a sua posição sobre o assunto: “A menos que [a viagem] se insira no objetivo da procura da paz, não vemos politicamente útil”.
Os comunistas ficam assim mais uma vez isolados nas posições que tomam relativamente à Ucrânia, uma vez que, como o Observador confirmou, foram os únicos que não se pronunciaram favoravelmente sobre a deslocação.
Na resposta enviada pelo gabinete de Augusto Santos Silva deixava-se já adivinhar que não haveria consenso total sobre a viagem, uma vez que se referia um “apoio generalizado”, e não unânime, do Parlamento sobre a deslocação que Marcelo Rebelo de Sousa fará entre esta terça e sexta-feira, no seguimento da visita à Polónia.
“Como é habitual nestas circunstâncias, o PAR consultou todos os Grupos Parlamentares e Deputados Únicos, assim como o Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, tendo verificado que uma eventual deslocação de Sua Excelência o Presidente da República à Ucrânia contará com o apoio generalizado no Parlamento, procedendo-se à ratificação formal da autorização de deslocação na Comissão Permanente, que se realizará dia 6 de setembro“, explica o texto. A Comissão Permanente reúne-se antes do início dos trabalhos parlamentares, marcado para 15 de setembro.
O PCP tem-se mantido fora deste tipo de iniciativas — não foi, de resto, incluído na delegação parlamentar que Augusto Santos Silva levou a Kiev em maio — e também de outras posições de apoio à Ucrânia tomadas pelo Parlamento. No dia 24 de fevereiro, quando os deputados assinalavam o primeiro aniversário da guerra na Ucrânia com um minuto de silêncio em plenário, o partido não se juntou à homenagem, justificando a sua posição com as críticas ao que descreve como regime “xenófobo e belicista”.
Depois, quando a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, esteve na Assembleia da República em junho e criticou a posição dos comunistas, desafiando-os a visitar Kiev, o PCP respondeu ainda mais duramente, acusando o regime de Zelensky de “promover o assassinato” da população.
PCP dispara contra “hipocrisia” de Metsola e acusa Kiev de “promover assassinato” da população