Foi com um forte ataque à presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, que o PCP deu por encerradas as suas jornadas parlamentares. Depois de ter ouvido, frente a frente na Assembleia da República, as críticas da responsável europeia aos comunistas portugueses, o partido partiu para o ataque e a líder parlamentar, Paula Santos, acusou Metsola de revelar uma “profunda hipocrisia” e de não se incomodar com um poder que promove “assassinatos” na Ucrânia.

Os dois dias anteriores nada tinham tido a ver com o assunto — os deputados do PCP andaram pelos distritos da Guarda e da Covilhã a registar o retrato dos territórios abandonados no interior do país — mas foi em resposta a um jornalista, já no final da conferência de imprensa para apresentar as conclusões das jornadas, que Paula Santos reagiu de forma dura (pela primeira vez de viva voz, uma vez que o PCP tinha emitido um comunicado sobre o assunto) às palavras de Metsola.

“Além de uma atitude de arrogância e de ingerência revela uma profunda hipocrisia”, começou por disparar a líder da bancada comunista, acusando a UE de fazer “o oposto” do que é preciso, “alimentando e instigando a guerra, numa perspetiva inclusivamente de prolongamento da guerra”.

E depois de insistir que na Ucrânia existe apenas um “simulacro de Parlamento” que ilegaliza forças de esquerda e partidos democráticos e um Governo que se sustenta em “forças de cariz nazi”, foi mais longe: o Executivo ucraniano “promove prisão e assassinato” e isso é que devia incomodar a presidente do Parlamento Europeu.

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“Não a incomoda que andem a assassinar a população e o povo da Ucrânia, com o desenvolvimento desta guerra que muito resulta deste posicionamento nazi?”, atirou. “O que se vê com Estados Unidos e NATO é caminho contrário ao que é necessário. Qual foi a iniciativa da UE para a paz?”, rematou ainda, numa série de perguntas que foi endereçando a Metsola.

PCP critica repto de Metsola e diz que Parlamento da Ucrânia é um “simulacro”

Soluções para territórios “tragicamente desprotegidos” e mira apontada ao Governo

Voltando a Portugal: os deputados tinham acabado de passar dois dias na serra, a ver zonas fustigadas pelos fogos ainda por recuperar e a ouvir os testemunhos de quem foi afetado pelos incêndiosme continua à espera de apoios. No final das suas jornadas, o PCP recolheu todas as críticas e concluiu que há territórios no interior do país que estão “deprimidos e tragicamente desprotegidos” pelo Governo, avançando com propostas para tentar resolver este isolamento em várias frentes.

No encerramento, Paula Santos traçou o retrato destes distritos, que perderam mais de 18 mil habitantes cada na última década, e dos problemas que atravessam, da desproteção em relação aos incêndios ao encerramento das empresas do setor têxtil, passando pelos preços elevados das portagens.

Conclusão: não vale a pena apostar no “incentivo ao teletrabalho no interior” que está “completamente desligado da realidade local”, em projetos “predadores da natureza e exploradores de mão de obra” ou em “megaprojetos turísticos” na Serra da Estrela, ironizou a deputada, enquanto continuam a fechar escolas, valcões dos CTT ou serviços de saúde.

Para o PCP, a solução para estas zonas será composta: por um lado, é preciso reconstituir as direções regionais de agricultura e pescas, como irá propor no Parlamento; uma iniciativa acompanhada por várias outras, de um projeto de resolução para “uma nova política de proteção civil” a uma proposta para que o país seja dotado de “meios aéreos próprios” para as suas missões de proteção civil, sem precisar de os ir buscar ao mercado.

Na questão dos incêndios, o que os comunistas viram no terreno deixou-os preocupados: os apoios às pessoas e zonas afetadas estão “muito aquém” e “está praticamente tudo por fazer”, sentenciou Paula Santos, acusando o Governo de deixar estas regiões ao “total abandono”.

“Governo é que penaliza os estudantes”

Numa conferência de imprensa em que apresentou uma mistura variada de propostas, Paula Santos teve ainda tempo para anunciar que o PCP vai marcar um debate para a próxima semana, a 28 de junho, sobre “o agravamento as condições de vida” com a presença do Governo; e para defender as greves dos professores e o seu direito a fazê-las, reagindo à notícia de que haverá serviços mínimos para os exames nacionais. “Os professores estão a desenvolver uma luta em defesa da escola pública. O direito à greve é um direito constitucional e de uma conquista com a revolução de Abril, que deve ser respeitado”, avisou.

Isto sem deixar dúvidas sobre de quem são as responsabilidades pelos protestos, pelo menos para o PCP: “Quem tem penalizado os estudantes tem sido o Governo, ao não adotar as soluções necessárias. O que é que o Governo fez para que isto não volte a acontecer nos anos seguintes? É o Governo que tem de dar esta resposta e resolver este problema”, rematou. Mais um assunto em que os antigos aliados PS e PCP chocam de frente, sem solução à vista.