Passaram 80 anos desde que as tropas da Alemanha nazi enforcaram seis civis numa colina na comunidade de Fornelli, em Itália, como punição pela morte de um dos seus soldados. O crime, cometido em plena Segunda Guerra Mundial, não foi esquecido pelos familiares, que vão agora receber uma parcela dos 12 milhões de euros do valor determinado por um tribunal italiano como compensação.

“Nós continuamos a assinalar a data todos os anos. Não foi esquecido”, afirmou, citado pela Reuters, Mauro Petrarca, bisneto de Domenico Lancellotta, um dos homens assassinados pelos soldados alemães e pai de cinco filhas e um filho.

Segundo a agência de notícias, quase todos os membros da família vivos à época dos assassinatos já morreram (só um está ainda vivo), pelo que, segundo a lei italiana, a compensação devida passará aos seus herdeiros. Petrarca, por exemplo, deverá receber 130 mil euros.

O caso Fornelli, que chegou aos tribunais em 2015, pôs em tribunal Alemanha e Itália, que tentou encerrar o processo. Apesar do crime ter sido cometido por soldados alemães, será apenas a Itália a pagar a compensação, depois de ter perdido uma batalha legal no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre quem deveria responder pelos crimes de guerra. É que, em 1962, Berlim e Roma assinaram um acordo, no qual as autoridades alemãs se comprometeram a pagar cerca de mil milhões de euros em reparações. Ficou estabelecido que este valor, acordado entre as duas nações, cobria os danos infligidos pelas tropas nazis a Itália e aos seus cidadãos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Itália, refere a Reuters, entregou pensões aos cidadãos que foram perseguidos por motivos raciais ou políticos durante o conflito e aos familiares que sobreviveram, no entanto não ofereceu compensações pelos crimes de guerra. “Não olharam para os crimes de guerra e isso foi um erro. Talvez à época tenham pensado que todos tinham cometido crimes de guerra, não só a Alemanha, e não quiseram ir por esse caminho”, aponta Lucio Olivieri, o advogado que defendeu o caso dos italianos de Fornelli.

Este não foi o único caso a chegar aos tribunais italianos. Em 2022, Mario Draghi, na altura primeiro-ministro, ordenou a criação de um fundo para cobrir os crescentes custos de compensações exigidas pelos italianos. O prazo para a apresentação de ações judiciais expirou a 28 de junho e o Departamento de Tesouro da Itália está agora a emitir os pagamentos.

À Reuters, o departamento indicou que recebeu até agora indicação de 1.228 casos judiciais, sendo que poderão seguir-se mais que ainda não lhe foram encaminhados. Alguns advogados alertam já que o fundo de 61 milhões de euros poderá não chegar para compensar todas as famílias que avançaram com processos. O Departamento de Tesouro da Itália diz que ainda é cedo para determinar se é ou não suficiente.