Era um momento mais aguardado em Espanha mas que até pelo momento colocou Luis Rubiales na mira em Espanha. Enquanto a Roja jogava em casa com o Chipre em mais um encontro a contar para a fase de apuramento para o Europeu de 2024, era colocada a rodar a entrevista na íntegra que todos esperavam do agora ex-líder da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) no programa “‘Piers Morgan Uncensored”. Já eram conhecidos alguns excertos, nomeadamente a notícia de que iria apresentar a demissão, agora ficou a conhecer-se na totalidade aquilo que foi quase a argumentação de defesa do dirigente perante a polémica que estalou há três semanas após a final do Campeonato do Mundo feminino. E se, mais uma vez, houve espaço para alguns pedidos de desculpa, o também antigo jogador deixou algumas mensagens nas entrelinhas sobretudo em relação à conduta da outra protagonista inadvertida do caso, Jenni Hermoso.

“Tenho de preservar a minha dignidade. Demitir-me é decisão mais inteligente”: Luis Rubiales quebra o silêncio em entrevista a Piers Morgan

“Aquilo que se passou é mau para todos. A Jenni estava ali, levantou-me… O que se passou a partir daí é uma loucura. Tenho de defender a minha dignidade com argumentos e com a verdade. Mantive sempre a mesma versão desde o princípio e agora só posso defendê-la. É uma anedota entre duas pessoas motivada apenas pela alegria. Porque pedi desculpas? Um presidente não se pode comportar assim, também por estar no palco. Um presidente pode dar um abraço mas de uma forma mais diplomática. Mesmo assim, se dois adultos têm um comportamento mútuo… Creio que o comportamento não foi o mais adequado para um presidente mas foi apenas por estar efusivo, fruto da minha emoção por serem campeãs”, referiu.

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“As minhas intenções eram nobres e 100% não sexuais. Foi um momento de felicidade, de exteriorização. As pessoas não têm o contexto todo. Sem dúvida que teria feito também com a seleção masculina se tivesse ganho o Mundial. Se daria um beijo a um homem? Sim, fi-lo quando era jogador e mais de dois décimos de segundo. Está claro que me equivoquei e disse isso desde o princípio. Levantou-me no ar e, quando baixei, estávamos muito emocionados. Não houve qualquer intenção ou conotação sexual, só apreço. Um erro pode deitar por terra tudo o que um homem fez. Cometi um erro, pedi desculpa de forma humilde. O gesto ao pé da rainha sim, dá-me mais vergonha. Estou realmente envergonhado, não há desculpas. Em Espanha temos uma expressão que significa ‘Olé, tus huevos‘ ou ‘Olé, tus ovarios‘ que significa ‘Bravo, bem feito’. Ia dirigido ao Jorge Vilda. Não tive a oportunidade de me desculpar pessoalmente à rainha. Toda a família real conhece-me, o rei é uma pessoa espectacular”, argumentou, antes de falar de Jenni Hermoso.

Telemóvel hackeado, acesso a fotos e vídeos e uma espécie de mea culpa de “um bom tío”: os novos capítulos do caso Rubiales

“A Jenni disse que o beijo era espontâneo, que era uma anedota, eu ouvi que ela disse isso. Se está a mentir? Não vou responder a isso mas tens uma rádio, podes ouvir. No vídeo da equipa no autocarro vejo uma equipa que ganhou um Mundial, ouço ‘Beijo, beijo’, chamam-me ‘Presi’ que é como me chamam os meus amigos… Possibilidade de ir para a prisão? Acredito que a verdade verá a luz. Não sou um criminoso. Olha para a minha cara, sou uma boa pessoa que num momento de enorme felicidade, quando ganhas um Mundial, teve um erro. Foi isso. Brincadeira com o casamento no balneário? Ainda bem que perguntas isso… Foi uma brincadeira. Ela tem uma pessoa. Inapropriado para um presidente da Federação? Entendo que muita gente possa não perceber ou entender mal mas há outras pessoas que percebem, entendem. Respeito a opinião de toda a gente mas não das pessoas que faltam à verdade”, destacou numa entrevista gravada mas que saiu no dia em que Verónica Boquete, antiga internacional, disse que o telemóvel de Jenni Hermoso tinha sido hackeado e que tinham retirado alguns vídeos mas não aqueles onde o beijo era criticado.

Suspensão da FIFA? O processo foi muito rápido, sem oportunidade sequer de ter uma defesa. É muito injusto. Não mandei os meus argumentos, sou advogado e não consigo perceber isso.”

“Não vou continuar na Federação. Tenho uma suspensão que está a começar e que vai continuar. Amo o meu país, não quero que isto o afete. Também estamos na corrida para o Mundial de 2030, lutámos muito por ele e acredito que o melhor mesmo é sair. Não quero ser egoísta. A situação mudou muito em três semanas desde que disse que não me ia demitir até agora, é assim a vida. Tem coisas boas, tem coisas más. Sou jovem e só quero ter saúde, estar com a minha família… Conselhos? Vários amigos disseram-me que ia causar dano às pessoas de quem mais gosto e ao desporto que amo. Tive de aguentar muito durante as últimas três semanas. Esta decisão pode afetar muitas pessoas, não se trata de mim. Muitas mulheres disseram-me ‘Estou contigo, cometeste um erro mas não é aquilo que estão a dizer’. Não direi uma percentagem mas posso dizer que o apoio de muita gente que fui recebendo deixou-me reconfortado”, contou Rubiales.

“Não vou entrar em nada do que se comentou depois por ninguém. Isto não é um debate sobre homens e mulheres, isto vai ser sobre a verdade. Não quero catalogar nem quero mais polémicas. Eu sei a verdade, estou muito tranquilo com a minha inocência. Cometi um erro e não vou comentar o que disseram outros jogadores, treinadores, federações… O vídeo de desculpas sem a Jenni? Nunca pressionei ninguém para nada, nego isso de forma categórica. Não pressionei nem mandei ninguém pressionar a Jenni. O Jorge Vilda não pressionou ninguém, eu conheço-o”, reforçou sobre as acusações quando toda a delegação estava ainda na Austrália a caminho de Espanha e surgiram declarações da jogadora e um vídeo de Rubiales.

“Estive com a minha mãe em Motril. Levo-lhe sempre um gelado, sei que ela gosta. Ela é hipertensa, tem 72 anos e tem problemas. As minhas filhas? Estão a sofrer mais por mim do que por elas. Tive muitos momentos de apoio à minha família e à minha terra. Dentro de tudo o que me aconteceu, foi algo que registei até de pessoas que não conheço e que me apoiaram”, comentou ainda, de forma breve, sobre a greve de fome que a mãe iniciou numa igreja da terra natal antes de ter de ser conduzida depois ao hospital.

[Já saiu o último episódio da série em podcast “Um Espião no Kremlin”, a história escondida de como Putin montou uma teia de poder e guerra que pode escutar aqui. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui, o quarto episódio aqui e o quinto aqui ]