O anúncio da entrevista de Luis Rubiales a Piers Morgan no Piers Uncensored da TalkTV, com um pequeno excerto mais noticioso em que o dirigente anunciava na primeira pessoa que iria pedir a demissão de líder da Real Federação Espanhola de Futebol (função que não estava a exercer agora após a suspensão provisória de 90 dias da FIFA), provocou mais algumas ondas de choque e com diferentes perspetivas sobre o que estava em causa. Por um lado, o Sport apontou a mais uma faena do antigo presidente à RFEF, após ter chegado à última Assembleia Geral do órgão para dizer que não se demitia, sabendo que a Seleção estava concentrada no encontro com o Chipre. Por outro, vários meios preferiram analisar o jornalista em causa, o mesmo que tinha feito a entrevista bombástica de Ronaldo antes do Mundial e que se tornou conhecido exatamente por invadir muitas vezes a privacidade de famosos. Em paralelo, iam saindo mais declarações de Rubiales.

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“O significado do beijo à Jenni [Hermoso] foi exatamente o mesmo que um beijo a uma das minhas filhas. Entre amigos e familiares, isso é muito, muito comum. Foi um momento muito feliz, uma celebração, um momento de euforia. As minhas intenções eram nobres, entusiastas, 100% não sexuais. 100%, repito, 100%. Não houve dano, não teve qualquer conteúdo sexual, não foi uma agressão, nada disso”, refere o agora ex-presidente da RFEF na entrevista que será conhecida na íntegra na noite desta terça-feira, dia em que se soube pelo El Español que Luis Rubiales será ouvido pelo juiz na sexta-feira (12h). O El Mundo avança que o Ministério Público pediu vários vídeos à RTVE, ao El País e ao As que poderão servir como meio de prova.

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“Cometi um erro, peço perdão por isso, mas vamos ser claros: em nenhuma circunstância se trata de uma agressão sexual. Tenho plena confiança de que a verdade verá a luz e tudo estará bem. Olha para a minha cara, sou um bom tío“, prossegue na conversa descrita por Piers Morgan como “crua, poderosa e emotiva” com “o homem que se tornou o mais infame do mundo”. “Tudo isto dá-me muita vergonha, não há desculpas. Em Espanha, tanto com os homens como com as mulheres, há uma expressão que provavelmente se poderia traduzir como ‘Olé, mis huevos‘ ou algo do género. Esta expressão vulgar significa basicamente ‘Bravo, bem feito’. Peço desculpa porque não foi o comportamento que deveria ter tido”, diz Rubiales.

No entanto, todo o caso gerado pelo beijo do líder da RFEF a Jenni Hermoso teve outros desenvolvimentos que passaram um pouco ao lado, neste caso numa entrevista da antiga internacional Verónica Boquete ao Der Spiegel. “Ganhámos uma batalha mas estamos a perder a guerra. No final, Rubiales viu que não fazia qualquer sentido estar amarrado ao seu lugar mas queremos uma mudança mais”, destacou antes de fazer algumas revelações sobre o que se passou depois da final do Mundial. “Houve uma guerra, sabíamos que não havia regras. O telemóvel da Jenni foi hackeado, tiveram acesso a fotos e vídeos. Foi assim que foram filtradas coisas que podiam servir para atacar a vítima. No autocarro também houve outros momentos em que as jogadoras disseram que era algo muito sério e que não se podia tolerar. Como a FIFA proibiu Rubiales de contactar a Jenni, ele tentou encontrar outros caminhos”, apontou ainda a ex-capitã espanhola.

Em paralelo, Verónica Boquete falou também da escolha de Montse Tomé para suceder a Jorge Vilda no comando da seleção feminina que se sagrou campeã mundial. “Tolerou demasiadas coisas e distanciou-se muito tarde de Rubiales. Não ponho em causa que é uma treinadora mas será a melhor que se pode agora encontrar para a melhor equipa do mundo? Creio que não, há outras com mais experiências. É injusto que se diga que como agora existe uma treinadora as jogadoras não se podem queixar. Apesar de preferirmos a Montse ao Jorge [Vilda], é injusto e as jogadoras vão seguir a sua greve”, referiu, antes de criticar também o comunicado feito pela seleção masculina: “É uma tentativa de fugir ao problema, os jogadores não querem as perguntas incómodas mas este é o tempo para as perguntas incómodas e para as respostas valentes. Para a maioria deles o tema não diz nada, o Rubiales não vai beijá-los na boca nem humilhá-los”.

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Já Olga Carmona, heroína da conquista do Mundial com golos decisivos nas meias com a Suécia e na final com a Inglaterra, passou pelo El Hormiguero e falou sobre toda a situação. “O que me dá mais raiva é que esses acontecimentos aconteceram num dia como aquele. É triste conseguir algo histórico e depois isso ficar em segundo plano. Oxalá se fale depois disto que somos campeãs do mundo. Jenni? Nos últimos dias não tenho falado com ela, é uma situação difícil. Ninguém gosta de estar naquele foco e estará a passar momentos mais complicados. Agora chegou ao México para estar com a equipa. Voltar à seleção? Houve várias mudanças, uma nova selecionadora e temos de esperar pela lista de convocadas para ver. Temos de falar entre todas nós para perceber o que se passa. Aquilo que queremos é continuar a crescer como faz o futebol feminino, queremos continuar ao mais alto nível”, comentou a lateral esquerda espanhola.