O patriarca de Lisboa, Rui Valério, confirmou esta quinta-feira que já recebeu da parte do Papa Francisco autorização para dar início ao processo de seleção de nomes que poderão vir a ser bispos auxiliares de Lisboa.
“Já falei com o Papa acerca disso. E o Papa, então, deu-nos autorização para lhe apresentar três nomes de proposta para futuros bispos auxiliares”, disse Rui Valério aos jornalistas após uma sessão de apresentação do plano pastoral para a juventude do patriarcado de Lisboa, que decorreu ao fim da tarde desta quinta-feira num bar do Cais do Sodré.
“Convido-vos a todos para que comecemos a rezar em prol desse objetivo”, acrescentou. Em menos de um ano, a diocese de Lisboa perdeu toda a sua equipa episcopal, tradicionalmente composta por quatro bispos: um patriarca e três bispos auxiliares.
Em novembro do ano passado, o bispo Daniel Batalha Henriques, que era um dos três bispos auxiliares de Lisboa, morreu aos 56 anos na sequência de um longo período de doença, deixando o patriarcado apenas com dois bispos auxiliares: Joaquim Mendes e Américo Aguiar.
Em março deste ano, o bispo Joaquim Mendes completou 75 anos de idade, atingindo assim a idade em que tem de apresentar a renúncia ao Papa. Continua nas suas funções, mas já à espera de ser substituído.
Já este verão, o outro bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, que esteve em larga medida responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude, foi nomeado cardeal e recebeu a missão de se tornar bispo de Setúbal, função que vai assumir no final de outubro.
Tudo isto aconteceu numa altura em que o próprio cardeal Manuel Clemente chegou aos 75 anos e pediu para ser substituído. No início do mês, o anterior bispo das Forças Armadas e de Segurança, Rui Valério, tomou posse como novo patriarca de Lisboa e terá agora de constituir, do zero, uma nova equipa episcopal para trabalhar com ele numa das dioceses católicas de maior dimensão e complexidade do país.
No caso dos bispos auxiliares, o mais certo é que sejam escolhidos padres cujos nomes serão propostos pelo próprio patriarca à Santa Sé — que, depois, determinará a sua ordenação episcopal.
Como explicou Américo Aguiar numa entrevista ao Observador depois da sua nomeação cardinalícia, “os bispos auxiliares são pedidos pelo bispo da diocese”, que apresenta alguns nomes de proposta ao Papa. Foi isso que aconteceu justamente no caso dele: o cardeal Manuel Clemente, que tinha grande confiança no padre Américo Aguiar desde os tempos em que aquele sacerdote tinha sido seu chefe de gabinete no Porto, pediu ao Papa a nomeação de Aguiar como bispo auxiliar de Lisboa.
Por saber que o seu tempo como patriarca de Lisboa se aproximava do fim, Manuel Clemente evitou, nos últimos meses, abrir qualquer processo para a seleção de novos bispos auxiliares.
“A diocese de Lisboa está num estado em que precisa, digamos assim, de ser recomposta na sua equipa episcopal”, disse Manuel Clemente numa entrevista à Agência Ecclesia em julho. “E isso terá de ser feito, necessariamente, por quem vier a presidir a essa equipa. Não pode ser por mim. Se eu agora propusesse outros nomes, a resposta era óbvia: ‘Espere aí que venha o seu sucessor e ele que escolha os seus colaboradores.’ O que é absolutamente natural.”
Rui Valério foi anunciado como novo patriarca de Lisboa no dia 10 de agosto e tomou posse da diocese no fim de semana de 2 e 3 de setembro. Apesar da tradição, não é certo que Rui Valério venha a ser elevado a cardeal num futuro próximo, já que Manuel Clemente continua a manter o estatuto de cardeal eleitor até completar 80 anos — e o Papa Francisco tem procurado evitar que haja dois cardeais eleitores oriundos da mesma diocese.