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"Codex 632": das regras do best-seller para a fórmula do thriller em televisão

Este artigo tem mais de 1 ano

Estreia-se esta segunda-feira na RTP1 (21h) a série que adapta o primeiro romance de José Rodrigues dos Santos. Uma coprodução entre o Brasil e Portugal, fruto de um investimento ambicioso.

Paulo Pires inerpreta Tomás de Noronha, o protagonista herói, que tem de continuar o trabalho de investigação sobre a descoberta do Brasil iniciado pelo mestre que teve um final no mínimo misterioso
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Paulo Pires inerpreta Tomás de Noronha, o protagonista herói, que tem de continuar o trabalho de investigação sobre a descoberta do Brasil iniciado pelo mestre que teve um final no mínimo misterioso

Paulo Pires inerpreta Tomás de Noronha, o protagonista herói, que tem de continuar o trabalho de investigação sobre a descoberta do Brasil iniciado pelo mestre que teve um final no mínimo misterioso

José Rodrigues dos Santos já tinha garantido ao Observador, em agosto de 2022, que a série que adaptou o seu Codex 632 “não seria igual” ao livro. Não é igual à primeira obra do jornalista-escritor, que lhe rendeu um lugar no topo da lista de autores portugueses mais vendidos — e igualmente mais criticados — do panorama nacional; e também não é igual a muitas das produções que temos visto na RTP nos últimos anos. A série que se estreia esta segunda-feira foi feita entre a Spi, braço internacional da produtora SP, e a Globoplay (produtora e plataforma de streaming da gigante brasileiria, onde estará também disponível), e demonstra que o dinheiro conta. Não está em causa a qualidade de guião e de trabalho técnico de outras produções, mas sim os meios que um orçamento — não divulgado — de maior dimensão permite reunir. Isto além do abrir as portas do mercado brasileiro, que parece, muitas vezes, impenetrável para a realidade portuguesa, apesar da proximidade linguística.

[trailer oficial da série “Codex 632”, que se estreia esta segunda-feira, 2 de outubro, às 21h, na RTP1:]

Esse orçamento nota-se no primeiro episódio. E não se resume aos drones que nos conduzem entre o Brasil e o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. É na cor, no tempo que cada cena tem para respirar em apenas 45 minutos, que nem sempre existe no seriado português, ocupado muitas por longos diálogos demasiado literais sobre o que está a acontecer. O professor Martim Toscano vê-se encurralado por um sujeito de capuz, numa noite de muita chuva, dentro de uma favela do Rio de Janeiro. Uma pasta castanha, daquelas que guardam segredos que nos levam à morte na varanda de uma casa, é o ponto de partida para conhecermos Tomás de Noronha, professor da Universidade de Letras, criptoanalista e paleógrafo, com um casamento desfeito e uma filha com trissomia 21 que pode precisar de mais uma operação ao coração.

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Depois da morte do seu mentor Martim Toscano, o protagonista é convidado pela Fundação Américo Vespúcio para o substituir e refazer a sua investigação a fim de descodificar o documento “Codex 632”, sobre quem foi, afinal, a pessoa que “descobriu” o Brasil. Pela dimensão do desafio entregue a um “herói acidental”, tal como dito por Paulo Pires ao Observador (quando estivemos na rodagem da série, no ano passado), estamos quase no plano de um Indiana Jones ao contrário: Tomás de Noronha hesita em aceitar a tarefa, sente-se inapto, mas o dinheiro até lhe dá jeito, qual professor da escola pública. “Não tenho dinheiro para pagar uma pensão de alimentos à Constança [Deborah Secco]”, diz para a colega Vitória [Ana Sofia Martins].

“Codex 632”. A adaptação do livro de José Rodrigues dos Santos que quer entrar no mercado de televisão brasileiro

Há quase 20 anos (desde o lançamento, em 2005) que ouvimos e lemos críticas que veem Codex 632, o livro, como título muito parecido com os livros de Dan Brown. Para José Rodrigues dos Santos, isso é bastante indiferente. “Não me aquece nem arrefece”, garantiu-nos no mesmo momento de rodagem de 2022. O que interessa são, sobretudo, “os enigmas”. A série não segue à risca o livro português, nem o jornalista meteu muito o bedelho nos argumentos. Mas e em relação às adaptações ao cinema, esta série será alvo das mesmas comparações estes primeiros quarenta e cinco minutos, ainda não é possível responder nem para um lado, nem para o outro, No entanto, já se notam os locais exóticos por onde Tomás Noronha irá andar, as cenas de ação em que se verá envolvido — no fim do primeiro episódio, foge de um alegado fotógrafo e acaba a apontar-lhe desajeitadamente uma arma — e recebemos pistas de um possível grupo conspirativo de grandes dimensões que o quer apanhar.

A fórmula está, por isso, bem presente e, tal como aconteceu com Rabo de Peixe (Netflix), de Augusto Fraga, tem objetivos claros: subir o nível de produção e de exigência para estar em linha com o que se faz “lá fora”. Codex 632 é um thriller de aventura, não é muito comum fazer-se cá nem no Brasil. Se olharmos para a Globoplay, não vemos este tipo de conteúdo”, respondeu Sérgio Graciano, realizador da série, ao Observador, no ano passado. Pedro Lopes foi o chefe da equipa de guionistas da Spi e assina este argumento. Com o primeiro episódio, suspeitamos que tenha seguido a regra de um bom thriller, daqueles em que quase tudo se cozinha em lume brando: se não há nada de verdadeiramente relevante para dizer, o melhor é passar para a ação e prolongar o clímax o máximo que se conseguir.

A fórmula está, por isso, bem presente e, tal como aconteceu com Rabo de Peixe (Netflix), de Augusto Fraga, tem objetivos claros: subir o nível de produção e de exigência para estar em linha com o que se faz "lá fora"

O que não se vê em Código Da Vinci (o filme, de 2006) é uma passagem por temas atuais, como o derrube de estátuas que, segundo algumas personagens de Codex 632, glorificam a escravatura portuguesa durante os Descobrimentos. “Isto é vandalismo puro”, argumenta Tomás Noronha. “Têm coragem de dizer as coisas. Não é a escreveres um livro que ninguém vai ler que se muda alguma coisa. A raiva traz essa mudança”, responde Vitória. O herói acidental não é fã de radicalismos e tem raiva de quem pinta estátuas. Nem é muito adepto do facto de a mulher ter voltado ao trabalho, ainda que ressalve que os dois têm culpa no fim do casamento. “Estás cansada há muito tempo”, desabafa.

O protagonista está bem próximo de embarcar numa viagem heroica que é capaz de mudar o estado das coisas. E só levou uma mala. Afinal, tem mais coragem do que se pensa. O que é certo é que há uma jovem que, quase de certeza, se vai meter no caminho de Tomás Noronha, Elena Lan (Bia Wong), estudante de Macau que vem fazer um mestrado para a universidade do professor. Em poucos minutos, entrou duas vezes no seu gabinete para se apresentar e pedir apontamentos. O mais certo é estar, sabe-se lá porquê, num lugar do avião de Tomás Noronha para o Rio de Janeiro.

É esperar para ver se no desenrolar da ação, Tomás Noronha se torna mais adepto de movimentos culturais e consegue enfrentar as forças obscuras que não querem que o professor de 50 anos mais em forma do ensino superior descodifique a investigação do mentor. Sendo uma coprodução entre Portugal e Brasil, é normal que o outro lado do Atlântico tenha uma presença forte no elenco. E se Deborah Seco e Alexandre Borges (este como Nelson Moliarti) encaixam perfeitamente, nos primeiros 45 minutos Betty Faria ainda não deixa a mesma imagem. Interpreta a mulher de Martim Toscano, que fica sozinha numa mansão cobiçada por um agente imobiliário sinistro (José Mata), mas que não tem dinheiro sequer para pagar um táxi. Na parte final do primeiro episódio, ocupa uma posição presumivelmente importante na trama e espera-se que tenha mais importância daqui para a frente, bem mais do que um rosto conhecido da televisão brasileira.

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