Em contagem decrescente para o casamento da infanta Maria Francisca com Duarte de Sousa Araújo Martins mudamos o rumo e trocamos o Palácio de Mafra, em cuja basílica vai acontecer a cerimónia religiosa, pelo Palácio da Ajuda, onde está o Museu do Tesouro Real, em busca de peças emblemáticas que contem a história da dinastia de Bragança.
Já sabemos que a noiva vai usar uma tiara que pertenceu à rainha Dona Amélia e que foi um presente de casamento do sogro, o Rei D. Luís, em 1886. Mas a dinastia de Bragança começou no século XVII, com o Rei D. João IV. Desde então a realeza portuguesa mudou-se para o Brasil, regressou a Portugal e assistiu ao fim da monarquia. No Museu do Tesouro Real, entre as joias e outros objetos expostos, contam-se episódios da história de Portugal e, com a ajuda de Margarida Barros, do serviço educativo do museu, reunimos sete joias emblemáticas da dinastia de Bragança que podem ser vistas no museu.
A última coroa portuguesa
Pesa quase dois quilos e meio de ouro maciço, mas o peso histórico é muito superior. Esta é a última coroa portuguesa e a única que chegou aos dias de hoje. Foi criada para a aclamação do Rei D. João V no Rio de Janeiro em 1818, que foi, por sua vez, a última cerimónia de aclamação da história nacional segundo o ritual do antigo regime. A coroa foi criada especialmente para a aclamação do Rei D. João VI no Rio de Janeiro, em 1818.
Em 1646 o Rei D. João IV coroou Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa como rainha de Portugal como agradecimento pela proteção concedida na Restauração da Independência de Portugal face a Espanha. Desde então nenhum soberano português é coroado e, na cerimónia de aclamação, a coroa ficava colocada sobre uma almofada.
Uma coroa de estrelas
O Diadema das Estrelas foi encomendado pela rainha Maria Pia, consorte do Rei D. Luís e mãe do Rei D. Carlos. A joia foi criada em 1868, mas foi sendo alterada sucessivamente. Em 1910, data da implantação da República, a peça contava com 25 estrelas, as que se mantiveram até hoje. As estrelas estão montadas sobre molas, o que faz com que oscilem ligeiramente com o movimento. No Museu do Tesouro Real esta tiara está exposta junto a um colar que também tem estrelas, em ouro e diamantes, data de 1865 e está assinado pelo mesmo criador do diadema.
O interesse pela astronomia no século XVIII levou a que estrelas e a Lua em quarto crescente se tornassem motivos de inspiração que também influenciaram a joalharia. No século seguinte as estrelas entraram na moda e ficaram para a história peças tão icónicas como por exemplo as estrelas que a imperatriz Sissi usava nos seus longos cabelos e com as quais foi retratada. A consorte da Áustria encomendou 27 estrelas em diamantes e pérolas a à casa joalheira de Viena Köchert and Pioté.
Um laço-joia para corpetes
Este laço será uma das joias do tesouro nacional mais reconhecíveis, dentro e fora de fronteiras. Além de ser uma peça muito expressiva é também igualmente rica, é uma joia icónica setecentista que sobreviveu ao passar dos anos e tem estatuto de peça internacional que figura em livros sobre esta temática. Importa explicar que este laço não se trata de uma pequena pregadeira, mas sim de um adereço de corpete, ou seja, é uma joia maior que se usava no centro do peito.
É composto por diamantes e esmeraldas montados em prata e prata dourada. As pedras verdes que adornam esta peça são de origem colombiana e duas delas estão classificadas como “gota de aceite”, uma expressão usada para classificar uma característica de clareza que está associada a esmeraldas colombianas e a esmeraldas de qualidade superior. A maior esmeralda pesa, aproximadamente, 48 quilates e o maior diamante pesa, aproximadamente, 24 quilates. Esta joia pertenceu à rainha de Espanha D. Maria Bárbara de Bragança (1711–1758), filha de D. João V, que a deixou, em testamento, à sobrinha, a infanta D. Maria Ana (1736–1813), irmã da rainha D. Maria I. O laço foi feito em Espanha e data do século XVIII, já a borla pendente é portuguesa e foi feita em meados do século XX.
A caixa que impressionou a corte de Paris
O Rei D. José (1714-1777) encomendou esta pequena caixa de rapé a um joalheiro francês, mas antes de chegar a Portugal, a peça encantou a corte francesa. Segundo contou o embaixador de Portugal em Paris, António Saldanha, a caixa de rapé foi mostrada no Palácio de Versalhes para ser apreciada pela marquesa de Pompadour, a então amante e conselheira Rei Luís XV. A caixa impressionou a corte de Paris e viria a impressionar também a de Lisboa.
O rapé é um tipo de tabaco em pó que é inalado em vez de fumado e o uso destas caixas era comum na época. A encomenda da peça foi feita em 1755, depois do terramoto que destruiu a capital nacional nesse ano, e foi um gesto político com o objetivo de afirmar o poder financeiro do Rei de Portugal na sequência da catástrofe. Esta caixa de rapé foi encomendada a Pierre André Jacqmin, o joalheiro de Luís XV, e foi criada em estilo Rococó, decorada com motivos vegetais e com 951 diamantes, que foram fornecidos pelo próprio D. José I, também com 240 esmeraldas e ainda um grande diamante com, aproximadamente, 30 quilates. A peça foi considerada uma obra-prima da joalharia francesa do século XVIII.
Uma insígnia que é uma valiosa joia
Esta joia é uma das peças mais valiosas do museu, segundo explicou aos jornalistas o diretor do Palácio Nacional da Ajuda, aquando da inauguração. A joia é feita em ouro e prata e conta com 1700 diamantes, 190 rubis e uma safira. Esta insígnia tem a sua própria vitrine no museu e, além de um brilho muito intenso e uma estética rebuscada, diz respeito a uma ordem muito importante, a do Tosão de Ouro.
Esta insígnia-joia foi encomendada pelo príncipe regente D. João, futuro D. João VI (1767-1826) que, tal como a mãe, a rainha Dona Maria I, tinha um gosto especial por condecorações-joia com muitos diamantes. O Rei deixou a peça em testamento ao filho D. Miguel, mas depois da guerra civil nacional de 1832-1834, esta foi guardada num baú depositado no Banco de Lisboa (depois Banco de Portugal). Viria a ser comprada pelo Estado português aos herdeiros de D. Miguel em 1943.
Um cofre de Paris para o Rio de Janeiro
Este guarda-joias foi encomendado pelo Rei D. João VI (1767-1826), imperador do Brasil, a propósito do casamento do filho, D. Pedro, e de D. Leopoldina, que viria a ser realizado por procuração, em Viena, a 13 de maio de 1817. O presente destinava-se aos aposentos dos príncipes no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
A peça foi encomendada à Maison Odiot e quem intermediou a aquisição foi o “Chevalier de Brito”, ministro plenipotenciário da corte portuguesa em Paris. A caixa é ela própria uma verdadeira joia, decorada com motivos greco-romanos, à semelhança do estilo de que Napoleão Bonaparte, imperador de França na altura, tanto gostava. A encomenda do Rei constava, na realidade, em quatro cofres. Este é um deles e foi herdado por D. Maria II, viria depois a ser usado como guarda-joias por D. Maria Pia.
Um ceptro para Dona Maria II
A Rainha Dona Maria II deu uma receção oficial em Londres, em 1828, e recebeu um presente muito especial. Os simpatizantes da causa liberal que estavam exilados na Grã-Bretanha uniram-se para oferecer à soberana portuguesa um ceptro cheio de simbologia relativa à monarquia constitucional. O dragão das armas reais desde o século XIX e ainda atualmente usado pela casa de Bragança, tem um escudo com as cinco quinas, sobre o animal está a Carta Constitucional e, sobre esta, a coroa real, símbolo da realeza.