“Sendo este um momento de projeção para o exterior, os monárquicos juntam-se para ajudar”, explica ao Observador João Távora, presidente da Real Associação de Lisboa. A 7 de outubro, Mafra vai encher-se de festa para receber a boda real da infanta Maria Francisca com Duarte de Sousa Araújo Martins. Quase 600 voluntários responderam à chamada para dar vida às animações de rua, ranchos folclóricos, tunas, distribuição de bandeiras e orientação de convidados, entre uma panóplia de outras tarefas. Responsável por estes — e por garantir que o próximo sábado será um “sucesso” — está precisamente a organização monárquica que abre este artigo. “Não há muitos momentos que tragam à tona a causa monárquica e o casamento real é, por natureza, um grande acontecimento.”

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O evento para “partilhar com toda a gente que queira”, como explicava ao Observador em meados de setembro a duquesa de Bragança, Isabel de Herédia, sobre o casamento da filha, espera encher o Terreiro D. João V, em frente à Basílica de Mafra, de entusiastas e de curiosos. Nessa mesma praça, dois ecrãs gigantes — de 5 metros de largura por 3 metros de altura — vão transmitir em direto a cerimónia (marcada para as 15 horas). A toda a volta, estarão espalhados 10 pendões de três metros de altura por um metro de largura. Metade terá a bandeira azul e branca da monarquia e a outra metade o monograma dos noivos. Intercalados, estarão 10 mastros com 10 bandeiras das principais dinastias portuguesas, desde a fundação de Portugal até 1910.

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O monograma dos noivos

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“O monograma dos noivos está encimado por um coronel de duque (a infanta é duquesa de Coimbra) e foi inspirado no monograma de Dom Duarte e Dona Isabel. O brasão do noivo representa três famílias do seu ramo materno: Sousa (do Prado), Castro, e as armas de mercê nova atribuídas no final do século XIX ao 1.º conde de Pinhel (seu trisavô). Ambos foram desenhados por Luís Camilo Alves, ilustrador oficial do Instituto da Nobreza Portuguesa, licenciado em Design Gráfico e Artista Plástico.”

João Távora, Presidente da Real Associação de Lisboa

Às bandeiras em ponto grande, juntam-se cerca de 1200 bandeiras em ponto pequeno, que serão distribuídas entre os populares que se juntarem no Terreiro. Para quem quiser levar uma recordação para casa, a Real Associação de Lisboa vai ter por lá uma banca de lembranças e merchandising, incluindo duas peças comemorativas da Vista Alegre mandadas produzir de propósito para a ocasião, uma caixa de cartas e um saleiro, que terão respetivamente 90 e 150 unidades numeradas para coleção. “No mesmo sentido, encontram-se em produção 250 cinzeiros produzidos pelo oleiro de Mafra Norberto Batalha, com custo mais acessível”, acrescenta João Távora.

Serão várias centenas de voluntários envolvidos nas animações de rua e na logística. “Houve algumas polémicas em relação ao voluntariado, mas nós aqui somos todos voluntários”, esclarece. “Todos nós temos empregos e, quando somos chamados pela casa real, estamos presentes.” Alguns deles estarão responsáveis por encaminhar os convidados, mas também por apoiar na alimentação dos próprios voluntários, incluindo de centenas de animadores de rua. O Grupo de Danças e Cantares de Santo Estêvão das Galés, o Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Arcos de Valdevez, os Antigos Orfeonistas da Universidade do Porto e o Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Pampilhosa da Serra são apenas alguns dos cerca de 20 grupos envolvidos nas celebrações.

As lembranças mandadas fazer pela Real Associação de Lisboa. Um cinzeiro e uma caixa de cartas da Vista Alegre, e um cinzeiro do oleiro Norberto Batalha

Junto ao Jardim do Cerco, na parte lateral do monumento, estará uma área de descanso com mesas e cadeiras, comes e bebes para voluntários e todos os animadores. “A Central de Cervejas cedeu-nos uma banca de bebidas com cinco mesas e uma pequena esplanada, precisamente para o apoio na logística. Vamos ter um porco no espeto para servir sandes de porco assado a todos os participantes na realização da festa.” E opção vegetariana, há? “Pão e sumos (risos). Tem razão em lembrar-me disso, ainda se pode arranjar qualquer coisa.”

Para a Real Associação, este evento “é de uma grande exigência”. “Sábado de manhã vamos também fazer uma volta pelo comércio local e distribuir panfletos a explicar o que vai acontecer, para não haver surpresas e para as pessoas inteirarem-se do evento. E acrescenta, sobre a farda desta taskforce: “Vamos ter umas gravatas e lenços bonitos para identificar devidamente os rapazes e raparigas que vão estar a ajudar.”

Sobre a Real Associação de Lisboa

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A Real Associação de Lisboa é a maior organização monárquica do país de âmbito regional. “Temos quase 2 mil associados, publicamos uma revista duas vezes por ano, organizamos palestras e bastantes atividades na área da doutrina e da história da monarquia.” É uma organização “de direito civil e autónoma, com assembleia geral e congresso. Nós existimos para servir a Casa Real Portuguesa e os monárquicos que querem ter uma ligação com este ideal. Somos completamente autónomos.”

João Távora, Presidente da Real Associação de Lisboa

A poucos dias do casamento real, a maior preocupação de João Távora é um elemento que foge ao controlo da Real Associação de Lisboa: a meteorologia. “Caso chova, a animação de rua fica bastante comprometida.” Se for necessário, será instalada uma tenda no exterior da Basílica “para a entrada dos convidados e para os noivos se aproximarem das pessoas que teimosamente se mantiverem à chuva”, mas não há como proteger o “gigantesco” Terreiro D. João V de uma queda de água. “É um fator de desmobilização e torna difícil a atuação.”

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Para o presidente da Câmara Municipal de Mafra, a boda real é “uma oportunidade para reforçar a promoção do município, não só pela participação de dignitários nacionais e estrangeiros, como também pela cobertura mediática.” Neste sentido, Hélder Sousa Silva destaca a visibilidade do acervo instrumental da Basílica do Palácio Nacional de Mafra, distinguida em 2019 como Património Mundial pela UNESCO. A componente musical da cerimónia conta com os seis órgãos históricos que, embora originalmente instalados durante o reinado de D. João V, foram substituídos por outros de maior qualidade durante o período de regência do futuro D. João VI. “Conjunto único no mundo, não só pela dimensão, já de si notável, mas também pelo facto de terem sido concebidos para utilização simultânea”, destaca o autarca ao Observador.

O soar dos famosos carrilhões, particularmente o da torre sul da Basílica, é um dos grandes acontecimentos do dia para o município. “Um instrumento histórico de referência mundial”, que faz parte de uma aparelhagem sineira mais complexa, integrada por 119 sinos distribuídos entre duas torres. “Incluindo os sinos de horas, de bamboar e dos dois grandes carrilhões de concerto, mandados instalar pelo rei D. João V, em 1730.”

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O contacto entre a autarquia e a família real iniciou-se em junho deste ano. “Sendo esperada a presença de um elevado número de convidados e de público, a autarquia tem vindo, no âmbito das suas atribuições em matéria de proteção civil, a cooperar com a família de modo a assegurar que estão reunidas condições de segurança adequadas.” Vai ser precisamente da Câmara Municipal de Mafra que a infanta Maria Francisca vai sair de charrete, partindo da Praça do Município e percorrendo as ruas de Mafra em direção à Basílica do Palácio Nacional de Mafra.

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Essa viagem de charrete, de resto, representa o único momento do dia em que o trânsito vai estar parcialmente cortado em Mafra. “Aí é mesmo necessário, por uma questão de segurança e para evitar embaraços”, informa o Comandante Bartolomeu Costa Cabral. Conhecido no meio militar e policial responsável por Coronel Costa Cabral, é o responsável pelo plano de segurança da boda real. Oficial da guarda reformado, esteve mais de 29 anos na GNR e foi condecorado, em 2011, com a medalha de ouro de serviços distintos pelo Ministério da Administração Interna. “Sou conhecido de D. Duarte e de Dona Isabel há muitos anos”, revela ao Observador.

Como se organiza uma operação destas? “É semelhante ao que acontece de norte a sul do país com uma data de eventos semelhantes”, responde. “Este tem a particularidade de reunir um grande número de convidados, muitos deles pessoas conhecidas pelo público a nível nacional e internacional.” Semelhante a outros eventos, mas com uma ressalva: “É uma infanta de Portugal que vai casar, isso não acontece todos os dias.”

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Embora sem avançar números de operacionais, explica que o plano de segurança envolve a GNR, a Polícia Municipal, a Proteção Civil, bombeiros e equipas de socorro. “A GNR e a Polícia Municipal estarão responsáveis pela via pública”, continua. “Se for preciso evacuar alguém ou alguém se sentir mal, chama-se uma ambulância, como acontece normalmente.” Para controlar os acessos a pé e de carro, a operação conta ainda com o apoio de uma equipa de segurança de uma empresa privada, que vai orientar quem chega e encaminhar os veículos para o estacionamento.

“É um evento que não é nada de transcendente em termos de segurança”, admite o Coronel Costa Cabral. “Não implica medidas extraordinárias porque, no fundo, é um casamento, ainda por cima de pessoas queridas como são os noivos.” Quantas pessoas vão aparecer em Mafra nesse dia? Para essa questão ninguém tem resposta. “Depende do tempo, dos acontecimentos que possam acontecer naquela zona, do entusiasmo com que as pessoas queiram assistir”, considera o Coronel, antes de acrescentar, recordando a enchente que, em 1995, foi ver Duarte Pio de Bragança e Isabel de Herédia a saírem como marido e mulher dos Jerónimos: “Estou convencido que vão estar muitas pessoas. Os portugueses gostam que os representantes de uma casa real se casem e esse evento não passa despercebido. É bom que também haja festas no país, não é?”

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