A Liga dos Combatentes identificou mais de 1.500 militares que morreram em Angola em quase 200 espaços cemiteriais e ofereceu-se para reabilitar dois cemitérios em Luanda para honrar a memória dos militares que combateram pelas Forças Armadas Portuguesas.
O anúncio foi feito esta sexta-feira pelo presidente da instituição, tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, no final de uma visita a Angola, a segunda integrada na Operação Embondeiro, que resulta do Programa Estratégico Estruturante “Conservação das Memórias” da Liga dos Combatentes.
Este programa visa garantir a dignidade dos espaços onde, no mundo inteiro, caiu um português”, explicou.
O programa já passou pela Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor-Leste onde foram exumados restos mortais de portugueses que serviram as forças armadas e recuperadas áreas cemiteriais.
Agora foi a vez de virmos a Angola”, disse Chito Rodrigues, adiantando que iniciou a fase preparatória em 2019, altura em que visitou, entre outros pontos, os cemitérios de Santa Ana e do Alto das Cruzes, em Luanda.
No entanto, a missão foi interrompida devido à pandemia, tendo os trabalhos sido reiniciados agora, com o apoio do executivo angolano e de entidades como a Federação dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria de Angola.
É uma operação complexa, prolongada no tempo, porque Angola é um grande país e durante os conflitos do século passado tanto militares provenientes da então metrópole como os recrutados localmente caíram ao serviço das Forças Armadas Portuguesas e estão espalhados por Angola inteira”, notou.
O levantamento feito permitiu referenciar 187 lugares, incluindo cemitérios e outros espaços de sepultamento, onde existem restos mortais de militares, num total de 1.548 referências, disse.
No terreno, acrescentou, encontraram-se “problemas que o tempo criou” e que dificultam a localização dos corpos.
“Nesta fase, estamos preocupados em resolver alguns problemas que temos em Luanda “, destacou, avançando que a Liga se propôs a reabilitar os cemitérios do Alto das Cruzes, onde estão inumados 109 militares que caíram durante a Grande Guerra, e o de Santa Ana, com cerca de 500 sepulturas de militares que caíram durante a Guerra Colonial.
Os cemitérios necessitam de algum trabalho para que tenham a dignidade que nós procuramos neste nosso programa” e honrar a memória dos que se bateram pelo seu país, “exumando uns, reabilitando outros e dando a um monumento que está no cemitério de Santa Ana a dignidade que merece o esforço de um país e de umas forças armadas igual à daqueles que se bateram na altura e hoje estão em Angola ao nosso lado”, apontou o militar.
Chito Rodrigues adiantou que está a ser estudada a forma de dignificar os espaços onde Portugal tem militares caídos nos cemitérios do Alto das Cruzes e Luanda, “sem chocar e jamais confrontar situações” com que se depararam e “respeitando aquilo que o tempo e as circunstâncias foram criando”.
A Liga está também aberta a solicitações das famílias que pretendem transladar corpos, referiu.
Operações semelhantes noutros países de língua oficial portuguesa levaram à criação de ossários, reconstituição de cemitérios e monumentos relacionados com este tema, disse o dirigente.
A Liga dos Combatentes já contactou cinco empresas angolanas para a execução destes trabalhos, que serão apoiados por fundos do Estado português e da própria Liga, e está a aguardar o envio das propostas.
Este é um processo que se integra no ADN da Liga dos Combatentes que é garantir a dignidade dos lugares onde se encontram militares caídos ao serviço das Forças Armadas”, sintetizou o tenente-general.