Várias pessoas foram detidas este domingo após o funeral da adolescente iraniana Armita Geravand, de 16 anos, que morreu vítima de um alegado ataque de agentes da polícia da moralidade no Teerão, por não usar véu.

Os meios de comunicação social iranianos próximos da oposição do Governo do Irão informaram que o enterro ocorreu no cemitério Behesht Zahra, no Teerão, apesar do desejo expresso da sua família de que o corpo fosse trasladado para a sua cidade de origem, Kermanshah, uma zona de maioria curda.

Um grande contingente de forças de segurança esteve presente no funeral da adolescente Armita Geravand e filmou os participantes, possivelmente para evitar que a cerimónia se transformasse num protesto contra as autoridades, como o desencadeado após a morte de Mahsa Amini, vítima de ataque semelhante, noticiou o canal de televisão Iran International, que cita um dos participantes.

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Alguns dos participantes no funeral entoaram slogans como “Armita, a tua alma está feliz” ou “esta flor é um presente para o país”.

Não foram realizadas detenções durante o funeral, mas alguns dos que apoiaram os cantos foram detidos depois. Vários telemóveis também foram confiscados por estarem a ser usados para gravar a cerimónia fúnebre.

A organização não governamental (ONG) de direitos humanos Hengaw confirmou a detenção de várias mulheres e de pelo menos dois familiares da jovem falecida.

O canal de televisão Iran International também informou que foi “intensificada” a pressão sobre a família de Armita Geravand.

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Os meios de comunicação iranianos difundiram imagens das câmaras de segurança em que várias pessoas tiram a jovem do comboio “depois de sofrer uma quebra de tensão”, embora não haja registos dos momentos anteriores, pelo que várias ONG suspeitam que as autoridades estejam a tentar encobrir o incidente.

A ONG Iran Human Rights (IHR) e a oposição no exílio apelaram a uma investigação internacional independente sobre a morte de Armita Geravand.

A adolescente, que viajava no metro de Teerão, a 1 de outubro, sem lenço na cabeça, terá sofrido um ferimento, reacendendo a discussão num momento em que o Irão colocou na rua a ‘polícia da moralidade’, a qual os ativistas implicam na morte polémica de Mahsa Amini no ano passado, que causou protestos anti-regime um pouco por todo o país.

Ao mesmo tempo, os legisladores do país estão a discutir penas ainda mais rigorosas para quem desrespeita o uso do hijab. Para as mulheres muçulmanas praticantes, cobrir a cabeça é um sinal de piedade diante de Deus e modéstia diante de homens.

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No Irão, o hijab — e o abrangente xador preto usado por algumas mulheres — também é há muito tempo um símbolo político, especialmente depois de se tornar obrigatório nos anos que se seguiram à Revolução Islâmica de 1979.