Avançou pela primeira vez às eleições do FC Porto em 2020, terminando com menos de 5% dos votos numa reeleição de Pinto da Costa que teve José Fernando Rio com quase 26,5%, está de novo apostado em avançar no sufrágio do próximo ano. Sob o lema “FC Porto líder do seu próprio destino”, Nuno Lobo, empresário da área da restauração e professor de 53 anos, já começou a recolher assinaturas para entregar de novo uma lista à liderança dos azuis e brancos, tendo sido descrito na recente entrevista do atual líder à SIC como “o único candidato confirmado às eleições” a propósito da renovação de Sérgio Conceição. Para já, o foco passa pela nova Assembleia Geral dos azuis e brancos, neste caso para votar o Relatório e Contas do exercício de 2022/23, com essa “condição” de que o que se passou há duas semanas não poder voltar a repetir-se.
Em entrevista ao programa “Nem tudo o que vai à rede é bola”, Nuno Lobo abordou não só os incidentes que marcaram a reunião magna de dia 13 como a suspensão da segunda parte (o que em termos práticos acabou por adiar as propostas de alterações estatutárias) e o novo encontro desta quarta-feira, ao mesmo tempo que tentou descortinar possíveis motivos para alguns assobios que se ouviram no momento em que a claque dos Super Dragões cantou o nome de Pinto da Costa na partida com o Montalegre. “Acho que os Super Dragões não são os culpados de tudo, Pinto da Costa não é o culpado de tudo, há outras pessoas que rodeiam o presidente que não podem sacudir a água do capote…”, apontou, numa crítica aos administradores da SAD.
[Ouça aqui a entrevista de Nuno Lobo no programa “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador]
“Num passado com mais de 40 anos de história, pelos títulos que o FC Porto ganhou, a contestação a Pinto da Costa nunca foi muita. Agora, a principal razão para isso é que as contas nos últimos dez, 12 ou 13 anos serviram de alerta, também com a entrada no regime do fair play financeiro. Isso foi o despoletar da situação que se viu depois na Assembleia Geral. Ao mesmo tempo, houve uma chamada massiva dos sócios que queriam ver e ainda o que estava em causa, a alteração de estatutos. Estive presente em algumas, desde 2020 com 100 ou 120 pessoas, e nunca se tinha visto nada disto”, começou por dizer.
[Já saiu: pode ouvir aqui o quarto episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui e o terceiro episódio aqui.]
“Neste processo a culpa vai morrer solteira, os focos de contestação, problemas e violência foram em vários sítios do Pavilhão. Vamos culpar quem? Os processos estão a decorrer nas respetivas instâncias mas a culpa morrerá solteira. A aberração dos estatutos era tão grande… Não entendo aquilo que disse o presidente, que não corroborava com nenhum dos pontos que ia ser discutido. Eu próprio o único ponto que poderia votar a favor era a passagem das eleições de abril para junho, o resto era 100% contra. O presidente devia ter começado a entrevista com esse tal pedido de desculpas que não foi feito. Depois, ao primeiro sinal de escaramuça devia ter sido logo tudo parado”, comentou, entre outras problemas a nível logístico.
“Devia ter havido mais respeito pelos sócios, que ficaram cá fora à espera de uma pulseira para entrar no Dragão Arena. Se vi alguma passagem de pulseiras como apontou André Villas-Boas? Eu não vi mas não há fumo sem fogo, por isso é que propus, e espero que aconteça esta quarta-feira, que a entrada seja com o cartão de sócio, com torniquete como no Estádio. Tenho a certeza que é possível organizar uma Assembleia, o meu único receio é mesmo se houver a mesma afluência. Não conheço em pormenor os Estatutos mas se a afluência for a mesma as pessoas não cabem todas no pavilhão… Sugeri na altura que pudesse passar para o Pavilhão Rosa Mota, que tem uma capacidade maior. A sonorização do Dragão Arena também era inaudível de acordo com o que me foram passando”, apontou ainda Nuno Lobo.
FC Porto com prejuízo de 2,43 milhões no exercício do clube em 2022/23
Apesar desse ambiente, o candidato à liderança dos dragões acredita que o Relatório e Contas irá ser votado de forma favorável entre “farpas” aos pares do atual presidente. “Tenho de acreditar no presidente Pinto da Costa e naquilo que ele disse em relação a debelar os capitais próprios negativos até dezembro. Sei que se falou muito do encaixe do Otávio que vamos ter agora. Desconheço a fundo o processo da Legends, que vai fazer a exploração comercial do Dragão. Há uma entrada inicial no acordo que será para isso e temos de acreditar naquilo que o presidente disse. Também não falta muito, vamos aguardar… O timing tem de ser agora pela situação que o FC Porto atravessa. As pessoas podem imaginar que quem vier feche a porta, já devia ter sido feito antes, vai ser agora. Fui o primeiro candidato em 2020 a defender o naming do Estádio e do Pavilhão, que deixou de ter a parceria com a Caixa. Isso continua a ser deixado de lado e era mais uma fonte de receita como nos grandes clubes europeus, como o Bayern”, frisou.
“Contestação? São quase 42 anos de exercício à frente de um clube, é normal que isso possa acontecer tendo em conta as contas desequilibradas, os plantéis desequilibrados sem hipóteses de reforçar tanto a equipa e a última Assembleia Geral. Acho que os Super Dragões não são os culpados de tudo, que Pinto da Costa não é o culpado de tudo, há outras pessoas que rodeiam o presidente que não podem sacudir a água do capote… Todas essas situações fizeram com que tivesse os assobios quando se ouviu o cântico. São momentos difíceis que espero que sejam debelados da forma mais rápida possível a bem da instituição. Não cabe na cabeça de ninguém prémios de 280 mil euros. O que os nossos administradores auferem, e falo de prémios e não de ordenados… Se o FC Porto estivesse bem de finanças e estável, tudo bem; no período de crise em que estamos, damos prémios chorudos à administração? Depois, têm saído vários ativos a custo 0 pelas não renovações a tempo além dos investimentos que nada trouxeram de novo. Num clube que apresenta ano após ano prejuízo mantém as mesmas caras na administração”, acrescentou.
FC Porto: revisão estatutária adiada e Assembleia Geral cancelada
Em paralelo, Nuno Lobo abordou também os objetivos que terá para o sufrágio de 2024. “Mais tarde direi o que significaram ou significam esses 5%. Acho estranho que alguém se candidate, reúne o número de assinaturas e depois depara-se com uma realidade em que só quem subscreveu a minha lista é que votou em mim, mas deixarei para um futuro próximo. O que pretendo para o FC Porto assenta em dois pilares. Tenho um programa que fiz em 2020 com 250 propostas no vetor desportivo, económico e social. Falei no naming, num smart stadium, um scouting sério e assertivo que faça com que não entrem camionetas de jogadores, que não entendo. Temos de apostar fortemente no scouting e na formação, as últimas vendas vieram quase todas da formação. Continuamos à espera da Academia, espero que não aconteça aquilo que aconteceu com a piscina do antigo estádio, que ficaram lá os buracos e nunca avançou”, comentou.
Por fim, e sobre possíveis acordos entre quem estiver disponível para avançar contra Pinto da Costa, Nuno Lobo admitiu que “não houve nenhum contacto de ninguém para poder uniformizar listas”. “Levarei a minha candidatura até ao fim. De André Villas-Boas, fala-se muito mas só sei daqueles infelizes ataques à porta de sua casa. Ele comenta o que se passa mas propostas não ouvi nenhuma. Estamos a falar do FC Porto, não pode ser do pé para a mão. Disse que estava a fazer a equipa, eu tenho uma equipa quase pronta e um programa. Enquanto Villas-Boas não se assumir o candidato, pouco posso dizer”, concluiu.
Petardos, segurança agredido e roubado e insultos: novos desacatos à porta da moradia de Villas-Boas