O Congresso dos EUA formalizou esta quinta-feira uma investigação a alegadas manifestações de antissemitismo em três das principais universidades do país, após as respostas das líderes das instituições durante uma audição congressional no início da semana ter gerado polémica.

O aumento nas denúncias de casos de antissemitismo nos campus universitários após o início da guerra entre Israel e o Hamas tem levantado questões quanto à ação das instituições para controlar estes casos – questões essas que foram colocadas diretamente às presidentes das universidades de Harvard, Penn State e M.I.T numa audição na Câmara dos Representantes, e cujas respostas se tornaram virais nas redes sociais.

No vídeo, é possível ver a congressista republicana Elise Stefanik a colocar repetidamente questões às responsáveis universitárias, mostrando indignação perante as respostas evasivas das mesmas.

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“Instar ao genocídio de judeus viola o código de conduta de Penn sobre bullying e assédio?” questionou a congressista, à qual a presidente daquela instituição, Elizabeth Magill, respondeu: “se as palavras se tornarem ações isso pode ser considerado assédio”. Uma resposta que não convence a congressista que, incrédula, questionou: “Que ações? Cometer o ato de genocídio?”.

A mesma pergunta recebeu uma resposta evasiva por parte de Claudine Gay, a presidente de Harvard. “Depende do contexto (…) Se a retórica antissemita passar para o nível de bullying e assédio, aí agimos”, disse, recusando-se a responder no afirmativo quando Stefanik voltou a colocar o exemplo de “instar ao genocídio de judeus”.

Também a presidente do M.I.T, Sally Kornbluth, se recusou a responder de forma afirmativa à questão. “Até ao momento não ouvi gritos de genocídio contra judeus no nosso campus”, disse. Perante a insistência de Stefanik – “já se ouviram apelos a uma Intifada” – Kornbluth retorquiu apenas que ouviu “cânticos que podem ser encarados como antissemitas, dependendo do contexto”.

“Não depende do contexto. A resposta é sim, e é por isso que todas vocês se deviam demitir. Esta respostas são inaceitáveis”, acabou por declarar a congressista, ela própria graduada de Harvard.

O momento aconteceu ao fim de quase cinco horas de audição e rapidamente se tornou viral nas redes sociais, com dezenas de milhões de visualizações desde terça-feira. As declarações das responsáveis universitárias foram inclusive partilhadas pelo governo israelita nas redes sociais.

Perante as críticas e pedidos de demissão, Gay, Magill e Kornbluth – que, nas suas declarações de abertura no início da audição, condenaram diretamente as aparentes manifestações de antissemitismo nos campus universitários – emitiram comunicados a clarificar as suas posições. Uma clarificação que, para muitos, não foi suficiente, e que já levou à abertura de uma investigação formal.

Entretanto a presidente de Harvard, pediu desculpa pelas suas declarações perante o congresso. “Peço desculpa porque as palavras fazem diferença”, afirmou Claudine Gay ao jornal da universidade The Harvard Crimson. Sobretudo, acrescentou, quando as palavras amplificam o sofrimento e a dor, não sei como poderia sentir outra coisa que não arrependimento”.

“Depois das respostas patéticas e moralmente questionáveis que ouvimos por parte das presidentes às minhas questões, o Comité para a Educação e o Trabalho vai lançar oficialmente uma investigação congressional a Penn State, Harvard, M.I.T e outras instituições”, anunciou Stefanik em comunicado.

EUA avançam com medidas contra antissemitismo nas universidades

“É inacreditável ter de dizer isto: apelar ao genocídio é monstruoso e vai contra tudo aquilo que representamos enquanto país”, disse Andrew Bares, porta-voz da Casa Branca.

“Não devia ser difícil condenar o genocídio contra judeus, genocídio contra qualquer grupo”, afirmou o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, o estado onde fica a universidade de Penn State. “Os líderes têm uma responsabilidade de falar e agir com clareza moral. Liz Magill falhou este teste simples”.

Na quarta-feira à tarde, uma petição a pedir o afastamento de Magill do cargo na Penn State já tinha recolhido mais de 3.000 assinaturas. De acordo com o New York Times, durante uma reunião extraordinária realizada por telefone esta quinta-feira, o conselho de administração da faculdade não aprovou um voto no sentido de demitir a responsável, mas instou-a a representar com mais clareza a sua posição e a da faculdade.

Já o conselho superior do M.I.T. saiu em defesa de Kornbluth. Em comunicado, a universidade descreve a presidente como alguém que, “tem feito um excelente trabalho à frente da nossa comunidade, incluindo no que diz respeito a questões relacionadas com antissemitismo, islamofobia e discursos de ódio”.

O rabino David Wolpe, um membro proeminente da comunidade académica que integrou um comité consultivo para instâncias de antissemitismo em Harvard, na sequência dos ataques de 7 de outubro – cargo que veio depois a abandonar – defendeu Claudine Gay, descrevendo-a como uma pessoa “bondosa e inteligente”.

Wolpe considerou, no entanto, que os problemas de antissemitismo em Harvard são estruturais, razão pela qual disse ter abandonado o seu posto no comité já que, diz, este não faz a diferença.