O Congresso dos EUA formalizou esta quinta-feira uma investigação a alegadas manifestações de antissemitismo em três das principais universidades do país, após as respostas das líderes das instituições durante uma audição congressional no início da semana ter gerado polémica.
O aumento nas denúncias de casos de antissemitismo nos campus universitários após o início da guerra entre Israel e o Hamas tem levantado questões quanto à ação das instituições para controlar estes casos – questões essas que foram colocadas diretamente às presidentes das universidades de Harvard, Penn State e M.I.T numa audição na Câmara dos Representantes, e cujas respostas se tornaram virais nas redes sociais.
Rep. Elise Stefanik repeatedly asked the presidents of MIT, Harvard and Penn if calling for the genocide of Jews violated the schools' code of conduct in a contentious congressional hearing.
The leaders are now facing criticism for their responses. https://t.co/OKIwz5RjTP pic.twitter.com/N9T2CbOcsI
— The New York Times (@nytimes) December 7, 2023
No vídeo, é possível ver a congressista republicana Elise Stefanik a colocar repetidamente questões às responsáveis universitárias, mostrando indignação perante as respostas evasivas das mesmas.
“Instar ao genocídio de judeus viola o código de conduta de Penn sobre bullying e assédio?” questionou a congressista, à qual a presidente daquela instituição, Elizabeth Magill, respondeu: “se as palavras se tornarem ações isso pode ser considerado assédio”. Uma resposta que não convence a congressista que, incrédula, questionou: “Que ações? Cometer o ato de genocídio?”.
A mesma pergunta recebeu uma resposta evasiva por parte de Claudine Gay, a presidente de Harvard. “Depende do contexto (…) Se a retórica antissemita passar para o nível de bullying e assédio, aí agimos”, disse, recusando-se a responder no afirmativo quando Stefanik voltou a colocar o exemplo de “instar ao genocídio de judeus”.
Também a presidente do M.I.T, Sally Kornbluth, se recusou a responder de forma afirmativa à questão. “Até ao momento não ouvi gritos de genocídio contra judeus no nosso campus”, disse. Perante a insistência de Stefanik – “já se ouviram apelos a uma Intifada” – Kornbluth retorquiu apenas que ouviu “cânticos que podem ser encarados como antissemitas, dependendo do contexto”.
“Não depende do contexto. A resposta é sim, e é por isso que todas vocês se deviam demitir. Esta respostas são inaceitáveis”, acabou por declarar a congressista, ela própria graduada de Harvard.
O momento aconteceu ao fim de quase cinco horas de audição e rapidamente se tornou viral nas redes sociais, com dezenas de milhões de visualizações desde terça-feira. As declarações das responsáveis universitárias foram inclusive partilhadas pelo governo israelita nas redes sociais.
Perante as críticas e pedidos de demissão, Gay, Magill e Kornbluth – que, nas suas declarações de abertura no início da audição, condenaram diretamente as aparentes manifestações de antissemitismo nos campus universitários – emitiram comunicados a clarificar as suas posições. Uma clarificação que, para muitos, não foi suficiente, e que já levou à abertura de uma investigação formal.
Entretanto a presidente de Harvard, pediu desculpa pelas suas declarações perante o congresso. “Peço desculpa porque as palavras fazem diferença”, afirmou Claudine Gay ao jornal da universidade The Harvard Crimson. Sobretudo, acrescentou, quando as palavras amplificam o sofrimento e a dor, não sei como poderia sentir outra coisa que não arrependimento”.
“Depois das respostas patéticas e moralmente questionáveis que ouvimos por parte das presidentes às minhas questões, o Comité para a Educação e o Trabalho vai lançar oficialmente uma investigação congressional a Penn State, Harvard, M.I.T e outras instituições”, anunciou Stefanik em comunicado.
EUA avançam com medidas contra antissemitismo nas universidades
“É inacreditável ter de dizer isto: apelar ao genocídio é monstruoso e vai contra tudo aquilo que representamos enquanto país”, disse Andrew Bares, porta-voz da Casa Branca.
“Não devia ser difícil condenar o genocídio contra judeus, genocídio contra qualquer grupo”, afirmou o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, o estado onde fica a universidade de Penn State. “Os líderes têm uma responsabilidade de falar e agir com clareza moral. Liz Magill falhou este teste simples”.
Na quarta-feira à tarde, uma petição a pedir o afastamento de Magill do cargo na Penn State já tinha recolhido mais de 3.000 assinaturas. De acordo com o New York Times, durante uma reunião extraordinária realizada por telefone esta quinta-feira, o conselho de administração da faculdade não aprovou um voto no sentido de demitir a responsável, mas instou-a a representar com mais clareza a sua posição e a da faculdade.
Já o conselho superior do M.I.T. saiu em defesa de Kornbluth. Em comunicado, a universidade descreve a presidente como alguém que, “tem feito um excelente trabalho à frente da nossa comunidade, incluindo no que diz respeito a questões relacionadas com antissemitismo, islamofobia e discursos de ódio”.
O rabino David Wolpe, um membro proeminente da comunidade académica que integrou um comité consultivo para instâncias de antissemitismo em Harvard, na sequência dos ataques de 7 de outubro – cargo que veio depois a abandonar – defendeu Claudine Gay, descrevendo-a como uma pessoa “bondosa e inteligente”.
Wolpe considerou, no entanto, que os problemas de antissemitismo em Harvard são estruturais, razão pela qual disse ter abandonado o seu posto no comité já que, diz, este não faz a diferença.