André Ventura continua a recrutar junto de atuais e antigos eleitos do PSD. O Chega não só continua as negociações com António Maló de Abreu — que o próprio vai negando publicamente — como vai contar também com um antigo governante do PSD para liderar um dos distritos. Henrique de Freitas, antigo secretário de Estado da Defesa dos governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, vai ser cabeça de lista do Chega por um círculos dos círculos do Alentejo: Portalegre ou Évora. O antigo deputado e militante do PSD desde 1979 confirma ao Observador que aceitou o convite e que será candidato nas próximas eleições legislativas.

Depois de vários anos no PSD, o ex-deputado que segue nas listas do Chega considera que “a direita tradicional não soube interpretar a nova realidade política“, pelo que decidiu juntar-se a André Ventura por considerar que “não podia dizer não” a uma “coligação de vontades e de mudança”, afirma em declarações ao Observador.

Henrique de Freitas acredita que, no ano em que se festejam 50 anos do 25 de Abril, está “chegada a oportunidade de dar a voz ao povo”.  Por acreditar que “Portugal mudou“, que “a sociedade evoluiu” e que a direita tradicional não soube adaptar-se, viu que o Chega está a reunir “gente afastada da política, gente de vários quadrantes partidários e gente, acima de tudo, de bom senso” e resolveu aceitar o convite “para juntar a experiência à mudança”.

Militante do PSD desde 1979 até 2023, Henrique de Freitas foi deputado durante seis anos e esteve quatro anos no governo do PSD, enquanto secretário de Estado da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, tendo também sido vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, função que abandonou em rutura com a própria direção parlamentar por entender que houve um “o grave erro político” na receção da comissão do Parlamento Europeu que investiga os voos da CIA.

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Mais tarde, em 2009, foi despromovido vários lugares na lista por Lisboa e acabou por desistir de ser candidato e não mais regressou à Assembleia da República.

Henrique de Freitas é um dos nomes que André Ventura referiu que estariam presentes nas listas de candidatos à Assembleia da República com ligações ao PSD. Em conferência de imprensa, o presidente explicou que houve aproximações de deputados ou ex-deputados ligados a outros partidos da direita e que o Chega “chegou à conclusão de que poderia ser uma mais-valia“, pelo que confirmou que estão nas listas “vários nomes ligados ao PSD”, detalhando tratar-se de “atuais e antigos deputados do PSD”.

Garantindo que não é um “ataque à estrutura do PSD e a nenhum partido”, Ventura reiterou que “há vários nomes, sobretudo ligados ao PSD, que estarão na lista do Chega nas próximas eleições legislativas” e e que está em curso um processo de finalização das listas.

Chega ainda conta com Maló de Abreu para as listas

Depois de o Observador ter avançado que o Chega e António Maló de Abreu estão em negociações e de o deputado que se desfiliou do PSD ter referido que “não recebeu nenhum convite”, fonte do partido liderado por André Ventura assegura que, apesar de toda a atenção mediática e das declarações de Maló de Abreu, as conversações continuam com normalidade e que a presença nas listas está praticamente fechada. Além disso, fontes do PSD confirmam ao Observador que já tinham conhecimento da aproximação de Maló ao Chega.

O Observador sabe ainda que, caso não haja nenhum passo atrás de Maló de Abreu — algo de que tem dado sinais nas declarações públicas das últimas horas —, o nome do ex-PSD só deverá ser conhecido mais perto da divulgação oficial das listas, prevista para depois da convenção de Viana do Castelo.

Em público, André Ventura não confirmou nem desmentiu a informação, mas não negou que gostava de contar com a candidatura do ex-PSD. Já Maló Abreu, ao longo do dia, foi acrescentando peças ao puzzle repleto de declarações que fez aos vários órgãos de comunicação. O Observador tentou contactar o ex-PSD, que até ao momento da publicação desta peça continua sem responder.

António Maló de Abreu começou por rejeitar, em declarações à agência Lusa, que a sua saída do PSD tenha qualquer relação “com hipotéticos ou eventuais convites” e negou “qualquer ida para qualquer partido”. E sobre a possibilidade de integrar listas como independente disse apenas que “é um assunto que não se coloca”.

Horas depois, em declarações ao Expresso e à TSF , já dizia claramente que era “mentira” qualquer notícia sobre a negociação de um lugar de deputado pelo Chega e ao Público que “não é verdade” que vá integrar integrar a lista do Chega. De seguida, aos jornalistas no Parlamento, justificou que o partido não o convidou para integrar as listas de candidatos às eleições legislativas.

“O Chega não me fez nenhum convite, ninguém me fez nenhum convite, se não há nenhum convite obviamente não vou integrar lista nenhuma”, afirmou, enquanto esclareceu que “se fizer é outra coisa” e, de forma contrária, que não está disponível para “absolutamente nada”.

Mas foi endurecendo o discurso declaração após declaração e, na CNN, foi mais perentório — “Não espero integrar as listas do Chega e da minha parte há um não rotundo à integração nas listas do Chega” — antes de voltar a sublinhar a ideia de que “para já não há convite nenhum”.

Aos olhos do deputado há uma “tentativa de enlamear” a sua decisão de desfiliação, o que considera uma prova de que fez “bem em sair” do PSD. “Parece-me óbvio que é uma forma de enlamear o meu nome só pode partir de dentro do próprio partido”, acusou Maló de Abreu, referindo que “é a forma de atuarem” e “em política o que parece é”.

“Não é só uma limpeza [nas listas], PSD transformou-se num partido de estrutura, que tenta enganar o eleitorado através de uma coligação para mascarar o resultado eleitoral. PSD vai-se alavancar nas estruturas existentes que são basicamente medíocres e que tentam esconder mediocridade com duas ou três figuras que se prestam a ser rosas na lapela do partido e de um grupo parlamentar medíocre”, aponta o agora deputado não-inscrito.

Notícia atualizada com a informação de que Henrique de Freitas já se filiou no Chega.