O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou esta segunda-feira “profunda preocupação” com a violência durante o fim de semana em Abyei e apelou ao Sudão e Sudão do Sul para que investiguem rapidamente os ataques que mataram 54 pessoas.

“O secretário-geral está profundamente preocupado com a violência que ocorreu durante o fim de semana na Área Administrativa de Abyei, que resultou na morte trágica de numerosos civis e em ataques à Força Provisória de Segurança das Nações Unidas para Abyei (UNISFA), durante os quais dois membros das forças de manutenção da paz perderam a vida no cumprimento do dever”, indicou o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, em comunicado.

De acordo com Dujarric, o líder da ONU condenou ainda a violência e os ataques contra a UNISFA e apelou aos governos do Sudão do Sul e do Sudão para que investiguem rapidamente, com a assistência da UNISFA, os ataques, e “levem os perpetradores à justiça”.

“O secretário-geral lembra a todas as partes que os ataques às forças de manutenção da paz das Nações Unidas podem constituir crimes de guerra“, conclui o comunicado, que endereça ainda condolências ao governo e ao povo do Gana e do Paquistão [países de onde eram provenientes os dois soldados da paz mortos] e às famílias dos civis que perderam a vida nos ataques.

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Pelo menos 52 civis e dois membros das forças de manutenção da paz foram mortos em vários ataques com motivações étnicas durante o fim de semana na região de Abyei.

Abyei, uma zona produtora de petróleo na fronteira disputada entre o Sudão e o Sudão do Sul, palco de confrontos regulares, está sob a proteção da ONU desde a independência do Sudão do Sul.

Dois soldados da paz, um ganês e um paquistanês, também foram mortos, segundo a ONU.

O soldado da paz ganês foi morto no sábado num ataque a uma base da UNISFA em Agok, a cerca de 40 quilómetros a sul de Abyei, levado a cabo “por um grupo armado”. Já o soldado paquistanês foi morto no domingo por “fogo pesado” contra veículos da ONU que transportavam civis feridos para um hospital, comunicou a ONU.

De acordo com a Autoridade Administrativa de Abyei, “jovens armados” do grupo étnico Dinka Twic, do estado vizinho de Warrap, e rebeldes fizeram vários ataques no sábado, nomeadamente contra o mercado de Nyinkuac na cidade de Abyei, a principal cidade da região, bem como nas zonas de Nyinkuac, Majbong e Khadian.

A tribo africana Ngok Dinka também afirmou esta segunda-feira, em comunicado, que homens armados do clã Al Baria atacaram membros do clã com “armas automáticas”.

Os confrontos, normalmente entre os grupos Ngok e Twic, ambos da tribo Dinka, começaram em 2021, quando as autoridades de Abyei tentaram replanificar um mercado local no sul, o que mereceu a oposição dos Twic, que queimaram o mercado e expulsaram os habitantes Ngok da zona.

Este facto deu origem a confrontos na zona entre os dois grupos, que formaram as suas próprias milícias.

Quer Abyei, quer o estado vizinho de Warrap, onde estão baseados os Twic, são regiões administrativa e politicamente autónomas com governos separados.

A região é disputada entre o Sudão do Sul e o Sudão e é atualmente gerida por Juba como um território diretamente dependente da Presidência do Sudão do Sul, até se chegar a uma solução definitiva com Cartum.