A Vila Galé, um dos maiores grupos hoteleiros do país, está a estudar a instalação de equipamentos de dessalinização em três dos seus hotéis no Algarve, em resposta às restrições ao consumo de água na região por causa da seca. De acordo com o presidente do grupo, estes três equipamentos estão a ser equacionados para as unidades de Lagos, Vilamoura e Tavira (Albacora) e o pedido de licenciamento junto das autoridades ambientais deverá avançar em breve.
Jorge Rebelo de Almeida não indicou o valor do investimento, mas sinalizou que é significativo, para além desta solução implicar custos avultados de energia. A água que resulta desta tecnologia apenas poderá ser usada para rega e outros fins que não o consumo humano, especificou o gestor. O objetivo destes projetos é acautelar as necessidades de abastecimento de água nas unidades hoteleiras, em caso de restrição no consumo de água.
Seca: Algarve vai ter cortes de água de 25% na agricultura e de 15% no setor urbano, anuncia Governo
O Governo anunciou um plano para responder à situação prolongada de seca no Algarve, com especial ênfase no Barlavento, que prevê o corte de 15% no uso de água pelo consumo urbano onde se insere o setor hoteleiro. O presidente da Vila Galé sinaliza que é preciso cautela com o impacto destas medidas nos clientes que procuram o Algarve e que podem, por causa destas restrições, preferir outros destinos.
Para além da redução do consumo que chega aos 25% na agricultura, está em marcha o desenvolvimento da primeira unidade dessalinização no Algarve, um projeto público de 50 milhões de euros que será instalado em Albufeira.
O turismo, diz Jorge Rebelo de Almeida, é importante para todos e “se o Algarve parar será um problema sério para todo o país”, afirmou o presidente do grupo hoteleiro. Para o empresário, a dessalinização que agora está a ser desenvolvida no Algarve já está 20 anos atrasada. As declarações do empresário foram realizadas esta segunda-feira num almoço no qual foram apresentados os resultados e projetos da Vila Galé.
Mais de metade do crescimento veio do Brasil. Resultado bruto atinge 100 milhões em 2023
O grupo terminou 2023 com receitas de 275 milhões de euros, um crescimento de mais de 20% face ao ano anterior. Mais de metade deste crescimento veio do Brasil, onde as receitas subiram 42% para 629 milhões de reais (117 milhões de euros), em grande medida devido à abertura de um resort no estado de Alagoas (Nordeste).
O mercado português cresceu 17% para 158 milhões de euros. 2023 foi um ano “excecional” que o presidente da Vila Galé espera que possa repetir-se este ano, apesar da conjuntura internacional, mas sobretudo pela incerteza política. Questionado sobre este tema, Jorge Rebelo de Almeida afirmou que o grupo vai continuar a trabalhar, manifestando o desejo de que os políticos se “entendam, organizem e não atrapalhem”. O empresário alertou ainda para as dificuldades crescentes para realizar obras, apontando na direção dos licenciamentos pelas entidades públicas, mas também por causa do aumento de custos da matéria-prima e mão de obra.
A Vila Galé atingiu um resultado operacional bruto (EBITDA) da ordem dos 100 milhões de euros em 2023, o que representa um acréscimo de 17% face aos 85,5 milhões de euros apurados em 2022.
Para além de Portugal e Brasil, a Vila Galé explora a gestão de um resort em Cuba desde 2023 em Cayo Paredón Grande e vai abrir este ano a primeira unidade em Espanha, em Isla Canela, a poucos quilómetros da fronteira do Algarve. Madrid é um destino que está a ser avaliado, mas que é caro, admitiu o presidente da Vila Galé.
O grupo investiu 47 milhões de euros no ano passado e projeta investir 50 milhões de euros este ano, entre remodelações e novas unidades. Um dos maiores projetos em curso é a instalação de uma unidade no Paço do Curutelo, um castelo de 1126 no concelho de Ponte de Lima que vai representar um investimento de 20 milhões de euros. Este projeto, cuja conclusão está prevista para 2025, insere-se na estratégia que tem vindo a privilegiar a reabilitação de património para criar uma oferta diferenciadora. Na mesma linha, Elvas vai ter mais um hotel da marca a partir da reabilitação das casas da antiga fábrica da ameixa e dos ex-edifícios do Aljube eclesiástico, num projeto avaliado em 10 milhões de euros.
Um dos maiores investimentos do grupo na mesma linha é a recuperação do edifício histórico em Cacheira do Campo, Minas Gerais no Brasil em 1775. O Vila Galé Collection Ouro Preto vai mobilizar um investimento de 120 milhões de reais (22 milhões de euros) e é a primeira unidade do grupo no Brasil que fica no interior (longe do mar). O hotel, com 298 quartos, terá um parque aquático e vai apostar na cultura da vinha e olival, estando a sua abertura prevista para 2025. Ainda no Brasil, está em construção um novo hotel em Cumbuco, no Ceará, e há planos para reabilitar património na cidade de São Luís do Maranhão.
Para este ano, está planeada a reabertura do Grande Hotel da Figueira, que também passou por uma renovação profunda. A Vila Galé vai assegurar a gestão do equipamento, que é propriedade do empresário espanhol Amancio Ortega, fundador da Inditex. Os planos do grupo passam ainda pela Golegã e por Miranda do Douro. Este último foi um projeto que nasceu de um contacto da autarquia e da vontade de ajudar uma região que tenta não desaparecer, mas que, acredita Jorge Rebelo de Almeida, vai acabar por ser também um bom negócio porque tem potencial para atrair a população do outro lado da fronteira, onde estão as cidades de Zamora e Valladolid.