Rita Matias, do Chega, e Fabian Figueiredo, do Bloco de Esquerda, estiveram em debate no programa Tira-Teimas, do Observador, com troca de ataques em temas como a habitação e a banca, mas também com uma troca de argumentos sobre a Palestina, com Rita Matias a assumir que tem uma posição divergente da maioria do partido liderado por André Ventura.
O dirigente do Bloco de Esquerda acusou o Chega de ser um “partido de direita que diz tudo e o seu contrário“, em que “as propostas têm dias” — e deu o exemplo de uma proposta do Bloco de Esquerda para impedir uma nova injeção no Novo Banco e em que, “em 12 horas”, o Chega “votou a favor, contra e absteve-se”.
“Quando chega a hora de defender os donos da economia portuguesa, os fundos imobiliários estrangeiros, os acionistas e as empresas privatizadas o Chega é coerente, em tudo o resto tem dias“, insistiu, sublinhando que tem uma “política titubeante e ziguezagueante” em assuntos como a habitação e a saúde.
Aos olhos de Rita Matias, “é no mínimo irónico” ouvir o Bloco de Esquerda “a falar de especulação imobiliária, mas conhecer o trabalho dos seus ex-vereadores como Ricardo Robles”. Reiterando que “o grande problema da habitação não passa apenas pela aquisição de casas por estrangeiros” e que este se prende “com a falta de oferta” e com “o excesso de burocracia que impede a construção”, a deputada do Chega defende que o Bloco parece fazer uma “mera uma perseguição ideológica”.
[Veja aqui o debate entre o Chega e o Bloco de Esquerda]
Fabian Figueiredo devolveu a acusação para dizer que o Chega se propõe “a reintroduzi os vistos gold e manter benefícios fiscais que promovem especulação imobiliária” e certo de que essas medidas “não baixarão” os preços das casas, pelo contrário, “aumentarão”. “Não é por acaso que os interesses imobiliários apoiam e financiam o Chega porque as suas políticas servem esses fundos imobiliários”, atira.
O bloquista acusou ainda o partido de andar a “esconder o programa” por ainda não o ter apresentado e acrescentou que o Chega quando se trata de “defender pessoas desprotegidas e pobres” ouve-se a “rugir como um leão” e “quando toca a quem realmente tem poder piam mais baixo do que um rato-espigueiro”.
Questionada sobre a medida das pensões mínimas e o seu financiamento, Rita Matias argumentou que a corrupção é combatida com “legislação que aperte a malha e impeça que dinheiro público seja canalizado de forma indevida para quem não deve”, o que levou Fabian Figueiredo a atirar que a questão dos “20 mil milhões de euros é uma espécie de proposta no éter, ninguém sabe, é mero soundbite, funciona no TikTok, no debate e no teste da realidade é mais difícil”.
No bate-boca mais aceso do debate no Observador, que começou o posicionamento dos partidos sobre o taxar dos lucros extraordinários à banca, Rita Matias deu o exemplo de Georgia Meloni, primeira-ministra italiana, e deu espaço a Fabian Figueiredo para atacar: “Sei que conhece bem Meloni, até já lhe plagiou um discurso” — ao que Rita Matias respondeu “não ser verdade”.
Ainda sobre a Palestina, quando confrontada com o facto de, no passado, ter defendido o povo palestiniano em várias circunstâncias e depois de ter criticado as manifestações no rescaldo do ataque do Hamas, Rita Matias esclareceu que tem uma posição diferente da maioria do partido.
“Tenho o privilégio de ter uma voz algo divergente entre aquilo que é a maioria do Chega. Tenho a maior solidariedade com o povo palestiniano, acredito no direito à autodeterminação, condeno aquilo que é uma postura ofensiva do Estado de Israel, mas reconheço que se sairmos à rua dois dias após um atentado praticado por uma força terrorista como o Hamas estamos a branquear o que também é uma força opressora do povo palestiniano, que está entalado entre dois gigantes opressores que lhes retiram liberdade e dignidade, o estado israelita por um lado e as forças terroristas e fundamentalistas por outro.”
Fabian Figueiredo reiterou que “é preciso acabar com o genocídio com o povo palestiniano”, tendo em conta que “o que se está a passar em Gaza é um teatro de horrores” e atacou o Chega, dizendo que “são os partidos que vão a votos e não as opiniões individuais”.