A Junta de Freguesia de Campo de Ourique lamentou esta quinta-feira “a indiferença e desresponsabilização” da Câmara de Lisboa na resposta às queixas das instituições que trabalham na Quinta do Loureiro, onde está a aumentar o tráfico e consumo de droga.
Na passada segunda-feira, os presidente das juntas de freguesia de Campo de Ourique e de Alcântara manifestaram, numa carta aberta, “grande preocupação” com o aumento do consumo e tráfico de droga na zona de onde foram realojados os moradores do antigo Casal Ventoso e pediram medidas urgentes.
Carlos Moedas e Governo pressionados a enfrentar problema de consumo de droga em Alcântara
A carta, a que a agência Lusa teve acesso, foi dirigida ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD); ao ministro da Administração Interna, José Luis Carneiro; à PSP; ao presidente do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD), João Goulão; à responsável do Instituto da Segurança Social, Ana Vasques e ao presidente da Agência para a Integração, Migrações e Asilo, Luís Goes Pinheiro, e é subscrita por vários organismos e organizações ligadas ao problema.
Em resposta, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) garantiu na quarta-feira que tem “reforçado significativamente” os recursos destinados à estratégia para a toxicodependência e afirmou que os atrasos nas tomadas de decisão nesta área “são totalmente imputáveis ao Governo”.
“Durante este último ano, a CML esteve sozinha no apoio às diversas instituições com intervenção no terreno, enquanto o Governo [PS] esteve parado, sublinhamos, durante um ano, enquanto extinguia o SICAD [Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências] e criava o ICAD [Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências]”, afirmou a vereadora dos Direitos Humanos e Sociais, Sofia Athayde (CDS-PP), em resposta a perguntas da agência Lusa.
Esta quinta-feira, a Junta de Freguesia de Campo de Ourique, liderada por Pedro Costa (PS), volta à carga e sublinha que a frase da câmara “tomamos boa nota de que ambos os autarcas do PS se juntam finalmente aos nossos apelos consecutivos” “não pode ser encarada com seriedade“.
A junta afirma, numa resposta publicada na sua página na Internet, que a CML foi, desde novembro de 2021, avisada em mais de 25 comunicações escritas acerca de diversos problemas que afetam aquela zona do Vale de Alcântara.
Segundo a junta de Campo de Ourique, esses avisos passaram pela necessidade de revisitar o tema da rede de Salas de Consumo Assistido (vulgarmente denominadas como “salas de chuto”), a importância de reforçar as equipas de rua para o trabalho junto dos consumidores e recolha de seringas.
Destaca ainda “a necessidade da recuperação da dignidade das instalações da escola do Vale de Alcântara e a importância de garantir um plano de mobilidade escolar para esta população”, a criação de novas centralidades na Quinta do Loureiro, avançando com a construção do pavilhão polidesportivo e garantindo a abertura das lojas.
A Junta de Freguesia Sublinha o risco de incêndio nas encostas sem manutenção e de atropelamento na Avenida de Ceuta, sem plano de mobilidade, a necessidade de investir em novos equipamentos, desde a higiene urbana ao espaço público, assim como “a falta de investimento nas associações que atuam diariamente na Quinta do Loureiro” no apoio aos toxicodependentes.
“E, principalmente, não pode ignorar a autarquia [CML] que é também senhoria das mais de 1.000 pessoas que vivem naqueles bairros, a necessidade de garantir um planeamento urbanístico que quebre barreiras, combata o isolamento e garanta a segurança dos moradores através da abertura à Avenida de Ceuta e ligação à Rua Maria Pia”, escreve a junta na sua página.
Por último, a junta de Campo de Ourique “apela ainda à despolitização deste debate”.
“Ninguém pode estar satisfeito com a realidade que ali encara, pelo que frases como ‘… enquanto o PS se entretinha a extinguir o SICAD e criar o ICAD…’ só podem ser justificadas por uma incompreensível falta de vontade em resolver os problemas da cidade”, concretiza.
Esta quinta-feira, o presidente do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD), João Goulão, em declarações ao jornal Público, critica o “desinvestimento” na luta contra a droga e estranha o silêncio na campanha eleitoral.
“Em julho do ano passado, eu dizia, numa entrevista, que se não fizermos nada urgentemente vamos ter aqui um novo Casal Ventoso. Em julho já a situação era bastante problemática”, declarou ao jornal.