Pedro Nuno Santos não abdica do apelo ao voto útil, seja qual for o adversário que tem pela frente, e voltou a fazê-lo com o PAN. Em discordância em vários temas e de acordo em áreas como o SNS, o líder do PS até aproveitou para dizer que as medidas do partido liderado por Inês Sousa Real “só foram viáveis porque o PS estava no governo” e que haveria um “retrocesso” no combate às alterações climáticas “se a direita ganhasse”. Além disso, colou Sousa Real ao centro-direita por mais do que uma vez.

Logo no arranque do debate, Pedro Nuno Santos, ainda antes do PAN, foi ao PSD para dizer que Luís Montenegro tinha dito a “maior mentira” da campanha eleitoral quando referiu que “o governo do PS tinha feito um corte nas pensões de mil milhões de euros e não fez nenhum corte de pensões”. “Percebo que se queira reconciliar com pensionistas, mas primeiro tem de se reconciliar com verdade”, atirou.

E não foi de palavras simpáticas para Inês Sousa Real, frisando que “não deixa de ser curiosa a ambiguidade do PAN sobre centro-esquerda e centro-direita”. “Nunca percebi o jogo em que PAN está com um pé de um lado e outro do outro”, atirou o líder socialista, trazendo para o debate o acordo que o PAN firmou com o PSD na Madeira e que sustentava o governo de Miguel Albuquerque. Inês Sousa Real ia garantindo, no meio do argumento de Pedro Nuno Santos, que no PAN são “sempre progressistas”, independentemente do lado do espectro político.  E acabou a justificar-se para dizer que a realidade na Madeira e no continente são diferentes, em particular porque “não há touradas” e que esse é um dos “desígnios” do partido.

Uma das discordâncias entre ambos surge no aeroporto, com o PAN a não concordar com a opção Alcochete/Montijo e Sousa Real a realçar a prioridade de Beja, em particular porque tem havido um “subaproveitamento” do local quando se “fala de condições transitórias”. E ainda que não seja “contra uma solução que alivie a carga de Lisboa”, Sousa Real sublinhou que “não pode deixar para trás a aposta na estrutura ferroviária”.

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A ficha colocada na ferrovia deu espaço ao líder do PS para dizer que é “aqui que se joga combate às alterações climáticas” e que “o país ferroviário está em obra por causa de um governo do PS e por causa de mim também“. Mas também recusou estar a abrir uma nova discussão sobre localizações, arrumando o facto de ter avançado para uma solução sem a autorização do primeiro-ministro com um “o mundo avança”, e assegurando que há uma avaliação ambiental estratégica e uma comissão independente que devem ser tidas em conta. “O país não pode perder mais tempo, o que é importante é parar de arrastar os pés e decidir.”

Já no que a projetos com o lítio diz respeito, Inês Sousa Real defendeu a necessidade de “maior transparência” e sublinhou que “tudo poderia não ter sido tão grave” como no caso que levou à queda de António Costa se a proposta do PAN tivesse sido aprovada. O partido pretende que se vá “mais longe” na lei do lóbi e acusa o PS de ter votado contra as propostas do PAN — o que levaria Pedro Nuno Santos a dizer: “Estamos sempre no pára-arranca“.

Nos impostos, mais uma colagem do PAN à direita por parte de Pedro Nuno Santos. Com Inês Sousa Real a falar numa “classe média dizimada” e a defender redução do “IRC para 17%, que abrange as pequenas e médias empresas e não os grandes grupos económicos” e uma “revisão dos escalões de IRS” que considera “fundamental”, o líder do PS acusou a adversária de ter uma proposta para o IRC igual à da direita (“esta é a parte de centro-direita do PAN”) e que “vai ter um impacto limitado porque 40% das empresas não pagam IRC” e garantiu que baixar o IRC como uma “solução milagrosa” não funciona como um “toque de mágica”.

No que toca ao SNS, Pedro Nuno Santos reconhece que há um “muito trabalho” a fazer, nomeadamente com a valorização da grelha salarial e possibilidade de os profissionais de saúde fazerem investigação. Mas foca-se na ideia de que “é muito importante salvar o SNS“. Sousa Real concorda, mas sublinhou que “não é suficiente o que o Governo está a fazer” e que é preciso uma “visão mais alargada” e uma valorização dos profissionais de saúde. E realçou sugeriu ainda “baixar o IVA dos serviços médico veterinários para que as pessoas não tenham que escolher entre comer e dar cuidados de saúde aos animais”.

Questionado sobre a necessidade de apelar ao voto útil mesmo com partidos que podem vir a ser parceiros do PS caso Pedro Nuno Santos vença, o líder do PS explicou que o partido de “mobilizar eleitorado”, mas quis deixar uma porta aberta para a Sousa Real, ao recordar que “grande parte das medidas que o PAN defende só foram viáveis porque o PS estava a governar” e colocando-se ao lado da adversária para dizer que tem “quase a certeza que o PAN não tem dúvidas que haveria um retrocesso no combate às alterações climáticas se direita se unisse, ganhasse e governasse Portugal”.

O diálogo mais revelador

Pedro Nuno Santos: “Não faz sentido estar a antecipar cenários, mas não deixa de ser curioso a ambiguidade do PAN em relação ao centro-esquerda e ao centro-direita.”

Inês Sousa Real: “Não é uma ambiguidade. Somos centro-progressista.”

Pedro Nuno Santos: “Eu não sei bem o que é que isso significa. Porque obviamente, acho que o PAN há-de reconhecer isso, não é a mesma coisa, trabalhar com um partido como o PS, que reconhece a emergência climática e que quer combater a emergência climática e com uma coligação que tem partidos, não só como o PSD, mas como o CDS, o PPM que estão nos antípodas do PAN e por isso não percebo muito bem, nunca consegui perceber este jogo em que o PAN está com um pé num lado e um pé no outros, quando as visões em matéria de clima são opostas entre o PS e a AD.”

Inês Sousa Real: “Não estamos a falar da mesma realidade quer na Madeira, quer continental. No caso particular de uma incidência parlamentar, o PAN faz exatamente o mesmo exercício, estamos comprometidos em fazer avançar as nossas causas. E não nos podemos esquecer que na Madeira não há touradas e em Portugal Continental há, esse é um dos nossos desígnios para a próxima legislatura, é garantirmos que não há nem mais um cêntimo de dinheiros públicos para financiar a tauromaquia. E há que haver um compromisso de quem esteja à frente em condições de formar Governo para que isso não aconteça. Já reconhecemos que a AD que se apresenta a eleições não tem condições e não faz sequer um exercício do século XXI ao trazer como aliados Gonçalo da Câmara Pereira e Nuno Melo.”

Pedro Nuno Santos: “E a IL e provavelmente o Chega.”

Inês Sousa Real: “Para nós o Chega foi sempre uma linha vermelha.”