A atenção é toda tua.” Foi como Paulo Raimundo recebeu Jerónimo de Sousa no Teatro Garcia de Resende, em Évora. O antigo secretário-geral do PCP já tinha marcado presença na campanha da CDU, no Rossio, ficou sentado na primeira fila, mas apenas fez declarações aos jornalistas, sem fazer uma intervenção. Com disciplina, o discurso de Jerónimo ficaria guardado para 6 de março, um dia especial, e o previsto para o antigo secretário-geral quebrar o silêncio.

Atual e antigo secretários-gerais do partido entraram juntos para o comício onde lhes esperava uma sala cheia, de bandeiras erguidas em punho, em Évora, onde o principal objetivo dos comunistas é voltar a conquistar o mandato que fugiu a João Oliveira em 2022. A aposta é Alma Rivera e até a deputada foi tema de conversa entre Jerónimo e Raimundo, que apontou o antigo secretário-geral como o responsável “por meter a Alma na Assembleia“. Em 2022, a CDU elegeu dois deputados por Lisboa, precisamente Jerónimo de Sousa e Alma Rivera.

Jerónimo de Sousa é, sem surpresas, o comunista mais aplaudido no teatro, até mais que Paulo Raimundo. Foi o primeiro a subir ao palco para atirar aos “muitos construtores de cenários e prognósticos” que “vamos ouvir por aí” até 10 de março. Eles que “vão proclamar vencedores e vencidos” e a quem Jerónimo quer “relembrar que o povo ainda não votou e não há vencedores antecipados”.

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No mesmo dia em que Paulo Raimundo começou bem cedo (ainda o sol não tinha nascido nos estaleiros da Lisnave, em Setúbal) a prometer que a CDU seria “a grande surpresa da noite eleitoral“, Jerónimo de Sousa reforçou o apelo a um auditório completamente cheio: “Vamos trocar-lhes as voltas neste tempo que falta. E ainda é muito”, para pedir “mais votos e mais deputados para a CDU”. “Que ninguém fique fora deste combate. Vamos com confiança garantir um grande êxito da CDU a 10 de março”.

Jerónimo escolheu o dia 6 de março para quebrar o silêncio e falar aos militantes comunistas. A data não foi escolhida ao acaso. Dia 6 de março é o dia em que o PCP sopra as velas e comemora 103 anos de história. Um dia que Jerónimo diz ser “muito especial”, não só para os militantes comunistas, mas como os “milhares de portugueses que nos consideram uma força indispensável para a democracia: faz anos o PCP”. O ex-secretário-geral diz que apesar de “uma absorvente batalha eleitoral”, o aniversário do Partido Comunista Português não podia ter passado em branco, até porque “os partidos não são todos iguais. A força que nos une no combate está aí”.

Paulo Raimundo discursou a seguir, num apelo ao voto que em Évora se traduz num apelo a voltar a eleger Alma Rivera “Eleger a Alma, o que não soa bem… afinal até soa, eleger a Alma para defender o distrito”.

PCP sopra as velas e celebra 103 anos de História

A celebração do aniversário do PCP teve outro momento alto: a arruada na Baixa da Banheira. A localidade, na Moita recebeu Paulo Raimundo com centenas de pessoas, fazendo justiça ao que o secretário-geral comunista tem sublinhado “as bandeiras não andam sozinhas”.

O cravo e as bandeiras foram companhia assídua do secretário-geral enquanto descia as ruas da Baixa da Banheira, na Moita. Raimundo furou várias vezes a própria comitiva para ir ao encontro de pessoas, fora de lojas e cafés ou até quando espreitavam pelas janelas. Foi a uma dessas pessoas, a espreitar numa janela do primeiro andar a que atirou um cravo enquanto passava.

Depois discursou e dispensou guião. Raimundo voltou a apelar ao voto “necessário” na CDU, no dia 10 de março. E tal como já tinha feito de manhã, aproveitou os 103 anos do PCP para afastar o fantasma da bipolarização. “Não é a bipolarização entre partido A e o partido B. O que está em jogo é o aumento das reformas e dos salários. O cravo levanta-se sempre.” E enquanto lembrava as medidas tomadas durante a Geringonça, fez um novo desafio ao Partido Socialista. “Aqui fica o desafio, o PS está ou não disponível para acompanhar um choque salarial de alta voltagem?”

Não faltaram críticas ao Partido Socialista no aniversário do Partido Comunista Português. A viagem de Setúbal até à Baixa da Banheira, na Moita, da comitiva da CDU foi feita de comboio, onde falou sobre a falta de motoristas e as greves constantes nos comboios, tudo para traçar uma “grande diferença entre as proclamações e promessas e as concretizações” e a voltar a pedir “mais votos e mais força” para “obrigar o PS a cumprir cada uma das proclamações que está agora a fazer”.

E à saída do comboio, na Baixa da Banheira, Raimundo desvalorizou as vantagens de assinar um acordo escrito com o Partido Socialista para a legislatura. Não é uma “questão de forma”, que o secretário-geral comunista está interessado em discutir. “O que conta é o conteúdo” de um possível entendimento. E lembra as medidas que não estavam no acordo assinado entre Jerónimo de Sousa, António Costa e Catarina Martins: “O passe intermodal e a redução para 40 euros não estava no acordo escrito” tal como os manuais escolares e as creches gratuitas.

Aliás, defende Raimundo, “se nos ficássemos pelo que estava escrito não tínhamos feito tanto” durante a geringonça. Uma visita aos estaleiros da Lisnave, uma arruada “em casa” na Baixa da Banheira, um comício em Évora com o cabeça de cartaz Jerónimo de Sousa. Críticas sublinhadas ao PS. Foi como o PCP soprou as velas e celebrou 103 anos de História.