No dia de reflexão, o Presidente da República falou ao país, dizendo que “ninguém pode substituir ou condicionar o sentido final da vontade popular”. Começou por falar do “longo período eleitoral e pré-eleitoral”, que permitiu “motivar e mobilizar a decisão dos portugueses” e terminou a lançar dois alertas: “os tempos são mesmo muito difíceis — lá fora e, por isso, cá dentro” e, por isso, “baixar os braços é sempre a pior solução”.

Marcelo Rebelo de Sousa apelou este sábado ao voto, defendendo que “um voto desperdiçado nunca é compensado por outro voto mais tarde”. “Só o vosso voto decide, escolhe e só o vosso voto é a palavra final. Não é a vontade de mais ninguém. É a vossa vontade”, acrescentou. Este é o momento, defendeu, “de dar nova vida, em estabilidade e em segurança” ao país.

Num discurso de menos de dez minutos, Marcelo Rebelo de Sousa comparou o contexto que acompanhava as eleições de 2022 e as atuais. “Hoje, as três grandes preocupações são muito semelhantes às de 2022”, começou por dizer. Duas dessas preocupações, “expressas” por todos, passam pela “urgência de acelerar a recuperação da economia” e pelos “efeitos desse compasso de espera provocados pelas guerras na saúde, na habitação e na educação”. “No fundo, aquilo que é decisivo para o arranque da economia, para as condições de vida de todos, especialmente os mais pobres, os mais excluídos, os mais dependentes. Mas, também, para a defesa nacional e para a segurança, e para outras instituições soberanas, como a Justiça.”

Aliás, já em 2022, nas últimas eleições legislativas, o Presidente da República aproveitou o dia de reflexão para apelar ao voto, falando aos portugueses no dia 29 janeiro.

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A terceira preocupação, referiu ainda, é “quase silenciada ou falada a meia voz” e é sobre “o que se passará lá fora”. Recordando a guerra na Ucrânia, o conflito no Médio Oriente e as eleições norte-americanas, Marcelo defendeu ainda que “é nestes instantes que mais importa votar”. “Nestes tempos, baixar os braços é a pior solução.”

Em tempos assim, nos quais as guerras vieram relançar guerras sociais e económicas, que esperaríamos ver ultrapassadas depois da pandemia, é nesses tempos que importa mais votar.”

Marcelo falou ainda para “os muitos que se cansaram, afastaram, desiludiram” e relembrou que, “em 2024, passam 50 anos do 25 de Abril e 49 do primeiro voto direto de todas as mulheres e homens com mais de 18 anos”.

Leia aqui na integra a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa:

“Portugueses,

Terminou ontem um longo período pré-eleitoral e eleitoral, que permitiu Congressos e Convenções, eleição ou confirmação de líderes, apresentação de programas, realização de entrevistas e debates, nacionais, regionais e locais, além de ampla difusão de pessoas e posições, através de clássicos, novos e novíssimos meios de comunicação.

Tudo com o objetivo de motivar e mobilizar a decisão dos Portugueses. Tudo com a certeza de que ninguém – pessoa ou instituição – pode substituir ou sequer condicionar, o sentido final da vontade popular.

Olhando para estes meses, é possível encontrar muitas semelhanças entre o que dominou as eleições de 2022 e o que domina as de 2024.

Em 2022, as preocupações eram três, duas claramente expressas, outra tratada a meia voz. Expressas, eram – uma – a recuperação da economia, depois de dois anos de COVID-19; – a outra – os efeitos dessa recuperação na vida das pessoas, em particular no seu poder de compra e na saúde, que tinha tido de adiar cuidados pela urgência do combate à pandemia.

Não expressa, era aquilo que, então, no meu apelo ao voto, chamei agravamento das tensões internacionais. Por outras palavras, o medo de que a paz falhasse e a guerra ocorresse na Ucrânia.

Hoje, sabemos que a guerra atingiu a Ucrânia e o seu povo, vinte e quatro dias depois das eleições de 2022 e ainda dura, que provocou nova crise económica – sobretudo no galope dos preços –, que outro conflito se agravou no Médio Oriente e que tudo isso travou a desejada recuperação e atingiu severamente a vida das pessoas –, hoje, as três grandes preocupações são muito semelhantes às de 2022.

Duas, expressas. Uma terceira, pensada por todos mas falada por muito poucos.

As duas expressas são – uma – a urgência de acelerar a recuperação da economia, sacrificada pela guerra em 2022, reiniciada em 2023, mas, agora, à espera do que se passe no mundo e na Europa; a outra – os efeitos desse compasso de espera, provocado pelas guerras, na saúde, na habitação, na educação, noutras áreas sociais, para os mais jovens – sobretudo o desemprego – para os menos jovens – sempre a garantia futura das pensões e das reformas.

A preocupação quase silenciada, ou falada a meia voz, mas que acaba por determinar tudo o demais, é: o que se passará lá fora, este ano e nos anos seguintes? Nas eleições americanas, nas eleições europeias, no que significarão para a guerra na Ucrânia, o Médio Oriente, as tensões no Mar Vermelho, a economia mundial e, novamente, a subida de preços e o custo dos juros.

No fundo, aquilo que é decisivo para o arranque da economia, para as condições de vida de todos, especialmente os mais pobres, os mais excluídos, os mais dependentes. Mas, também, para a defesa nacional e para a segurança, e para outras instituições soberanas, como a Justiça.

Em tempos de guerra e de insegurança, olhar também para estas áreas mais expostas ao ambiente vivido e das quais os Portugueses mais esperam certeza e previsibilidade, é muito importante.

Portugueses,

Em tempos assim – nos quais as guerras vieram relançar guerras económicas e sociais, que esperaríamos ultrapassadas pelo fim da pandemia –, é nesses tempos que importa mais votar.

Mesmo para aqueles que, nos últimos meses, não prestaram atenção ao que se passa lá fora, até porque já vivem suficientemente apreensivos com o seu dia a dia cá dentro, é, nestes instantes, que mais importa votar.

Tal como para os muitos que se afastaram, que se cansaram, que se desiludiram, é em momentos mais graves, como estes, que mais importa votar.

Em 2024, passam cinquenta anos do 25 de Abril e quarenta nove do primeiro voto direto de todas as mulheres e homens de mais de dezoito anos em séculos de vida de Portugal.

Fecha-se um ciclo de meio século da nossa História, abre-se outro, com novos desafios, novas exigências, novas ambições, mas sempre com os mesmos valores: Democracia, Liberdade e Igualdade.

Porque os tempos são mesmo muito difíceis – lá fora e, por isso, cá dentro. Porque nesses tempos – baixar os braços é sempre a pior solução.

Porque um voto desperdiçado, quando mais fazia falta, nunca é compensado por outro voto, mais tarde, porque o tempo não pára, e, muito menos, volta para trás.

Porque só o vosso voto decide, só o vosso voto escolhe, só o vosso voto é a palavra final. Não é a vontade de mais ninguém no nosso País, é a vossa vontade, é o vosso voto.

Por tudo isto, e ainda por ser este um momento de dar nova vida, em estabilidade e em segurança, à nossa Liberdade, à nossa Igualdade e à nossa Democracia, apelo ao vosso voto.

A pensar no vosso futuro, no futuro dos vossos filhos e dos vossos netos. A pensar no futuro de Portugal.

Muito boa noite.”