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No Haiti, o poder caiu na rua. Quem são líderes dos gangues que controlam a capital?

Este artigo tem mais de 6 meses

Dois ex-polícias e um rapper lideram grupos armados que controlam a capital, Port-au-Prince. Depois de ter ficado sem Presidente, o Haiti perdeu também o primeiro-ministro e a violência regressou.

epa11209907 A man walks in front of burned vehicles due to violence in Port-au-Prince, Haiti, 09 March 2024. Suspected criminals were killed by the Haitian National Police during an attack on the National Palace on 08 March orchestrated by the 'Vivre Ensemble' coalition of armed gangs, according to local media published on 09 March.  EPA/JOHNSON SABIN
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Gangues têm espalhado a destruição em Port-au-Prince, onde vivem quase um milhão de pessoas

JOHNSON SABIN/EPA

Gangues têm espalhado a destruição em Port-au-Prince, onde vivem quase um milhão de pessoas

JOHNSON SABIN/EPA

Nas últimas semanas, vários gangues provocaram uma onda de violência no Haiti, o país mais pobre das Américas, o que já resultou numa crise política, com a demissão do primeiro-ministro Ariel Henry. Os grupos armados — que cometem assassínios, roubos e espalham a destruição — já controlam 80% da capital, Port-au-Prince.

A vaga de violência, que se regista desde o início do ano, cresceu no final de fevereiro, quando se soube que Henry, que devia ter deixado o poder em 7 de fevereiro, se tinha comprometido a realizar eleições no Haiti apenas em 2025. Depois de muita pressão dos gangues armados, o governante — que se refugiara entretanto em Porto Rico — anunciou esta segunda-feira a demissão do cargo.

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Desta forma, o poder caiu nas ruas da capital. São os gangues que a patrulham, com a intenção de chegarem ao poder pela via da força. Mas quem são os líderes destes grupos?

O mais conhecido dos líderes é Jimmy “Barbecue” Chérizier, um ex-polícia de 47 anos que, na semana passada, alertou para o risco de uma guerra civil e de um genocídio no país caso o primeiro-ministro não se demitisse do cargo. Barbecue é o líder do G9, uma aliança de gangues armados, e gosta de se retratar como alguém que luta pelas pessoas comuns e contra a oligarquia, em defesa dos mais vulneráveis.

Jimmy "Barbecue" Chérizier, 47 anos

Os gangues que fazem parte do G9 têm espalhado o caos no país, impedindo o acesso a bens essenciais, como água ou combustível, lembra a BBC. Os membros destes grupos, grande parte deles armados, têm atacado os camiões que transportam água e alimentos, agravando a escassez que já afetava grande parte da população os do Haiti. A falta de combustível causada pelos bloqueios de estradas fez com que os hospitais enfrentassem sérias dificuldades para manter os geradores a funcionar — aparelhos essenciais para garantir os cuidados de saúde.

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Apesar de negar a autoria moral de crimes graves, o cadastro de Jimmy “Barbecue” Chérizier é, no mínimo, pesado. É acusado de estar por detrás de raptos, violações e assassinatos. Em 2018, foi expulso da polícia por suspeitas de ter participado no ataque a um bairro de lata, no qual centenas de casas foram incendiadas e que terminou com a morte de mais de 70 pessoas. Em 2021 (o ano em que o Presidente do Haiti, Jovenel Moise, foi morto), Barbecue liderou o bloqueio a um terminal de combustível nos arredores da capital, tendo acabado por recuar depois de o primeiro-ministro o ter ameaçado com a intervenção de forças estrangeiras.

Apesar de bastante mediático, Barbecue (que ganhou a alcunha, explicou, por causa da atividade profissional da mãe, que vendia frango assado) não está entre os líderes criminosos que detêm mais poder. Nessa lista figura um jovem de apenas 26 anos, conhecido como Izo.

Izo, de 26 anos

Lidera o gangue Vilaj de Dye – 5 Segonn e é um conhecido rapper dentro das fronteiras do Haiti. Fora de portas, é visto como um criminoso, acusado pelas Nações Unidas de cometer dezenas de crimes, desde violações a sequestros. São os seus homens que controlam as cargas que chegam á baía de Port-au-Prince, o que já lhe permitiu bloquear a ajuda humanitária entregue ao país.

Izo consegue financiar o gangue que lidera através do tráfico ilegal de armas e drogas, a que se dedica há anos. O gangue Vilaj de Dye controla o bairro da capital com o mesmo nome e já tentou estender a domínio territorial a outras regiões do país, nomeadamente à cidade de Mirebalais (cerca de 50 quilómetros a norte de Port-au-Prince), mas sem sucesso. Nos confrontos com a polícia e com a população local, 3o pessoas morreram.

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Guy Philippe é um dos outros líderes que controlam a capital. Tem 56 anos e também já foi polícia, à semelhança de Barbecue. É conhecido por ter liderado o golpe de estado contra o Presidente Bertrand Aristide, em 2004. Em 2016, concorreu ao Senado do Haiti e foi eleito. No entanto, não chegou a tomar posse, uma vez que, antes, foi detido por suspeitas de ter recebido subornos para facilitar a entrada de droga no país. Acabou extraditado para os EUA.

Guy Philippe, de 56 anos

Em novembro, foi repatriado para o Haiti, tendo de imediato iniciado uma campanha nas redes sociais em que pedia a demissão do primeiro-ministro, Ariel Henry. Guy Philippe expressou, entretanto, o seu desejo de se tornar Presidente do Haiti. “[O ex-presidente sul-africano Nelson] Mandela estava na prisão. [O ex-presidente venezuelano] Hugo Chávez estava na prisão. [O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva] Lula estava na prisão… E então, se o meu povo acreditar e confiar em mim, eu serei o líder deles. Depende do meu povo, de ninguém mais”, disse Philippe.

Apesar de recusar qualquer ligação com os gangues, Philippe admite que muitos dos membros desses grupos o apoiam e já prometeu uma amnistia para os líderes desses gangues, caso seja eleito Presidente.

Nos últimos meses, Philippe foi visto em eventos públicos defendidos por membros do BSAP – uma unidade de polícia que vários analistas de segurança dizem que se tornou um grupo paramilitar, que atua em Port-au-Prince, segundo escreve a Reuters.

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