Morreu o poeta Nuno Júdice, este domingo, aos 74 anos. Natural de Portimão, Júdice é um dos mais importantes nomes da poesia contemporânea.
Numa nota de homenagem, o Presidente da República destacou o seu papel “decisivo numa época de transição da poesia portuguesa, entre as tendências experimentais da década de 1960 e o tom mais quotidiano dos anos 80 e seguintes”.
Neste nota, Marcelo Rebelo de Sousa assinala o carácter original do poeta — “não se parecia com nenhum outro” — e recorda os “versos por vezes longos, discursivos, meditativos, o tom tardo-romântico, as interrogações sobre a noção de poema, mais tarde o pendor evocativo, melancólico ou irónico”.
Nuno Júdice foi um dos poetas portugueses mais publicados e traduzidos, tendo a sua obra merecido reconhecimento internacional com vários prémios, dos quais se destaca o Prémio Ibero-Americano Rainha Sofia atribuído em 2013. Em 2018, foi galardoado com o prémio PEN do Clube Galego e em 2021, foi distinguido com o Grande Prémio de Poesia Maria Amália Vaz de Carvalho da Associação Portuguesa de Escritores (APE) pela publicação do livro “Regresso a um cenário campestre”, editado em 2020. Foi finalista do Prémio Europeu de Literatura pela obra “Meditação sobre ruínas” que em 1994 já tinha sido distinguida também pela APE.
Em 2022, foi publicado o volume “50 anos de poesia (1972-2022), que reúne o seu trabalho poético durante meio século.
A editora D. Quixote já lamentou a sua morte.
Para além da obra poética, Nuno Júdice foi professor na Universidade Nova até 2015, tem obra publicada como ensaísta, nomeadamente sobre a literatura portuguesa da Idade Média aos tempos atuais. A sua tese de doutoramento teve como tema o “Espaço do conto no texto medieval”. Também produziu obras de ficção e traduziu e organizou antologias.
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Entre os cargos que ocupou está a liderança do Instituto Camões em França, e o de conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Paris. Foi diretor das revistas literárias Tabacaria (1996 e 2009) e Colóquio de Letras.
Legado de Nuno Júdice passará pelos “milhares de alunos a quem passou o gosto pela poesia”
O diretor-geral do grupo Leya, onde está a editora D. Quixote, Pedro Sobral admitiu a sua tristeza e “um grande choque” com a notícia “porque o Nuno Júdice, além de ser um poeta e ficcionista extraordinário e que marcará a literatura e a cultura portuguesa, era, acima de tudo, um homem extraordinário. Acho que tocou todos os que trabalharam com ele, era um homem muito cordato, gentil, discreto, mas um cavalheiro”, afirmou.
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“De facto, era um prazer estar com ele, uma alegria imensa, por esta forma discreta, algo tímida, mas sempre com a palavra certa e muito ponderado, um saber à volta da literatura. A sua interpretação dos textos que iam àquele júri era absolutamente extraordinária, era um deleite ouvir o Nuno Júdice a fazer a sua interpretação dos originais que vinham ao júri”, frisou. Questionado sobre o legado que Nuno Júdice deixará na cultura portuguesa, o diretor-geral da Leya e atual presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) preferiu evocar a faceta do poeta enquanto professor.
“Acho que o Nuno trouxe uma nova forma de escrever poesia durante todos estes anos. É um legado que certamente ficará, mas não nos podemos esquecer de que o Nuno Júdice foi professor durante muitos anos”, disse, continuando: “Muitas pessoas que nos iam bater à porta eram tocadas por aquilo que o Nuno Júdice ensinou, pelo entusiasmo e pela forma muito comprometida com a poesia em língua portuguesa”. Para Pedro Sobral, o legado de Nuno Júdice passará pelos “milhares de alunos que tocou e a quem passou o gosto pela poesia”, tanto no ensino secundário, como no ensino superior.
“É um género relativamente esquecido e que não tem muitos leitores em Portugal, infelizmente. Se há algo que o Nuno Júdice conseguiu fazer — quer como poeta, quer como professor – foi formar muito a sensibilidade para a leitura da poesia, nomeadamente da poesia em língua portuguesa. Acho que este é o grande legado dele”, concluiu.
Recordar Júdice “sempre na sua infinita delicadeza”
Também o primeiro-ministro António Costa lamentou a morte do poeta Nuno Júdice, que classificou como um dos mais reconhecidos poetas da cultura portuguesa.
“A cultura portuguesa perdeu, com o falecimento de Nuno Júdice, um dos seus mais reconhecidos poetas e conciso romancista. Como me prenunciara a sua mulher, ‘iniciou a sua descida devagarinho em silêncio, como é seu hábito’”, pode ler-se num par de mensagens publicadas na rede social X.
António Costa apresentou as condolências à família e disse que iria recordar Júdice “sempre na sua infinita delicadeza, grato pela sua amizade e camaradagem”.
“Um inestimável contributo para a promoção e projeção da literatura portuguesa”
O PS lamentou a morte do poeta Nuno Júdice, considerando que deu “um inestimável contributo para a promoção e projeção da literatura portuguesa” e deixa uma “vasta obra poética, singular e inovadora nos matizes e na linguagem”.
Em comunicado, o PS destaca que Nuno Júdice, que morreu este domingo aos 74 anos, foi o “poeta português contemporâneo mais reconhecido internacionalmente”, assim como o “mais traduzido e o mais premiado”.
“Foi distinguido com o prestigiado prémio ibero-americano Rainha Sofia e recebeu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, entre muitos outros prémios, distinções e condecorações, nacionais e estrangeiros”, refere-se.
O partido salienta que Nuno Júdice se estreou com o livro “A noção de poema”, editado em 1972, e construiu, desde então, “uma vasta obra poética, singular e inovadora nos matizes e na linguagem, reflexiva e irónica”.
“Nuno Júdice deixa um legado literário e cultural que vai muito além da obra poética. Ensaísta, tradutor, ficcionista, foi também professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, até à sua aposentação em 2015”, sublinha-se.
O PS refere ainda que Nuno Júdice foi diretor da revista “Colóquio”, da fundação Calouste Gulbenkian, e conselheiro cultural da embaixada de Portugal em Paris entre 1997 e 2004.
“Em todas estas funções deixou a sua marca de qualidade e deu um inestimável contributo para a promoção e projeção da literatura portuguesa”, salienta-se.
O PS manifesta “o seu profundo pesar pelo falecimento de Nuno Júdice, prestando-lhe homenagem e transmitindo à sua família, em especial à sua mulher, Manuela Júdice, e aos filhos, Filipe, Joana e André, as mais sentidas condolências”.
O poeta Nuno Júdice morreu no domingo, em Lisboa, aos 74 anos, revelou a editora Dom Quixote à agência Lusa.
“Foi com profundo pesar e sentida consternação que na Leya e principalmente na Dom Quixote tomamos conhecimento da triste notícia do falecimento de Nuno Júdice, hoje, em Lisboa, vítima de doença. Uma notícia que abalou todos os que trabalharam mais de perto com Nuno Júdice mas, com toda a certeza, todos os seus muitos leitores e admiradores. E que sem dúvida deixa mais pobre a literatura e a poesia portuguesas”, pode ler-se no comunicado enviado à Lusa.
Nuno Júdice nasceu em 1949 na Mexilhoeira Grande em Portimão e publicou o seu primeiro livro de poesia em 1972, “A Noção de Poema”.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a “sua obra poética e o trabalho de décadas em diferentes instituições foram um contributo maior para a singularidade, o cosmopolitismo e a projeção da literatura portuguesa”.