As obras na Igreja Matriz de Malhada Sorda, no concelho de Almeida, distrito da Guarda, puseram a descoberto pinturas do século XV, dadas a conhecer esta sexta-feira pela Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro, que está a promover a intervenção.
O coordenador do projeto de restauro, Nelson Neves, da empresa N-Restauros, salienta que é “um tesouro” aquilo que se pode observar nas paredes da Igreja.
“É muito, muito bom!”, disse o responsável, esta tarde, durante abertura da Igreja para que a população pudesse conhecer a descoberta. O especialista considerou ser “um privilégio ter uma oportunidade de ver o que era feito há tanto tempo”.
“Tudo o que aqui está é de boa qualidade, incluindo a técnica e os materiais utilizados”, apontou o especialista.
As pinturas retratam o nascimento de Adão e Eva, um tema que só se encontra representado numa igreja em Espanha, e uma imagem de São Bartolomeu. As pinturas, que serão restauradas ao longo dos próximos meses, estavam escondidas pelo retábulo e um altar lateral.
Depois da arte sacra regressar ao local após as obras de restauro da Igreja, as imagens voltarão a estar escondidas. A intervenção prevê uma solução para que seja possível visualizar as pinturas quando o retábulo regressar ao seu lugar.
As obras na Igreja estão a ser promovidas pela Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro, com o objetivo de recuperar o templo “à sua originalidade, recuperando o traço que ela teve na sua origem, na construção das suas diferentes fases”, explicou à agência Lusa a presidente, Maria Conceição Raposo.
A intervenção global, orçada em cerca de dois milhões de euros, inclui as obras no interior e no exterior, com a recuperação de um muro lateral destruído nas Invasões Francesas e reabilitação da Torre Sineira.
A descoberta das pinturas foi “uma surpresa” no decurso das obras. “Para nós é um privilégio ver aquilo que durante séculos e séculos não foi visto”, salientou a dirigente.
A “vontade” da Fundação é que a Missa de Corpo de Deus em 2025 seja celebrada na Igreja Matriz recuperada.
A realização das obras na Igreja Matriz de Malhada Sorda dá forma ao “sonho do patrono da Fundação e duas mecenas que durante toda a vida juntaram dinheiro para se poder fazer isto”, referiu Maria da Conceição Raposo.
As pinturas foram dadas a conhecer à população esta sexta-feira, dia em que a Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro lançou o Prémio Literário Padre José Júlio Esteves Pinheiro.
Este concurso literário, que terá a primeira edição em 2024, pretende homenagear a personalidade que dá nome ao prémio, incentivar a produção literária e contribuir para a defesa das línguas portuguesas e francesas.
O Prémio é dedicado ao tema da Emigração e possibilita a participação dos portugueses da diáspora com textos em francês. “É uma homenagem ao padre José Júlio, à população de Malhada Sorda, à diáspora e a Almeida” sublinhou a presidente da Fundação.
O historiador José Calado, que colaborou na organização do acervo documental do padre José Júlio Esteves Pinheiro doado à Biblioteca Municipal Maria Natércia Ruivo, em Almeida, com mais de 16 mil obras, realçou que o objetivo do prémio é “dar mérito e destaque à personalidade, mas também voltar a pôr Malhada Sorda no mapa, reconhecendo a importância do interior do país”.
O Prémio conta com a colaboração da Câmara Municipal de Almeida e da Junta de Freguesia de Malhada Sorda.
A Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro foi criada em 2020, pelas irmãs Beatriz Luzia Esteves Pinheiro e Maria Lídia Luzia Pinheiro Gata Limão, para preservar o património histórico e cultural, deixado pelo irmão, padre José Júlio Esteves Pinheiro, e conservação e manutenção de monumentos e edifícios históricos.