Augusto Santos Silva retomou as funções académicas na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, depois de uma pausa de oito anos para exercer funções governativas e a presidência da Assembleia da República, assim como familiares (é avô “a tempo inteiro”). Em entrevista ao Jornal de Notícias, fala dessa transição, mas não deixa de expressar opiniões sobre a situação política: lança o nome de António Costa como o “melhor candidato” possível da esquerda às presidenciais de 2026, embora o ex-primeiro-ministro já tenha rejeitado interesse no cargo.

Para Santos Silva, para que a esquerda esteja “bem” representada nas eleições presidenciais de 2026, é preciso que tenha um “candidato ou candidata forte e único” e, “em teoria, há dois ótimos candidatos”. “Duas pessoas da nossa área que cumprem estas condições a 100% são o engenheiro António Guterres e o doutor António Costa”, disse. Mas como o primeiro ainda será secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2026 (o mandato só termina no final do ano, enquanto as presidenciais são em janeiro), “parece-me evidente qual seria o melhor candidato possível, não só para a área da esquerda democrática, [mas também] para muitos milhões de portugueses”.

As declarações públicas de António Costa parecem, no entanto, fechar a porta à possibilidade de uma candidatura a Belém. Em mais do que uma ocasião, o ex-primeiro-ministro sinalizou que não é essa a sua intenção. “Essas funções presidenciais não fazem o meu estilo, de comentar o que os outros fazem, opinar sobre o que os outros devem fazer. Isso não é bem o meu estilo e a minha forma de estar na política. Podem estar descansados: daqui a dois anos ninguém vai ter de se incomodar a vir votar em mim“, afirmou, por exemplo, no início de março.

Até porque uma das hipóteses que tem estado em cima da mesa é, por outro lado, uma eventual candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu, à qual o socialista não fechou portas.

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Ao Jornal de Notícias, Santos Silva fala ainda sobre a transição da vida política ativa para o ensino. Na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, retomou a atividade enquanto membro do júri de provas académica, assim como a atividade de investigação. Como o regresso já se deu durante o segundo semestre, o socialista só vai retomar em setembro o ensino da disciplina de Sociologia das Organizações, no curso de gestão. Também fala sobre as mudanças a nível familiar: voltou a ser avô “a tempo inteiro” — vai buscar os netos à escola, ajuda com os trabalhos de casa ou leva à natação.

O ex-presidente da Assembleia da República, que não conseguiu ser eleito para o Parlamento nas últimas legislativas pelo círculo de fora da Europa, já tinha avisado que embora deixe a política ativa, vai manter-se ativo civicamente e, questionado sobre a atual situação política, aconselhou o atual Governo a “conter-se”.

“Esta coisa de mudar tudo por razões de fidelidade parasitária não ajuda, pelo contrário prejudica muito, a capacidade e o desempenho profissional da administração pública. Prefiro a continuidade das gestões, designadamente durante os seus mandatos, porque isso reforça o profissionalismo, a autonomia e o prestígio da administração pública do que esta teoria” que diz ser defendida pelo atual Executivo de que se “não tem confiança política” deve mudar as lideranças de organismos públicos “à vontade”.

Volta, também, a criticar que, ao fim de seis meses depois do parágrafo da PGR sobre a investigação a António Costa, o agora ex-primeiro-ministro ainda não tenha sido ouvido, numa “situação que só favoreceu o populismo”. “Não é aceitável que isto continue assim.”