Tânger-Corrêa, cabeça-de-lista do Chega às eleições europeias, alegou ter sido realizada uma cimeira em Lisboa, a 11 de março, com dois “partidos islâmicos proibidos no Bangladesh”, apontando para a existência de um relatório do Serviço de Informações de Segurança (SIS) sobre o evento. “Vá perguntar ao SIS se não é verdade”, respondeu Tânger-Corrêa a Pedro Fidalgo Marques, candidato do PAN, durante um debate frente-a-frente, na Rádio Observador. Mas, até agora, nem o SIS nem o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (CFSIRP) nem o gabinete do primeiro-ministro responderam aos vários pedidos de esclarecimento do Observador a este respeito. Aliás, a única informação que chegou do gabinete de Luís Montenegro foi a de que não iria ser enviada qualquer resposta.

“Mas consegue enviar esse relatório?”, questionou Pedro Fidalgo Marques, no debate de 23 de maio, perante a revelação de Tânger-Corrêa. O candidato do Chega voltou a remeter para o SIS: “Peça ao SIS, que ele dá-lhe.

Líder da comunidade do Bangladesh nega existência de grupos radicais e pede a Tânger Correia provas de suposta cimeira de partido proibido

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A 29 de maio, o Observador quis saber se Luís Montenegro tentou obter esclarecimentos sobre as alegações de Tânger-Corrêa, nomeadamente sobre uma possível fuga de informação do SIS para um candidato às eleições europeias, e se estava a acompanhar a situação. Sem resposta, a 3 de junho foi feita uma nova insistência e esta quarta-feira chegou a informação de que o gabinete não iria responder.

O mesmo aconteceu com o SIS e com o Conselho de Fiscalização do SIRP, que tutela o SIS. Logo a 24 de maio, no dia seguinte a Tânger-Corrêa ter feito essas declarações, o Observador questionou estes serviços para saber se confirmavam as afirmações do candidato do Chega, se o SIS tinha acompanhado a alegada cimeira, o que estaria na origem de uma eventual fuga de informação, caso se confirmasse a sua existência, e se os serviços estavam a tentar apurar os factos a propósito desse encontro em Portugal por parte de representantes de “partidos islâmicos proibidos no Bangladesh”. Mas nem a 24 de maio nem depois de 28 de maio, dia em que foi feito um novo pedido de informações, o CFSIRP ou o SIS enviaram qualquer resposta.

[Já saiu o quarto episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio]

As declarações de Tânger-Corrêa podem ser ouvidas no podcast Frente-a-Frente, disponível aqui, a partir do minuto 17. “No dia 11 de maio, em Lisboa, organizou-se uma cimeira de dois partidos islâmicos do Bangladesh, proibidos no Bangladesh”, disse o candidato do Chega às europeias, definindo os partidos em questão — cujos nomes nunca revela — como “esses tais que querem islamizar a Europa”.

Líder da Comunidade do Bangladesh desconhece qualquer cimeira

Logo depois das declarações de Tânger-Corrêa, o líder da Comunidade Islâmica do Bangladesh em Lisboa, Rana Taslim Uddin, disse ao Observador desconhecer a existência de qualquer cimeira em Lisboa e desafiou o cabeça-de-lista do Chega a apresentar provas de que dois partidos islâmicos proibidos tivessem realizado um encontro na capital portuguesa.

António Tânger-Corrêa (CH) – Pedro Fidalgo Marques (PAN)

“Nós não sabemos nada”, afirmou Rana Taslim Uddin, acrescentando que “não existe em Portugal nenhum grupo radical proibido no Bangladesh”. Ainda nas declarações ao Observador, a principal figura da comunidade muçulmana do Bangladesh em Portugal explicou que existe um movimento islamista chamado Jamaat-e-Islami, “que não é do Bangladesh, mas sim internacional”, e que tem um histórico de proibições. “É uma organização internacional e, no Bangladesh, existe uma secção”, sublinhou Rana Taslim Uddin.

Aliás, em 2013, o Jamaat-e-Islami era já o maior partido no Bangladesh, mas foi proibido de concorrer às eleições legislativas que se realizaram no ano seguinte, uma decisão que foi fundamentada pelo cumprimento de princípios constitucionais.

Este movimento foi criado na década de 1940, na Índia britânica, tendo mais tarde conseguido alargar a sua influência a vários países europeus e, segundo Rana Taslim Uddin, as ramificações que existiam em Inglaterra, França e Itália foram declaradas ilegais há cerca de dez anos. Em Portugal, acrescentou, chegou a existir, também na mesma altura, um grupo com “centenas” de membros, que acabou igualmente por ser proibido pelas autoridades portuguesas.